Maricenne Costa, a veterana do ecletismo
Cantora que, em 40 anos de carreira, foi da bossa nova ao punk dos Inocentes, leva seu show Como Tem Passado!! ao Centro Cultural São Paulo nas sextas-feiras de setembro, com entrada franca
Nana Vaz de Castro
25/08/2000
Liberdade é um conceito-chave para Maricenne Costa. Com mais de 40 anos de carreira, a cantora já passou por diversas praias musicais. Nos anos 60, se apresentava em casas noturnas paulistanas cantando bossa nova, tendo João Gilberto como fã. Foi também a primeira a gravar Chico Buarque (Marcha para um Dia de Sol, em um disco pela Philips em 1964). Passou uma temporada nos Estados Unidos, onde fez alguns espetáculos e se apresentou em casas noturnas. Na volta, meteu-se com o teatro. Depois de algumas incursões pelas bachianas de Villa-Lobos, gravou um disco independente que juntava Garotos do Subúrbio, do grupo punk Inocentes, Wild Life, insólita parceria entre Tom Zé e Ritchie (!) e Valsa das Três da Manhã, de Paulinho Nogueira e Paulo Vanzolini.
"Sempre fui mesmo muito eclética", diz Maricenne. Desde 1992, o ecletismo ganhou forma de pesquisa musical, encomendada ao historiador José Ramos Tinhorão, que levantou as gravações pioneiras de doze estilos brasileiros, num período que vai de 1902 (data do primeiro registro fonográfico realizado no Brasil, o lundu Isto É Bom, de Xisto Bahia) a 1929. O resultado da pesquisa foi o CD Como Tem Passado!!, lançado no final do ano passado pelo selo CPC-Umes, em que Maricenne canta o primeiro lundu gravado, o primeiro maxixe, o primeiro samba, a primeira marcha, a primeira embolada, a primeira modinha etc.
Rap e embolada
Depois de uma boa acolhida do disco – uma caprichada produção da CPC-Umes, com textos explicativos, letras e até um pequeno glossário – por parte da crítica, Maricenne quer agora divulgar o trabalho principalmente para os jovens. Para isso, apresenta-se nas cinco sextas-feiras de setembro no Centro Cultural São Paulo, com entrada franca, às 13h. "O horário é para os estudantes poderem ir depois da escola", diz ela. Mas por que os estudantes? "Acho que todo o mundo deve conhecer todos os estilos. Não tem funk, axé e rap? Pois tem também modinha, cançoneta, maxixe e lundu. Desses ritmos é que saíram os que estão aí hoje."
Para ilustrar seu ponto, Maricenne faz, no espetáculo, uma metamorfose: uma cançoneta que se transforma em música pop, atual. "A embolada e o rap também têm tudo a ver", exemplifica. No show (que volta no dia 18 de outubro no Crowne Plaza), a paulista é acompanhada por Izaías Bueno (bandolim), Israel Bueno (violão e arranjo), Dudah Lopes (piano), Gerson Araújo (sopros), Heraldo e Luís (percussões).
A cantora atribui o interesse pelo seu trabalho a um momento propício para o resgate histórico. "As pessoas estão querendo saber mais sobre a nossa música do passado. Veja por exemplos o sucesso das minisséries como Chiquinha Gonzaga e agora essa Aquarela do Brasil", afirma, ressaltando que iniciativas como essas enriquecem o cenário musical.
Com uma trajetória tão ampla e sem fronteiras, Maricenne faz questão de enxergar sempre coisas boas e novas acontecendo na música brasileira. "Acho que estamos entrando em uma fase boa, promissora, principalmente em São Paulo, onde tantas coisas interessantes estão acontecendo", diz a fã confessa de Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Cida Moreira, Regina Machado e Kleber Albuquerque, todos músicos paulistas da década de 90.
Apesar de ter gravado músicas que datam do início do século XX, a artista aprecia também o que há de mais moderno na música eletrônica, como o techno. "Mais importante é preservar a liberdade da cultura, sem pensar apenas no mercado. A liberdade do artista é fundamental", garante.
"Sempre fui mesmo muito eclética", diz Maricenne. Desde 1992, o ecletismo ganhou forma de pesquisa musical, encomendada ao historiador José Ramos Tinhorão, que levantou as gravações pioneiras de doze estilos brasileiros, num período que vai de 1902 (data do primeiro registro fonográfico realizado no Brasil, o lundu Isto É Bom, de Xisto Bahia) a 1929. O resultado da pesquisa foi o CD Como Tem Passado!!, lançado no final do ano passado pelo selo CPC-Umes, em que Maricenne canta o primeiro lundu gravado, o primeiro maxixe, o primeiro samba, a primeira marcha, a primeira embolada, a primeira modinha etc.
Rap e embolada
Depois de uma boa acolhida do disco – uma caprichada produção da CPC-Umes, com textos explicativos, letras e até um pequeno glossário – por parte da crítica, Maricenne quer agora divulgar o trabalho principalmente para os jovens. Para isso, apresenta-se nas cinco sextas-feiras de setembro no Centro Cultural São Paulo, com entrada franca, às 13h. "O horário é para os estudantes poderem ir depois da escola", diz ela. Mas por que os estudantes? "Acho que todo o mundo deve conhecer todos os estilos. Não tem funk, axé e rap? Pois tem também modinha, cançoneta, maxixe e lundu. Desses ritmos é que saíram os que estão aí hoje."
Para ilustrar seu ponto, Maricenne faz, no espetáculo, uma metamorfose: uma cançoneta que se transforma em música pop, atual. "A embolada e o rap também têm tudo a ver", exemplifica. No show (que volta no dia 18 de outubro no Crowne Plaza), a paulista é acompanhada por Izaías Bueno (bandolim), Israel Bueno (violão e arranjo), Dudah Lopes (piano), Gerson Araújo (sopros), Heraldo e Luís (percussões).
A cantora atribui o interesse pelo seu trabalho a um momento propício para o resgate histórico. "As pessoas estão querendo saber mais sobre a nossa música do passado. Veja por exemplos o sucesso das minisséries como Chiquinha Gonzaga e agora essa Aquarela do Brasil", afirma, ressaltando que iniciativas como essas enriquecem o cenário musical.
Com uma trajetória tão ampla e sem fronteiras, Maricenne faz questão de enxergar sempre coisas boas e novas acontecendo na música brasileira. "Acho que estamos entrando em uma fase boa, promissora, principalmente em São Paulo, onde tantas coisas interessantes estão acontecendo", diz a fã confessa de Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Cida Moreira, Regina Machado e Kleber Albuquerque, todos músicos paulistas da década de 90.
Apesar de ter gravado músicas que datam do início do século XX, a artista aprecia também o que há de mais moderno na música eletrônica, como o techno. "Mais importante é preservar a liberdade da cultura, sem pensar apenas no mercado. A liberdade do artista é fundamental", garante.