Mais uma <i>batalha</i> para os irmãos sertanejos

Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano lançam discos ao mesmo tempo, já de olho nas vendas de fim de ano

Marco Antonio Barbosa
10/10/2001
Eles são, incontestavelmente, as duas maiores duplas sertanejas brasileiras nos últimos dez anos. Também são os grandes responsáveis pela urbanização (breguização?!) do gênero, que foi desaguar no sertanejo romântico (breganejo?!). E - por acaso? - ambas as duplas lançam seus novos trabalhos na mesma semana, competindo pela atenção da mídia e (o que é mais importante) pela visibilidade nas prateleiras das lojas de CDs. Chitãozinho & Xororó protagonizam com Zezé Di Camargo & Luciano mais uma batalha - velada, evidentemente - pela supremacia no terreno do sertanejo pop. Com Inseparáveis (Universal), Chitão e o pai de Sandy & Junior ingressam na quarta década (!) de carreira - comemoraram 30 anos de união em 2000 e voltam apostando num som de raiz. Ma non troppo, claro. Já ZDC&L, com o álbum Zezé Di Camargo & Luciano (Sony) reforçam a opção pelo romantismo rasgado, de olho num nicho mais que consolidado.

A coincidência nos lançamentos foi devidamente notada - e minimizada - por Chitãozinho, que concedeu entrevista a Cliquemusic (a dupla Zezé & Luciano não esteve disponível para a imprensa). "Todo mundo lança disco nessa época mesmo, mais para o fim de ano. É natural. Só quisemos adiantar um pouco este ano para não pegar o período de férias", explica José Lima Sobrinho, o Chitão. "Estamos no mesmo segmento do Zezé e do Luciano, mas o sol brilha para todos. Espero encontrá-los bastante por aí, em shows e na TV, divulgando o disco novo também." As duas duplas assim inauguram o tradicionalmente engarrafado trânsito de lançamentos de fim de ano, que junta os medalhões do mercado popular em busca dos mirrados reais do 13º salário. Tanto a Universal quanto a Sony aposta em vendas acima de um milhão de cópias para ambos os álbuns.

Chitãozinho fala sobre o novo álbum da dupla: "É um disco dançante, mais voltado para as coisas e as pessoas do interior. Queremos resgatar o arrasta-pé, botar todo mundo para dançar nos shows ao som do acordeom", afirma. Inseparáveis é o 26º disco da dupla, que sairam em 1970 do interior do Paraná para chegar em 2001 à invejável marca de cerca de 30 milhões de discos vendidos. O álbum chega depois de um hiato de dois anos em termos de lançamento de material inédito. No ano passado, a dupla comemorou os 30 anos de carreira com o álbum Irmãos Coragem - 30 Anos ao Vivo ouvir 30s, e deram um tempo nos discos de carreira. "Já estávamos sentindo a necessidade de um álbum só com inéditas", diz Chitão.

Em seu front, Zezé Di Camargo & Luciano soltam o 12º álbum de uma carreira mais curta (11 anos) do que a de Chitãozinho & Xororó, mas de uma ascenção espantosa: já ultrapassaram os 18 milhões de cópias vendidas. Zezé Di Camargo & Luciano, o álbum, tem mais convergências do que divergências com Inseparáveis. Ambos foram gravados no estúdio Mosh (em São Paulo), trazem o candidato a hitmaker Álvaro Socci nos créditos (ele compôs E Agora? e Vem Ni Mim para C&X e Fala Sério para ZDC&L) e apostam nos jovens descendentes para dar um gás extra ao repertório. Sandy & Junior, filhos de Xororó, contribuíram com Que Amor É Esse no disco de papai & parceiro; já Wanessa Camargo, filha de Zezé, co-escreveu com o pai Menino Cantador e Não Sou o Mesmo Sem Você Por Perto, além de ter participado da composição de Nem Mais uma Dúvida. (Estranho é o fato de a gravadora ter divulgado essas parcerias, quando o encarte do álbum não dá crédito a Wanessa.)

"Faltava um toque mais pop no repertório, por isso a música da Sandy e do Juninho entrou bem no repertório", comenta Chitãozinho, adicionando que é a primeira vez que uma composição da consagrada duplinha é gravada por terceiros. Junior também participou das decisões sobre os arranjos do álbum. Inseparável traz a participação do Roupa Nova (também assinando arranjos) e do Grupo Tradição, vindo do Mato Grosso. Com o Tradição, a dupla gravou Menina Linda, axé de sucesso na voz de Netinho. "Com o Roupa Nova a gente tem uma relação antiga, sempre quisemos trabalhar com eles. Já o Tradição trouxe uma influência da música regional do Centro-Oeste e também do Sul, o balanço deles ficou bom na música", conta Chitãozinho.

Zezé & Luciano preferiram não voar tão alto. O novo álbum não tem participações de peso e prefere confiar no taco certeiro do especialista popular César Augusto, nome certo na seara do sertanejo e do pagode. Assim como no disco de Chitão e Xororó, arranjos de cordas dão as caras em várias faixas (Só Com o Olhar, Meu País). E eles não se esquivam do romantismo desabrido, atingindo ponto culminante com Bella Senza'anima, cantada em italiano por Zezé.

A quem sentir falta do mesmo romantismo no qual ZDC&L apostam tudo, Chitãozinho dá o recado: "O sertanejo pode ser romântico e pop, como nós já provamos. Fizemos um disco mais alegre e dançante, mas há pelo menos seis baladas no repertório. Só estamos nos sintonizando com o universo interiorano, que também está mais animado, mais para a farra do que para o romance." Só falta agora saber quem vai ganhar a batalha na caixa registradora.