Marina Lima quebra o silêncio com <i>Acústico MTV</i>

Cantora mira o sucesso popular com o novo CD/DVD, que junta hits de carreira e três músicas inéditas

Marco Antonio Barbosa
30/06/2003
Quem tem a impressão de que, neste século que começou há pouco, a arte de Marina Lima anda um tanto arisca, não está de todo errado. "Quero retornar para o povo, voltar a cantar para o povo", afirma a cantora. Esse reencontro bem pode se dar via o Acústico MTV que a moça acaba de lançar, pela gravadora EMI. Disco, especial de TV (exibido pela Music Television há duas semanas) e DVD surgem como a oportunidade que Marina esperava para retornar à ribalta popular - depois da repercussão minguada de Setembro (2001), seu último trabalho, que investia em experimentações eletrônicas.

"O convite para gravar um Acústico me surpreendeu", afirma Marina, que diz ter "levado um susto" ao considerar as possibilidades do formato unplugged. "Pesou também o fato de ser uma sugestão vinda de fora, um formato definido por terceiros (a MTV), algo com o que não estou acostumada. Em toda a minha carreira, sempre segui meus instintos pessoais para saber onde ir." De todo modo, a bem-sucedida chancela do projeto da Music Television seduziu a cantora, que viu a chance de recuperar o terreno perdido na mídia. "É mais uma forma de afirmar de vez pro Brasil que eu estou de volta. Assumir que meu trabalho é popular também", fala Marina.

Gravado em março deste ano, depois de vários adiamentos - o mais grave deles causado pelo fechamento da Abril Music, a última gravadora pela qual a cantora passou - o Acústico mostra a inquietação sonora e as eventuais contradições da Marina Lima safra 2003. "Quando comecei a pensar este disco estava muito envolvida com música eletrônica. Um disco acústico seria a antítese disso", repensa a cantora. Na contramão dos Acústicos entupidos de cordas e participações especiais, Marina preferiu a discrição. Teclados (Fábio Fonseca) e violões (além da própria Marina, há Fernando Vidal e Christiaan Oyens) dão a tônica, adaptando o minimalismo de Setembro à informalidade desplugada. "Eu tinha que fazer com que a pessoa que comprasse o disco por causa dos meus sucessos também se interessasse pela fase atual de minha carreira - que, no momento, procura conciliar canção, melodia, com as influências eletrônicas", analisa a cantora. O escolhido para conjugar essas tendências todas foi o produtor Marcelo Sussekind.

Para tanto, selecionou-se um repertório de hits (Pra Começar, Ainda é Cedo, Grávida, Fullgás, À Francesa), mas sem concessões. "Não é uma revisão completa da minha carreira, nem me sinto no momento certo para uma retrospectiva desse gênero", fala Marina, acrescentando: "Tinha de ter os sucessos, claro, mas todas as músicas tinham que significar algo para mim, soarem atuais." Alguns hits, como Acontecimentos e Me Chama, sugeridos pela própria EMI, não foram aprovados na lista final. "Para mim tão importante quanto os hits foi colocar alguns lados-B, músicas que ficaram meio esquecidas", diz Marina. Virgem e Prestes a Voar são alguns exemplos, entre as 14 faixas do disco/DVD. Me Chama acabou sendo gravada, mas sobrou de bônus para o DVD (junto a Eu Não Sei Dançar e Casa e Jardim). De inédito, há a balada Sugar, a bossinha Arco de Luz e A Não Ser Você.

Na escolha dos convidados especiais para o disco, Marina acabou sem querer resumindo os possíveis rumos para sua criatividade. Martinho da Vila, de um lado (cantando em Arco de Luz) e Fernanda Porto, de outro (voz e sax em Charme do Mundo): tradição emepebística numa ponta e eletrônica brazuca na outra. Pelo meio, o pop-rock de sempre, na figura de Alvin L. (co-autor de A Não Ser Você). "Ouço Martinho desde criança, ele foi um dos primeiros compositores de música brasileira que me chamaram a atenção logo assim que voltei dos EUA, aos 12 anos", relembra a cantora. "Já a Fernanda é um dos grandes talentos da música brasileira atual. Ela está dando um novo formato à eletrônica dentro da MPB."

A cantora aposta no potencial do álbum e na vitoriosa chancela da MTV para recolocar-se no picadeiro pop. "É uma chance para ganhar o público de volta. É um disco feito para o povo. Isso também faz parte de minha ambição como cantora", fala Marina. O tom "para cima" do projeto também deve servir para exorcizar de vez a errática década de 90 - entre 1994 e 2000, Marina afastou-se de palcos e estúdios, num penoso processo de recuperação de uma depressão. A volta, com Setembro, não teve o sucesso esperado. "Havia um certo elitismo, uma sofisticação excessiva, na proposta do disco anterior. Meu próximo trabalho vai seguir naquela linha, mas sem esquecer que sou brasileira, cantando para brasileiros", confirma a cantora. O Acústico MTV vai ganhar os palcos no país, reapresentando Marina a seu público de sempre e também a outro, mais jovem. "Começo a turnê no final de julho, em Belo Horizonte", fala ela, adiantando que deve levar para a estrada o belo cenário usado no especial televisivo, de tom retrô-anos 60.