Marcelo Bonfá canta ao vivo pela primeira vez

Baterista da Legião Urbana estréia show em São Paulo e reclama de algumas críticas negativas a seu disco de estréia

Rodrigo Faour
21/08/2000
Egresso de uma banda – a Legião Urbana – cujo vocalista tinha status de mito – o falecido Renato Russo –, o baterista Marcelo Bonfá não economizou ousadia: gravou um CD solo, no qual assumiu vários instrumentos e, inclusive, os vocais. Agora, ele parte para uma empreitada não menos difícil: estrear seu show solo. É o que o público poderá conferir nesta quarta-feira, dia 23, no Blen Blen Brasil, no bairro de Pinheiros (SP), às 23h. No repertório, estão músicas do referido CD (O Barco Além do Sol, lançado pela Trama), como Depois da Chuva (de Marcelo com Gian Fabra) e Ouro em Pó (com Fernanda Takai e John, do Pato Fu) e releituras de dois sucessos da antiga banda: Andréa Doria e Angra dos Reis. No show, Bonfá será acompanhado por Fred Nascimento (guitarra), Junior Tostoi (guitarra), Nilo Rafael (teclado), Marcelo Wig (bateria) e o parceiro Gian (baixo).

Bonfá explica que seu disco solo nasceu meio por acaso: ele acabou compondo algumas linhas melódicas e decidiu soltar a voz. Sem saber que rumos tomariam suas composições, quando deu por si, já estava assinando com a Trama – que por sua vez começou a incentivá-lo a fazer shows para promover o álbum. "Nunca tive a pretensão de cantar nem de fazer carreira solo. Mas, uma vez sozinho, toquei as coisas que estava compondo e produzi o disco. Compus tudo no período de um ano e, no seguinte, trabalhei a minha voz. Agora, acabei montando uma banda e, nos ensaios, sinto que estou crescendo a cada dia", conta.

Na verdade, Bonfá ainda está um pouco assustado com o fato de ser agora o foco principal das atenções e não apenas um músico de uma banda. E, além do mais, ter que encarar entrevistas e o próprio público ao vivo em programas de TV. Mas ele se mostra satisfeito. "Optei por seguir os caminhos onde poderia aprender mais. Sei que há uma expectativa pelo fato de vir da Legião. É preciso ter muito autocontrole e autoconfiança, pois bem ou mal tem muita gente com olhos sobre mim", explica ele.

Críticas negativas
No começo, Bonfá achava que estava preparado para receber qualquer tipo de crítica que fizessem ao seu trabalho. Ledo engano. "Analisei e vi que quando lançamos um trabalho não temos mais controle sobre nossa imagem. Cada pessoa que vem te entrevistar ou ouvir o seu disco tem suas expectativas. O que percebi é que os críticos em geral não entendem nada de produção de disco. Percebi que há uma irresponsabilidade muito grande no que eles falam. Às vezes é apenas uma opinião, mas muito irresponsável. Em geral, as críticas negativas caíam para um lado muito pessoal. Mas depois não liguei mais".

Ao mesmo tempo, Bonfá jura que recebeu emails em sua homepage de leitores que adoraram o CD e que compreenderam perfeitamente sua proposta. "Aí, vi que se uma pessoa manda um email como esse é porque tem muitas outras que pensam da mesma forma", acredita.

Nessas críticas, Bonfá achou que quando se referiam à sua "voz pequena" o criticavam de forma pejorativa. Ele também crê que a crítica se chocou um pouco ao perceber que a Legião não era só composta pelo falecido Renato Russo. "A banda era formada por três. De repente, viram que não tinha ali só um macaco tocando bateria", detona. Bonfá acha natural que as pessoas busquem referências ao fazer suas análises, mas rejeita as comparações com o som que fazia na época do antigo grupo. "As músicas deste disco são todas novas. E as fiz em dupla com o Gian (Fabra). Sou um novo artista", diferencia.

Ele assume que está precisando de horas de vôo para se aprimorar no palco, mas não tem medo de desapontar o público com sua mise-en-scéne. Ele chegou até a pensar em ser dirigido, mas desistiu. "Prefiro ir sozinho ao palco para tomar uma direção. Mas minha mulher está sempre comigo. E converso muito também com os músicos e os técnicos de som". Como bem traduziu seu filho, batizando o seu CD de O Barco Além do Sol, Bonfá se sente como se estivesse buscando seu caminho. "Quando meu filho Thiago me sugeriu isso, achei de uma sensibilidade acima da minha. Demorou alguns segundos para cair a ficha, mas depois vi que ele sacou tudo. Realmente, o barco pode ser eu e o sol a minha trajetória como um todo. Estou agora num outro lugar, nem melhor nem pior", encerra.