Marcos Suzano, o baticum com PhD

O percussionista favorito das estrelas da MPB liderou uma usina sonora no palco New Directions, na edição carioca do Free Jazz Festival

Tárik de Souza
22/10/2000
Última atração brasileira do Free Jazz Festival, o percussionista Marcos Suzano abriu a noite de sábado no palco New Directions, no Rio, em meio a uma atmosfera densa, com iluminação na contraluz, a bordo de uma usina sonora que remetia ao Miles Davis pós-Bitches Brew, o disco da virada eletrônica do trompetista da vanguarda do jazz. Assessorado por uma combinação dos sopros de Nilton Rodrigues e Eduardo Neves, que se revezavam respectivamente no trompete e flugelhorn e no sax e flauta, Suzano tinha ainda dois outros percussionistas (Alison e Jovi) que faziam a base contínua, mais a pontuação do baixo elétrico de André Carneiro e os teclados do experiente Fernando Moura. Com este, que trabalhou mais nos efeitos sonoros que na linha melódica, ocorreu o episódio “levanta galera” da noite. Enquanto dialogava num improviso com Suzano (no pandeiro) em Airá (do percussionista Carlos Negreiros), o suporte desarmou e o teclado caiu no chão, mas ele não parou de tocar. “Aí hem, arrebentou!”, gritou alguém da platéia em delírio. “É assim mesmo, você faz mil invenções originais no solo, mas o povo quer circo”, brincou Moura após o encerramento.

No set de Suzano, predominou o repertório de seu último disco solo, Flash lançado este ano. Números como Terra de Ninguém, The Message (onde ele canta em inglês), Baby Dancing, todos com um acento funk/fusion, aí incluído Assalto, um tema de Paulo Moura remodelado. Percussionista preferido das estrelas, ele utilizou tanto o pandeiro de batida seca revertida, sua marca característica, como uma minibateria com vassourinha e caixa de ressonância. O show empolgou e, no bis, Desentope Batucada, Suzano desenrolou na letra manifesto a estética miscigenada do ritmista inaugurada no primeiro disco solo, o conceitual Sambatown. O baticum também tem PhD.