Moacir Santos ganha tributo

CD duplo recupera arranjos originais do cultuado instrumentista

Marco Antonio Barbosa
28/05/2001
Não precisa se desculpar se você não sabe quem é Moacir Santos. Muita gente desconhece (ou simplesmente esqueceu) a existência e a obra deste arranjador e compositor, considerado por críticos e pesquisadores musicais como um dos mais inovadores talentos da história da MPB. Não haverá mais desculpa, no entanto, a partir de agora: acaba de ser lançado o álbum duplo Ouro Negro, produzido pelos músicos Zé Nogueira e Mário Adnet. No CD (lançado pelo selo MP,B e patrocinado pela Petrobras), a dupla de instrumentistas resgata com requinte a musicalidade de Santos - que hoje, aos 75 anos, vive em Los Angeles há mais de três décadas.

Na verdade, o "segredo" em torno de Moacir Santos não é tão secreto assim. O arranjador, nascido em Pernambuco, é tido como uma verdadeira enciclopédia no restrito círculo dos cultores da música instrumental brasileira. Quem afirma isso sem hesitar são nomes insuspeitos como João Donato, Dori Caymmi, Paulo Moura e Sérgio Mendes, entre outros. O falecido às brasileiro do violão, Baden Powell, foi aluno de Moacir - e por Baden foi reverenciado no seu Samba da Benção ("A bênção, Moacir Santos, tu que não és um só, és tantos")ouvir 30s.

Em Ouro Negro, o saxofonista Zé Nogueira e o violonista Mário Adnet cercaram-se de um dream team para recriar, com bastante respeito aos arranjos originais, 28 dos temas instrumentais do arranjador. Além do esmero na parte musical, letras (escritas por Nei Lopes) foram acrescidas a alguns dos números originalmente instrumentais. É onde entram as vozes de um belíssimo time: Milton Nascimento, Ed Motta, Djavan, Gilberto Gil e João Bosco, entre outros, participam das novas versões.

O ponto alto do disco são as recriações para as faixas do disco Coisas,amostras de 30s de 1965, a mais famosa obra de Moacir - considerado hoje um clássico absoluto do instrumental brasileiro, que gerou sua música mais conhecida: Nanã (Coisa nº4)amostras de 30s, presente em Ouro Negro na versão instrumental. As influências vindas da África (audíveis em Kamba, original de 1975) e sua porção nordestina (clara em Jequié e Maracatu) também integram o espectro sonoro do álbum duplo.

O próprio Moacir supervisionou as gravações produzidas por Adnet e Nogueira. O trabalho em Ouro Negro é a adição mais recente a um currículo invejável. De família pobre do interior, Moacir alcançou status como arranjador da Rádio Nacional, nos 50, enquanto estudava regência e harmonia com o maestro Guerra-Peixe. Nos anos 60, assinou a trilha sonora de diversos filmes do Cinema Novo (Seara Vermelha, Ganga Zumba, Os Fuzis). Depois de se radicar nos EUA, em 1967, gravou álbuns para o renomado selo de jazz Blue Note, fez trilhas sonoras para Hollywood e colaborou com Sérgio Mendes.