Margareth Menezes, a voz dissonante da Bahia

A musa afropop, que se isolou dos contemporâneos do axé e acabou ficando mais conhecida no exterior que no Brasil, faz show único no Canecão (RJ) ao lado de Cássia Eller, Daúde e Sandra de Sá

Rodrigo Faour
30/10/2000
Margareth Menezes volta a cantar no Rio depois de pelo menos cinco anos de ausência. O show faz parte do projeto Concertos MPBr, que leva ao Canecão na quarta feira, dia 1º, às 19h30, a preços populares, o show em que a cantora recebe como convidadas Cássia Eller, Sandra de Sá e Daúde. Mas por que tantos anos de ausência? Talvez porque a cantora de perfil afropop não tenha se nivelado aos demais artistas baianos de sua geração – ou seja, não abraçou a axé music. Descoberta pelo americano David Byrne no final dos anos 80, Margareth é um dos vários exemplos de artistas brasileiros com mais projeção fora do que dentro do país – há pelo menos uma década, ela faz turnês anuais pela Europa e Estados Unidos e os cinco álbuns que gravou por aqui acabaram tendo mais divulgação no exterior que em seu próprio país. Resultado: há cinco anos, a cantora não consegue negociar seu novo CD com nenhuma gravadora e acabou restringindo suas apresentações ao estado onde nasceu e reside, a Bahia.

"Continuo tentando fazer meu trabalho. Acho que o mercado brasileiro é meio estranho", lamenta Margareth, que de certo no momento tem apenas sua participação no CD (independente) do violonista Luiz Brasil. Deixando os lamentos de lado, ela está bastante animada com o show carioca, que já foi realizado uma única vez, em Salvador, no projeto Caixa Acústica, só de vozes femininas. "É um show bem solto, como foi o outro, porque a gente não teve muito tempo para arquitetar nada de muito elaborado", diz, com seu jeito tímido, que no palco é irreconhecível, pois ela se transforma numa leoa, com um carisma e um vozeirão contagiantes.

O repertório do show é convidativo. Sozinha, Margareth canta clássicos de seu repertório, como Alegria da Cidade e Faraó, além de releituras de Uns (Caetano Veloso), Papagaio do Futuro (Alceu Valença), além da inédita Moderninha (de sua autoria, que fala sobre a língua portuguesa), entre muitas outras. Com Cássia Eller ela ataca de Vaca Profana (outra de Caetano), com Sandra de Sá o antológico funk Olhos Coloridos e com Daúde a esquecida Segura Esse Samba Ogunhê, "uma pérola que resgatei de Oswaldo Nunes". As quatro se reúnem ao final para entoar a canção de Frejat e Cazuza, Todo Amor que Houver Nessa Vida.

Agenda cheia
Margareth não crê que o fato de morar em Salvador dificulte sua penetração na mídia nacional. "Não sei se é isso. O fato é que gosto demais de morar em Salvador. Até por estar próxima dos meus pais. Posso passar temporadas fora, mas só se for por causa do pique de trabalho. Sem turnê, gosto mesmo é de ficar na Bahia", conta ela, enumerando seus compromissos até o Carnaval. "Depois do show no Rio, volto para Bahia e faço dois shows, um deles em Porto Seguro. Em seguida, faço mais três na Itália. Aí, vou começar o trabalho das quartas-feiras na casa de shows Rock in Rio, em Salvador, ensaiando o Bloco dos Mascarados, já para o próximo Carnaval". Ela explica que esse bloco é alternativo e sai na quinta e sábado de Carnaval, no bairro da Barra). O diferencial dos Mascarados é que cada folião cria sua própria fantasia. "Faltava a oportunidade de colocar a criatividade das pessoas para fora", comemora.