Mais <i>Oxigênio</i> para o Jota Quest

Grupo pensa no próximo álbum, depois de mergulhar na música negra nos EUA e tocar com uma orquestra

Marco Antonio Barbosa
21/08/2001
Quest, em inglês, quer dizer busca, procura. Não por acaso, foi falando inglês que o grupo Jota Quest buscou sua maior aventura - a excursão que a banda mineira realizou no mês passado nos EUA, a primeira vez em que tocam no exterior (em Nova York e Miami). De quebra, o grupo ainda consagrou-se na volta da América do Norte ao fazer as mais bem-sucedidas apresentações da série de concertos Pão Music, que junta astros da música pop e músicos de uma orquestra sinfônica em shows ao ar livre. Todas essas experiências vão se refletir nas canções que estarão no próximo álbum do grupo. É o que garante o baterista Paulinho Fonseca, que fez com Cliquemusic um balanço do novo oxigênio - com o devido trocadilho com o título do último álbum do grupo - que impulsiona o Jota Quest.

"Nosso próximo disco deve ir mais fundo na black music, que é a nossa raiz. Começamos fazendo este tipo de som e agora vamos retomá-lo com força total, especialmente depois de tudo o que vimos e ouvimos em Nova York", conta Paulinho sobre a influência da turnê americana sobre o futuro trabalho do grupo. O Jota Quest nunca negou a presença da soul e do funk (não apenas norte-americano, mas também os sons blacks brasileiros) em sua música, e aproveitaram a estadia nos States para cair dentro da fonte da música negra. "Conseguimos assistir a vários shows lá, mergulhamos em um universo que a gente nem imaginava. O Rogério (Flausino, vocalista do grupo) acabou compondo muita coisa inspirado no que a gente viu", lembra o baterista. "As músicas novas estão saindo assim, ele chega para mim e mostra alguma coisa, uma letra, eu já emendo uma batida... ainda não tem nada formatado, mas o disco vai seguir por aí." O grupo deve lançar o próximo álbum em fevereiro do ano que vem; as gravações começam em setembro.

Esse "mergulho" na música negra americana se deu no bairro novaiorquino do Village, conforme lembra Paulinho. "Não assistimos a nenhum artista famoso, nenhum grande nome. Mas todos os shows que vimos foram excepcionais. Teve uma noite em que fomos parar em uma casa noturna e pudemos ver um grupo em que todos os membros eram da mesma família - e todos cantavam e tocavam muito, pura soul music... Até que avisaram a eles que estávamos na casa e éramos músicos, e chamaram a gente para dar um canja. Não topamos; ficamos meio intimidados", conta o baterista. Já em Orlando, o grupo pôde ver o show de um grupo chamado Galactic, que impressionou os mineiros com sua mistura de blues, jazz e soul. "Foi uma cacetada. O som era basicamente instrumental, e pudemos perceber a similaridade que a música negra americana tem com ritmos como o samba, por exemplo."

Em solo americano, o Jota Quest fez duas apresentações: uma no Club Casino, em Nova York, dia 19 de julho e outra no Hard Rock Live de Miami, dia 22. Foram shows com perfis bem diferentes. "Em NY tocamos em um lugar fora de Manhattan, no Queens, o berço de gente como o (grupo funk) Chic e o (jazzista) Marcus Miller. Tinha muita gente da colônia brasileira, mas também muitos americanos", diz Paulinho. "Já o show em Miami foi especialmente para um grupo de turistas brasileiros que estava por lá. Mas foi uma honra tocar num lugar onde já se apresentaram Santana e Sting." Em Nova York o público foi de cerca de 800 pessoas; na Flórida, o grupo tocou para mais de 2000 cabeças. "Nosso plano original era tocar também em Boston e Connecticut. Só que ficamos com a agenda muito apertada. Mas queremos voltar para lá antes de lançar o próximo CD", afirma Paulinho.

Do suingue made in USA para a chance única de tocar com uma orquestra, foi sem dúvida um tremendo salto. "É impossível ter uma experiência tão rica quanto essa", fala Paulinho sobre os três shows que o Jota Quest fez dentro do projeto Pão Music. Acompanhados por uma orquestra de 36 músicos, o grupo contou com a cara, a coragem e o feeling para se arriscar na aventura sinfônica. "O incrível é que só tivemos tempo para um ensaio antes de estrear. Não foi simplesmente chegar e tocar com a orquestra e pronto, nosso som mudou completamente", diz Paulinho. Regidos pelo maestro Hamilson Godoy, a orquestra criou arranjos clássicos para hits como Fácil, Tele-fome e O Vento.

"Ficou tudo bem enxuto. Orientamos o maestro sobre o clima que queríamos para cada música e nos inspiramos um pouco no uso que o Led Zeppelin fez de cordas clássicas, nos anos 70. Outro desafio para a gente é que resolvemos transpôr nosso show inteiro - 15 músicas - para o formato. Fomos os únicos participantes a fazer isso", diz Paulinho, lembrando que os astros dos primeiros shows do Pão Music deste ano (Rita Lee e Lulu Santos) tocaram apenas um punhado de canções com a orquestra.

O resultado foi conferido em São Paulo (90 mil pessoas no Parque do Ibirapuera), Fortaleza (150 mil) e Brasília (80 mil espectadores - "isso com uma greve de ônibus que já durava três dias!", lembra Paulinho). "Queríamos também a orquestra no fechamento do Festival Pop Rock (encerrado pelo Jota Quest em Belo Horizonte, no último dia 12), mas não deu para montar tudo a tempo", diz Paulinho. O grupo se despede do projeto - pelo menos este ano - com mais um show orquestral no Rio de Janeiro, dia 21 de outubro.