Mestre Ambrósio de volta à estrada independente
Grupo recifense não desanima após ser dispensado de gravadora major e arma novos projetos
Mônica Loureiro
23/06/2002
Nascido na efervescência do mangue beat, o Mestre Ambrósio completa dez anos em outubro de 2002. Para quem não lembra, o grupo pernambucano foi um dos primeiros a desbravar o campo independente - o primeiro disco (Mestre Ambrósio ) chegou a vender 50 mil cópias, na base do boca-a-boca. Contratados pela Sony, conseguiram lançar mais dois discos - Fuá na Casa de Cabral (98) e Terceiro Samba (2001).
Há pouco tempo, com a crise geral do mercado fonográfico, o Mestre Ambrósio foi um dos incluídos na lista dos dispensados pelas gravadoras. Mas a versão dos músicos é outra: "Nosso contrato acabou no dia 30 de outubro de 2001 e a gente não estava mais a fim de continuar na gravadora. E eles também não falaram se queriam renovar", afirma Hélder Vasconcelos, um dos integrantes do grupo.
Hélder diz que a gravadora não fez investimento algum após o lançamento dos discos. "Eu não entendo. O mercado, a gente já tinha pronto, a questão era ampliar o nosso público. Por que estaríamos no cast se eles não nos achassem vendáveis? E se não nos achavam vendáveis, por que não fizeram nada para mudar isso? Acho que eles arriscam assim: 'Ah, se por um acaso o grupo estourar, é nosso'", especula.
Interesses de controle
Os números de vendagem alcançados realmente não justificam a estrutura de uma multinacional: "Eles falaram que vendemos entre 30 e 50 mil de cada disco. Ora, levando em conta apenas o intervalo de tempo maior, nós vendemos isso do disco independente", destaca Hélder. O músico vai mais além e joga a hipótese de que o mercado seria fechado não só por referências de sucesso e dinheiro, mas "por uma questão muito mais complicada, além do nosso conhecimento". E é categórico: "Não consigo pensar em uma coisa amena para justificar toda essa situação. Tudo é uma coisa só, dentro do esquema de uma política maior. Há um interesse mais sério, que é o do controle cultural".
Apesar de todos os percalços, tanto Hélder quanto Sérgio Veloso - muito mais conhecido como Siba - fazem questão de dizer que a experiência na Sony foi boa. "Foram ótimos trabalhos, tudo foi feito nas condições que a gente queria", diz Helder. Siba completa: "Não me arrependo nem um pouco da nossa passagem pela gravadora. Mesmo porque foi uma boa experiência para saber o que eu não quero mais".
Projetos individuais
Aos dez anos de carreira, o Mestre Ambrósio passa por um momento especial. Hélder, Siba, Cassiano, 'O' Rocha, Mazinho e Maurício tocam projetos pessoais - este é o motivo pelo qual o grupo não pensa em um disco inédito para agora, "e não por não estarmos ligados a gravadora", frisa Hélder. Ele explica que todos estão passando por uma reciclagem, realizando muitos projetos individuais. "Um grupo com uma diversidade pessoal tão grande só vai enriquecer a banda", confirma Siba, que prepara seu primeiro disco solo.
Hélder, por exemplo, tem o selo Terreiro Discos, que distribui trabalhos de músicos ligados às tradições. "É um mercado muito interessante, já temos 45 discos no catálogo", explica. Hélder, que pretende montar um espetáculo ainda este ano, também está à frente do grupo de bumba-meu-boi Boi Marinho. E é ele que está encarregado das comemorações de aniversário em outubro, mas despista:" Estamos articulando ainda como vamos marcar a data". Siba dá mais dicas: "Não sei se vai ser um DVD, ou disco ao vivo... Estamos procurando parceiros".
Outro que trabalha com grupo tradicional - este mais ligado ao maracatu - é 'O' Rocha, com o Olho da Rua. "Ele e Mazinho estão produzindo discos; o mais recente é o da paulista Renata Rosa. E Maurício tem se dedicado a um projeto de música e dança com crianças carentes", detalha Hélder.
Siba faz disco solo com músicos da Zona da Mata
Um dos vocalistas e rabequeiro do Mestre Ambrósio, Siba está gravando seu primeiro disco solo, Fuloresta do Samba. "É um antigo projeto, eu estava apenas esperando uma oportunidade para realizá-lo", diz ele. Totalmente autoral, o CD será basicamente de músicas da Zona da Mata pernambucana. "Vou explorar mais a ciranda e o maracatu de baque solto, com muita percussão, voz e metais. Desta vez, a rabeca não será o carro-chefe", avisa.
Fuloresta do Samba está sendo gravado ao vivo no interior de Pernambuco. Siba justifica o formato: "Estou trabalhando com músicos profissionais de terreiro, de festa, que não têm tarimba de estúdio. Além disso, quero aproveitar também o calor de se tocar ao vivo. Se precisar, a gente refaz alguma coisa, mas a essência básica será ao vivo".
Para tocar com o projeto, Siba está em Recife desde janeiro - e pelo jeito, não volta mais a São Paulo, onde morou por cinco anos. "Minha ligação com o maracatu é fundamental, prefiro ficar por aqui e ir a São Paulo apenas em função do Mestre Ambrósio", decide. O disco de Siba tem a produção de Beto Villares (o mesmo de "Terceiro samba") e conta com parceiros antigos e outros recrutados agora. "Estou com um grupo curioso. Tem desde jovens estudantes nos sopros até um músico de 88 anos na percussão", diz.
O disco tem 14 faixas, todas compostas pelo próprio Siba, exceto uma de domínio público, uma valsa antiga e uma ciranda tradicional. "Vale do Jucá, Bringa e Tempo são algumas de minha autoria", cita. A previsão de lançamento é para agosto, mas uma coisa é certa: será um disco independente. "A distribuição será pelo Terreiro Discos. Eu não acredito mais em gravadora, que tem uma atuação padronizada e por isso não sabe lidar com um trabalho diferente", afirma.
Há pouco tempo, com a crise geral do mercado fonográfico, o Mestre Ambrósio foi um dos incluídos na lista dos dispensados pelas gravadoras. Mas a versão dos músicos é outra: "Nosso contrato acabou no dia 30 de outubro de 2001 e a gente não estava mais a fim de continuar na gravadora. E eles também não falaram se queriam renovar", afirma Hélder Vasconcelos, um dos integrantes do grupo.
Hélder diz que a gravadora não fez investimento algum após o lançamento dos discos. "Eu não entendo. O mercado, a gente já tinha pronto, a questão era ampliar o nosso público. Por que estaríamos no cast se eles não nos achassem vendáveis? E se não nos achavam vendáveis, por que não fizeram nada para mudar isso? Acho que eles arriscam assim: 'Ah, se por um acaso o grupo estourar, é nosso'", especula.
Interesses de controle
Os números de vendagem alcançados realmente não justificam a estrutura de uma multinacional: "Eles falaram que vendemos entre 30 e 50 mil de cada disco. Ora, levando em conta apenas o intervalo de tempo maior, nós vendemos isso do disco independente", destaca Hélder. O músico vai mais além e joga a hipótese de que o mercado seria fechado não só por referências de sucesso e dinheiro, mas "por uma questão muito mais complicada, além do nosso conhecimento". E é categórico: "Não consigo pensar em uma coisa amena para justificar toda essa situação. Tudo é uma coisa só, dentro do esquema de uma política maior. Há um interesse mais sério, que é o do controle cultural".
Apesar de todos os percalços, tanto Hélder quanto Sérgio Veloso - muito mais conhecido como Siba - fazem questão de dizer que a experiência na Sony foi boa. "Foram ótimos trabalhos, tudo foi feito nas condições que a gente queria", diz Helder. Siba completa: "Não me arrependo nem um pouco da nossa passagem pela gravadora. Mesmo porque foi uma boa experiência para saber o que eu não quero mais".
Projetos individuais
Aos dez anos de carreira, o Mestre Ambrósio passa por um momento especial. Hélder, Siba, Cassiano, 'O' Rocha, Mazinho e Maurício tocam projetos pessoais - este é o motivo pelo qual o grupo não pensa em um disco inédito para agora, "e não por não estarmos ligados a gravadora", frisa Hélder. Ele explica que todos estão passando por uma reciclagem, realizando muitos projetos individuais. "Um grupo com uma diversidade pessoal tão grande só vai enriquecer a banda", confirma Siba, que prepara seu primeiro disco solo.
Hélder, por exemplo, tem o selo Terreiro Discos, que distribui trabalhos de músicos ligados às tradições. "É um mercado muito interessante, já temos 45 discos no catálogo", explica. Hélder, que pretende montar um espetáculo ainda este ano, também está à frente do grupo de bumba-meu-boi Boi Marinho. E é ele que está encarregado das comemorações de aniversário em outubro, mas despista:" Estamos articulando ainda como vamos marcar a data". Siba dá mais dicas: "Não sei se vai ser um DVD, ou disco ao vivo... Estamos procurando parceiros".
Outro que trabalha com grupo tradicional - este mais ligado ao maracatu - é 'O' Rocha, com o Olho da Rua. "Ele e Mazinho estão produzindo discos; o mais recente é o da paulista Renata Rosa. E Maurício tem se dedicado a um projeto de música e dança com crianças carentes", detalha Hélder.
Siba faz disco solo com músicos da Zona da Mata
Um dos vocalistas e rabequeiro do Mestre Ambrósio, Siba está gravando seu primeiro disco solo, Fuloresta do Samba. "É um antigo projeto, eu estava apenas esperando uma oportunidade para realizá-lo", diz ele. Totalmente autoral, o CD será basicamente de músicas da Zona da Mata pernambucana. "Vou explorar mais a ciranda e o maracatu de baque solto, com muita percussão, voz e metais. Desta vez, a rabeca não será o carro-chefe", avisa.
Fuloresta do Samba está sendo gravado ao vivo no interior de Pernambuco. Siba justifica o formato: "Estou trabalhando com músicos profissionais de terreiro, de festa, que não têm tarimba de estúdio. Além disso, quero aproveitar também o calor de se tocar ao vivo. Se precisar, a gente refaz alguma coisa, mas a essência básica será ao vivo".
Para tocar com o projeto, Siba está em Recife desde janeiro - e pelo jeito, não volta mais a São Paulo, onde morou por cinco anos. "Minha ligação com o maracatu é fundamental, prefiro ficar por aqui e ir a São Paulo apenas em função do Mestre Ambrósio", decide. O disco de Siba tem a produção de Beto Villares (o mesmo de "Terceiro samba") e conta com parceiros antigos e outros recrutados agora. "Estou com um grupo curioso. Tem desde jovens estudantes nos sopros até um músico de 88 anos na percussão", diz.
O disco tem 14 faixas, todas compostas pelo próprio Siba, exceto uma de domínio público, uma valsa antiga e uma ciranda tradicional. "Vale do Jucá, Bringa e Tempo são algumas de minha autoria", cita. A previsão de lançamento é para agosto, mas uma coisa é certa: será um disco independente. "A distribuição será pelo Terreiro Discos. Eu não acredito mais em gravadora, que tem uma atuação padronizada e por isso não sabe lidar com um trabalho diferente", afirma.