Marasmo na última eliminatória do festival

Poucas canções se destacaram numa noite em que até o show de Lenine arrancou bocejos do público

Tom Cardoso
11/09/2000
Não poderia ser mais decepcionante o encerramento da fase eliminatória do Festival da Música Brasileira, que tem sido realizada no Credicard Hall, em São Paulo. Na quarta e última etapa, ocorrida na noite do último sábado, foram poucas as canções que conseguiram fugir da mesmice e empolgar a platéia (e o júri), com destaque para a classificada Brincos, de Amauri Falabella, que, apesar de não ser um primor de letra, contou com uma bela interpretação de Lula Barbosa.

As duas outras canções classificadas, que vão disputar a final no próximo sábado, dia 16, foram Cansaço, de Pedro Castello, e Tempo das Águas, de Valmir Ribeiro de Carvalho, o Bilora. Interpretada pelo próprio autor, Cansaço confirmou uma fórmula que agradou os jurados durante todo o festival – letras quilométricas e inteligentes ("Me cansa o ar, o lar, falar/ Me cansa o ir, o vir, o ouvir...") amparadas por uma arranjo pop/rock.

Como nas noites anteriores, o festival teve o seu momento de constrangimento. A cantora capixaba Claudia Novais, que no texto de apresentação distribuído à imprensa orgulhou-se de já ter dividido os vocais com Marie Fredriksson, da banda sueca Roxette, subiu ao palco para defender No Fundo, música de sua autoria. Não se sabe se houve um problema técnico ou se sua voz estava mesmo no fundo do poço, mas o fato é que o público não conseguiu ouvir uma só sílaba da canção, contentando-se em acompanhar a letra pelo telão. Um vexame.

Até a direção da TV Globo, sempre de olho na audiência, parece ter se equivocado ao escolher o Não tão popular Lenine para fechar o festival. A escolha mais certa teria sido Elba Ramalho (que abriu a noite) ou o grupo Barão Vermelho, que tocou entre a apresentação dos concorrentes. Lenine até que tentou animar um pouco mais a platéia, convidando Elba e Frejat para cantar Domingo no Parque, de Gilberto Gil (segundo lugar no Festival da Record de 1967), mas a falta de ensaio acabou destruindo o clássico do compositor baiano.

Veterano na organização de festivais e consultor geral do evento, Solano Ribeiro não concorda com as críticas que o Festival da Globo vem recebendo. Para ele, a falta de novas experimentações musicais, principalmente a ausência da música eletrônica, é mais do que justificável. "Há mais de uma década que não se faz um festival desse porte. A maioria dos artistas classificados estava com suas canções engavetadas há muito tempo e só agora eles estão tendo oportunidade de aparecer", explica Solano, que, antes do início da quarta eliminatória, apontou sua preferida. "Aposto que Fogueira (de César Nascimento) vai encantar a platéia e o júri. Tem uma mistura muito interessante do regional com música moderna". A canção não se classificou.

As 12 canções finalistas

Tubaína (Fernando Chuí)
Estrela da Manhã (Beto Furquim)
Xi, de Pirituba a Santo André (Rafael Altério)
Eu Só quero Beber Água (Moacyr Luz)
Show (Luiz Tatit)
Morte no Escadão (José Carlos Guerreiro)
Bigamia (Alexandre Lemos e Alfredo Karan)
Necessidade Básica (Nelson Lemos)
Tudo Bem Meu Bem (Ricardo Soares)
Brincos (Amauri Falabella)
Cansaço (Pedro Castello)
Tempo das Águas (Valmir Ribeiro de Carvalho)

Os oito intérpretes finalistas

Ná Ozzetti (Show)
Monica Salmaso (Estrela da Manhã)
Virgínia Rosa (Vão)
Zé Renato (Doida e Distraída)
Denise Reis (Pára-Quedas)
Tianastácia (Morte no Escadão)
Carlinhos do Cavaco (Pra se Juntar a Nós)
Lula Barbosa (Brincos)