Marcos Valle mais internacional que nunca

Compositor lança três CDs neste ano - um no mercado europeu, outro no Canadá e um no Brasil, ao lado de Roberto Menescal e Wanda Sá - e tem agendadas duas turnês

Rodrigo Faour
02/02/2001

João Donato não é o único bossanovista que decidiu trabalhar feito louco nessa virada de milênio - Marcos Valle também está cheio de compromissos acertados para 2001. Ele vai lançar três CDs, para três mercados distintos, e fazer diversas turnês, acopladas a esses lançamentos. O primeiro dos discos já está inteiramente pronto: Escape será lançado na Europa pelo selo inglês Far Out Recordings, com uma turnê que começa no dia 13 de março, na Dinamarca. Negociações estão em curso para que o álbum também seja lançado no Brasil.

O segundo disco foi gravado ao vivo em Montreal, no Canadá, ao lado do guitarrista Victor Biglione e do grupo do saxofonista local Jean Pierre Zanella, e a princípio só sairá naquele país. O terceiro, somente para o mercado brasileiro, será gravado também ao vivo no começo de março no Rio de Janeiro, ao lado de Roberto Menescal e Wanda Sá.

Dos três projetos, Escape é o único que contém apenas músicas inéditas e é justamente o mais aguardado pela imprensa e pelo público, pois Valle já o vem anunciando há tempos. Trata-se do sucessor do aclamado Nova Bossa Nova (1998) ouvir 30s, que trouxe o cantor de volta ao disco após 12 anos de ausência, e o promoveu no circuito europeu. O DJ Joe Davis, dono da Far Out, foi quem começou a divulgar Marcos na Europa, executando suas músicas em clubes de jazz londrinos.

Para fora
"O disco tem apenas músicas inéditas, cujas letras também foram assinadas por mim. A única exceção é O Índio É o Brasil, uma bossa nova clássica que fiz em parceria com meu irmão, Paulo Sérgio, e o Vinícius Cantuária", anuncia Marcos, que optou por batizar o CD de Escape por ser uma palavra "sonora no mundo inteiro". "Além disso, acho que é uma palavra que tem essa conotação de 'para fora', que subentende um tipo de música diferente", justifica.

Valle acredita que Escape é "um ponto à frente do Nova Bossa Nova". "O meu novo trabalho continua com aquela mistura da bossa com aquele meu lado pop, funkiado, em que há espaço até para baião. Mas este tem muito mais vocal. O outro CD era 60% vocal e 40% instrumental. Esse é 80% vocal", adianta. Entretanto, a cozinha não fica atrás. Para começar, ele escalou Mamão e Alex Malheiros, respectivamente, baterista e baixista do grupo Azymuth. Outro lendário baterista também foi lembrado: Wilson das Neves.

Para reforçar a batucada, Robertinho Silva entrou com sua percussão, baseada em sons extraídos de madeiras. Fechando a banda do disco, há Renato Franco (sax e flauta), Paulinho William (trombone), além de outras eventuais participações de guitarra e bandolim, e do próprio Valle tocando violão e um piano elétrico Fender Rhodes.

Sambas e baião inéditos
Tamanho cuidado com a cozinha para produzir um som suingado se justifica. "Apesar de gostar muito de harmonia, sou vidrado em ritmos, em groove. No teclado, sou muito percussivo, adoro um balanço. Nesse ponto, identifico-me com João Donato", explica Valle, que tem predileção especial por dois dos principais ritmos brasileiros: o samba e o baião. "Para mim o baião é um ritmo tão importante quanto o samba. Quando era garotinho, adorava baião, meus pais tinham discos de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Depois que comecei a estudar piano clássico, aprendi também acordeon, o que me motivou a tocar alguns baiões", diz.

Para o novo disco, Marcos compôs o baião Festeira. "A mulher do Robertinho Silva, a Aleuda, participa dessa faixa fazendo efeitos interessantes com a voz, junto com a Patrícia Alvi, vocalista da minha banda. E o filho deles, Thiago, também está tocando timbales, um som que foge do convencional. Vi que casaria perfeitamente no meu disco", anuncia.

Sambas, ele compôs dois para o álbum: Apaixonada por Você (cantada por Patrícia Alvi) e On Line, cuja letra foi inspirada no interesse de seus filhos, de seis e oito anos, pelo mundo virtual. "Aqui em casa, tenho dois filhos pequenos que começaram a mexer com Internet. E eu, vendo aquilo ali, me passou pela cabeça que muitos romances estão começando via computador. Penso que é uma maneira de fugir da atração física, que muitas vezes é apenas um desejo que depois morre. Já pela Internet, uma coisa eletrônica e aparentemente fria, acontece essa conversa que depois pode resultar em algo bem interessante", analisa.



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