Morre Itamar Assumpção, aos 53 anos
Compositor símbolo da vanguarda paulista faleceu vitima de câncer, em São Paulo, e deixa uma obra única na MPB
Marco Antonio Barbosa
13/06/2003
Depois de uma batalha de mais de quatro anos contra um câncer no intestino, morreu
na noite de ontem (quinta, dia 12) o compositor e cantor Itamar Assumpção. O Nego
Dito, um dos grandes nomes da vanguarda paulista, tinha 53 anos e faleceu em
casa, acompanhado apenas pela esposa. Itamar vinha se tratando no Hospital do Câncer
de São Paulo mas nos últimos tempos tinha abdicado de submeter-se à quimioterapia
por estar, segundo amigos próximos, fraco demais. O corpo do compositor foi
enterrado na tarde de hoje no cemitério Jardim das Colinas, na cidade de São Bernardo
do Campo (ABC Paulista).
A doença vinha minando a carreira de Itamar desde 1999, ano da primeira crise grave de saúde do compositor. No ano anterior, Assumpção tinha lançado aquele que seria seu último disco, Pretobrás - Por que eu não Pensei Nisso Antes...
, pela Atração
Discos. Em setembro de 2000, submeteu-se à primeira cirurgia para tentar eliminar o
tumor intestinal, que, aparentemente, tinha dado resultado. Apesar da batalha contra o
câncer, o compositor não ficou inativo. Preparava o segundo volume da série
Pretobrás, em parceria com Naná Vasconcellos (que seria uma trilogia), e tinha
planos de lançar seu primeiro livro.
Taxado muitas vezes de "maldito" e incompreendido por aqueles que buscavam categorizações fáceis para sua música, Francisco José Itamar de Assumpção nasceu em Tietê (SP), no dia 13 de setembro de 1949. Acabou formando o núcleo da hoje famigerada vanguarda paulista ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Vânia Bastos e grupos como o Rumo e Premê. Baseado, como os outros citados, no Teatro Lira Paulistana, no começo dos anos 80, Itamar construiu uma obra interessantissima e que desafiava rótulos. Não se encaixava na MPB tradicional, por atirar no mesmo saco samba, elementos pop e influências da black music e da música africana. Também não era encarado como "poeta sério", por suas letras irreverentes, recheadas de irônicas observações sobre o cotidiano urbano. Adicione a isso arranjos complexos e cheios de referências e citações polirrítimicas, e tem-se uma música rica em conteúdo, mas de difícil acepção comercial. Entretanto, "maldito" era uma pecha que o cantor não fazia questão alguma de envergar.
Para complicar mais, Itamar manteve-se (nem sempre por vontade própria, diga-se) no mercado independente, numa época em que ser indie era estar relegado ao abandono da mídia. A trilogia de álbuns que inaugurou sua carreira solo nos anos 80 (Beleléu, Leléu, Eu
, gravado em 1980 com a Banda Isca de Polícia; Às
Próprias Custas S/A, ao vivo de 1983 e Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar
Assim, de 1986) saiu pela gravadora paulistana Baratos Afins, para deleite dos
poucos que conseguiram ouvir os vinis na época. Ao assinar com a gravadora
Continental em 1988, intitulou ironicamente sua estréia em um grande selo como
Intercontinental! ! Quem Diria! Era Só o que Faltava...
.
Enquanto a vanguarda paulista virava história, Itamar não se domesticava. Apenas assumia facetas menos iconoclastas. Conseguiu lançar três volumes da série Bicho de Sete Cabeças (em dois volumes: I
e II
, gravada com o grupo vocal feminino Orquídeas do Brasil, e
reecontrava a tradição (mas com olhar crítico) ao regravar a obra de Ataulfo Alves em
Pra Sempre Agora
(1996). Seu último momento de glória foi justamente ao
recuperar-se da cirurgia que fez em 2000, quando foi o convidado de honra de um show
em sua homenagem que reuniu boa parte de seus contemporâneos (Arrigo, Ná Ozzetti,
Tetê Espindola) e alguns artistas influenciados por sua música (Cássia Eller, Zelia
Duncan, Chico Cesar), no Sesc Pompéia (SP).
A doença vinha minando a carreira de Itamar desde 1999, ano da primeira crise grave de saúde do compositor. No ano anterior, Assumpção tinha lançado aquele que seria seu último disco, Pretobrás - Por que eu não Pensei Nisso Antes...

Taxado muitas vezes de "maldito" e incompreendido por aqueles que buscavam categorizações fáceis para sua música, Francisco José Itamar de Assumpção nasceu em Tietê (SP), no dia 13 de setembro de 1949. Acabou formando o núcleo da hoje famigerada vanguarda paulista ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Vânia Bastos e grupos como o Rumo e Premê. Baseado, como os outros citados, no Teatro Lira Paulistana, no começo dos anos 80, Itamar construiu uma obra interessantissima e que desafiava rótulos. Não se encaixava na MPB tradicional, por atirar no mesmo saco samba, elementos pop e influências da black music e da música africana. Também não era encarado como "poeta sério", por suas letras irreverentes, recheadas de irônicas observações sobre o cotidiano urbano. Adicione a isso arranjos complexos e cheios de referências e citações polirrítimicas, e tem-se uma música rica em conteúdo, mas de difícil acepção comercial. Entretanto, "maldito" era uma pecha que o cantor não fazia questão alguma de envergar.
Para complicar mais, Itamar manteve-se (nem sempre por vontade própria, diga-se) no mercado independente, numa época em que ser indie era estar relegado ao abandono da mídia. A trilogia de álbuns que inaugurou sua carreira solo nos anos 80 (Beleléu, Leléu, Eu


Enquanto a vanguarda paulista virava história, Itamar não se domesticava. Apenas assumia facetas menos iconoclastas. Conseguiu lançar três volumes da série Bicho de Sete Cabeças (em dois volumes: I


