MP3 na China é lei

Governo chinês prepara site de músicas para download. O que no ocidente pode ser pirataria, lá é disseminação de cultura apoiada por decreto.

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30/04/2000
Enquanto o capitalismo discute alternativas para evitar a pirataria desencadeada a partir do formato MP3, a China prepara um site oficial, apoiado pelo governo, só para download de música.

Na China – e em outros poucos países socialistas -, a Internet não é tratada como no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em quase todo o mundo. De acordo com o governo, a rede mundial de computadores é mais uma ameaça à soberania nacional do que uma fonte de informação, entretenimento, cultura e pesquisa.

Lá, Internet é para poucos. A navegação é restrita e as idéias e notícias ocidentais quase nunca são bem vistas, por “entrarem em atrito direto com as ideologias nacionais”. Praticamente não existe acesso Internet a 100% das páginas, mas sim apenas às páginas ou servidores permitidos pelo Ministério da Cultura.

A depender do ponto de vista, a troca de músicas no formato MP3 pode significar pirataria. Neste caso, como pode haver um site oficial sobre o assunto em um país como a China?

A questão fica mais clara após as notas oficiais do governo chinês e da Houston InterWeb Design, uma empresa americana de criação para a Web. As duas partes, e mais uma empresa chinesa de investimento, estão criando o primeiro portal de MP3 tipo exportação.

O nome do portal será Beijing Artists Online, o BAO, com sede mesmo em Pequim. O interessante é que a primeira versão do site irá ao ar em língua inglesa, para só então a versão em chinês entrar em cena, após alguns meses. O endereço ainda não está disponível.

Segundo a Houston InterWeb Design, a prioridade à língua inglesa deve-se ao objetivo primário do BAO, que é disponibilizar músicas legalizadas pelo governo chinês, referentes aos últimos 500 anos na história musical da China.

Todas as músicas para download não poderão ser classificadas como cópias ilegais, pois serão concedidas pelos próprios artistas e gravadoras e com o aval do governo. Não é pouca coisa.

Outro ponto positivo é que artistas independentes, sem gravadora, poderão usar o BAO para divulgar seu trabalho e ganhar por isso. Para cada download, o artista receberá uma quantia fixa e poderá, inclusive, participar dos anúncios vinculados aos banners.

Milhares de artistas chineses não têm como publicar seu trabalho, seja em pintura, música ou texto. No BAO, todos eles poderão ter suas músicas disponíveis em MP3 e assim muita gente desconhecida achará abrigo.

Ideologias à parte, a iniciativa é um grande passo. A cultura musical chinesa é praticamente desconhecida no ocidente, e quem já teve a oportunidade de ouvir, pode garantir: as canções são belíssimas. Não chega a ser uma nova revolução cultural, mas poderá ter um efeito bastante interessante.