Mopho: psicodelismo de Alagoas para o mundo

Sensação brasileira do rock retrô entra no Top 35 de rádio universitária californiana mas não consegue gravar o seu segundo disco no Brasil

Alex Menotti
09/05/2001
Parece incrível, mas uma das mais festejadas bandas de rock brasileiro da atualidade, a alagoana Mopho, não consegue gravar seu segundo disco. O grupo, que faz um rock "regressivo", com fortes tintas psicodélicas, lançou ano passado, pelo selo paulistano Baratos Afins, o seu arrebatador CD de estréia (o epônimo Mopho amostras de 30s), que arrancou elogios de gente como o ex-mutante Arnaldo Baptista e o maestro tropicalista Rogério Duprat, além dos integrantes da banda californiana Wondermints (que acompanhou recentemente em turnê o eterno beach boy Brian Wilson). Pois o Mopho está com o segundo trabalho já composto, mas não consegue entrar em estúdio.

"Quando estivemos em São Paulo no final do ano passado, conversamos com o Luis Calanca (dono da Baratos) sobre a possibilidade de gravar esse disco em março deste ano", conta o vocalista e guitarrista João Paulo. "Trabalhamos os três primeiros meses de 2001 em cima do disco novo. Ele está pronto, composto, mas a gente não tem previsão de quando vai entrar em estúdio. Isso depende da verba. A banda está no vermelho, deve ainda o estúdio do primeiro CD", revela. "Nossa intenção era lançar o disco até o meio do ano, mas até agora não aconteceu. Tomara que algo de surpreendente acontece para que o disco saia nesse prazo", diz, esperançoso, o baixista Júnior Bocão.

Além das dificuldades em registrar as novas composições, o grupo passou por mudanças em sua formação. O tecladista Leonardo saiu, dando lugar a Marcelo Mascaro (guitarra/violão). Segundo a banda, a troca de integrantes surtiu efeito positivo. "O clima interno melhorou bastante", diz João. "Quando isso acontece, é uma tendência natural a música também caminhar nessa direção. Em termos de som, eu diria que os arranjos estão mais enxutos. Acabamos, até de maneira inconsciente, readquirindo nossa antiga forma de tocar, quando não usávamos tecladista. O som não é mais encharcado com sintetizadores."

O baterista Hélio Pisca emenda: "Na verdade a gente não quer ficar sem teclado na banda. A gente só não conseguiu encontrar ainda outro tecladista." João complementa: "Até porque precisamos de som de piano, órgão… as novas músicas não vêm com aquela carga enorme de teclado, mas a gente raciocina, na hora de compor, para teclado também."

Flerte com o folk
Quem viu as apresentações do grupo no Abril Pro Rock 2001 (em Recife e São Paulo), nas quais a banda aproveitou para estrear as novidades, pôde notar, em canções como Hoje Eu Lembrei do Seu Sorriso e Mais um Dia, que o flerte com a música folk se acentuou, mas sem deixar de lado a psicodelia pop característica dos rapazes, como na novíssima O Amor É Feito de Plástico. "Precisávamos dessa consciência de reestruturar certas coisas no nosso som, porque o teclado preenchia muito os espaços. Acho que retomamos algumas influências dos anos 60 que não apareceram tanto no primeio disco, como Byrds, por exemplo", avalia o vocalista.

João Paulo aproveita para indicar outras mudanças no som do Mopho: "Esse segundo disco reflete bem o que a banda se propõe agora. Estamos com a idéia de fazer um disco em formato de LP, mais curto, com 35, 40 minutos. Acho que, às vezes, tem muita música nos CDs, isso cansa um pouco. As letras estão um pouco mais objetivas, usando uma linguagem bem mais clara."

Se a linguagem está mais "clara", há pelo menos um ponto "obscuro" na trajetória do Mopho. Por que uma banda que lançou um disco elogiadíssimo, repleto de faixas com potencial para o sucesso imediato (Não Mande Flores, A Carta e Nada Vai Mudar, para citar só algumas), não toca nas rádios? João Paulo é incisivo. "Não toca porque as rádios não querem, porque existe jabá. A gente sabe que existe. Se o artista der sorte de estar numa gravadora grande e não for muito lesado pelos cortes e imposições, ele consegue tocar em programas de grande audiência, aumenta sua agenda e logo, logo aparece na banheira do Gugu (risos)."

Sucesso na Califórnia
Mas se as rádios brasileiras estão surdas para a lisergia dos alagoanos, o mesmo não acontece em outros países. Recentemente, o álbum do Mopho entrou em 29º lugar no Top 35 de uma college radio californiana, a KALX, de Berkeley. "Nosso disco chegou nessa rádio pelas mãos do Snoopy (ex-baterista da antológica banda psicodélica Love), que o recebeu quando esteve no Brasil, em 1999", conta João. "Depois ele entregou o disco para a banda Wondermints, que passou nosso contato para o pessoal lá de Berkeley. Fora isso, o CD foi bem recebido em outros lugares. Ele foi para a Europa e todo mundo que ouviu falou muito bem dele", diz. Com toda essa abertura no exterior e as dificuldades por aqui, a banda pretende fazer shows fora do Brasil? "Não recebemos nenhum convite ainda, mas seria lindo", sonha João.