Maurício Mattar busca o público da MPB

Livre das pressões da indústria fonográfica, o galã-cantor grava disco privilegiando suas próprias composições, e recebe o aval de feras como Milton Nascimento, Luiz Melodia, Geraldo Azevedo e Toquinho

Nana Vaz de Castro
23/10/2000
Uma vez galã, sempre galã. Maurício Mattar, astro de novelas globais que faz milhares de fãs suspirarem em todo o país, quer mudar essa escrita e provar que é mais do que apenas um rostinho bonito. Ele está gravando o sexto disco de sua carreira, inovando completamente o repertório e o tratamento das canções, buscando alcançar um público diferente, mais exigente e sofisticado.

Os discos anteriores de Maurício (quatro pela Sony, um pela Roadrunner Records, sua atual gravadora) tinham forte caráter comercial, privilegiando o repertório romântico. "Tentei acreditar que aquilo seria bom, pois me diziam isso, mas não era uma coisa verdadeira. Eu não tinha liberdade dentro de um mercado muito competitivo. A gravadora queria impor o que era melhor pra ela, e não pra mim. Eu raramente podia gravar minhas próprias músicas", diz o cantor e compositor. "Mesmo assim não me arrependo. Foi um momento da minha vida e carreira."

Agora Mattar resolveu realizar o antigo sonho de gravar um disco autoral, com suas músicas, sem pressões, sem interferências. Ele admite que terá que lutar contra o preconceito – na verdade, "pós-conceito", pois já existe um trabalho anterior, totalmente desconsiderado pelos entusiastas de MPB, que ele pretende atingir. "Quero conquistar um público diferente, que não está acostumado a me ver como cantor e compositor. Não quero ir aos programas do Faustão, Gugu, Hebe, não porque eu tenha algo contra, mas apenas porque as pessoas que eu quero atingir agora não os vêem. Quero ir na TV Cultura, no programa da Marília Gabriela, no Jô...", conta, afirmando não estar nem um pouco preocupado com o número de cópias que serão vendidas do novo disco, que sai em março.

Neste ponto, Maurício tem o apoio do produtor, jornalista e letrista Nelson Motta, que ouviu as faixas já prontas do novo disco em primeira mão, juntamente com a reportagem de CliqueMusic. "É muito melhor atingir 200 pessoas que realmente dêem valor a esse ótimo trabalho do que atingir um milhão que irão consumir e depois esquecer", diz Nelsinho, que mostrou entusiasmo com as faixas que ouviu.

Foto: Lívio Campos
Maurício Mattar e Luiz Melodia | Foto: Lívio Campos
Para tentar vencer a resistência e conquistar novos ouvintes, Maurício cercou-se de gente de tarimba. Convidou os parceiros Geraldo Azevedo e Toquinho para participar do disco, e ainda Luiz Melodia, Moreno Veloso, Max Vianna (filho de Djavan) e Milton Nascimento. A direção musical é de Celia Vaz, que optou por arranjos suaves, sem bateria (apenas percussão, de Sidinho), com músicos como o baixista Jorge Hélder, a flautista e gaitista Áurea Regina, o violonista e guitarrista Zepa e o pianista Marcos Nimrichter. Tudo com muito bom gosto.

Repertório eclético
Apenas duas músicas não são de Maurício: Fuga, um samba-canção pouco conhecido de Lupicínio Rodrigues, e a bela Esquecendo Você, de Tom Jobim. O resto do disco é eclético ("cada faixa tem uma personalidade própria", explica), mas não se encontra nada como miscelâneas eletrônicas, programações, samples e drum’n’bass. Tudo é acústico, simples e singelo, como Todos Nós, faixa que teve Milton Nascimento cantando em dueto com Maurício, e que terá ainda um coro de crianças.

Vem Viver é a parceria com Toquinho, que surpreendentemente responde pela letra da canção, e não pela música. "Mas eu fiz a música pensando no violão do Toquinho, então ela ficou mesmo toquiniana", diz o compositor, feliz com o fato de o parceiro ter colocado voz e violão na faixa.

Moreno Veloso e o baixista Kassin produziram a faixa Tem Que Amar Demais, com vários efeitos produzidos pelo violoncelo de Moreno (que também tocou violão) e pelo som de água corrente – um toque de modernidade. Já Max Vianna – não menos moderno, mas mais convincente – emprestou um sotaque afro a Dom de Ser, outra música assinada e cantada por Mattar, enquanto o xote-reggae Parati conta com a participação sempre inspirada de Luiz Melodia e o samba Babaobá traz o violão do parceiro Geraldo Azevedo.

Se conseguir entrar nos ouvidos mais resistentes, Maurício Mattar promete surpreender muita gente. "O grande barato é criar polêmica", acredita.