MP3.com e gravadoras se acertam

Acordo é um marco na indústria do disco. Mas o site vai agüentar o tranco?

Vicente Tardin
13/06/2000
Na semana passada, o MP3.com, site de grande audiência especializado em download de músicas, chegou a um acordo com as gravadoras Warner Music Group, da Time Warner Inc., e BMG Entertainment, unidade da Bertelsmann AG.

Foi a seqüência do processo movido pelas cinco grandes gravadoras, que discordavam do serviço MyMP3, uma atração criada pelo site. O MyMP3 permite a criação de listas de músicas personalizadas, ouvidas mediante senha. As gravadoras acharam que deveriam ser pagas por isso e ganharam a causa na justiça.

A conta para o MP3.com pode ficar salgada demais. Serão entre 15 e 25 milhões de dólares para cada gravadora, segundo executivos próximos às negociações, informou a Reuters.

Como o site também está negociando com a Sony, a Universal e a EMI, o valor total pode chegar a US$ 100 milhões. É sem dúvida uma vitória para as gravadoras, que assim evitam o crescimento de uma ameaça e ainda vão poder explorar a internet e faturar em direitos autorais.

Por sua vez, o presidente da MP3.com, Robin Richards, fez declarações tranqüilas no sentido de que o acordo é o preço para o crescimento de seus lucros. Mas segundo analistas, o problema não está exatamente no valor da compensação, mas na obrigação do site pagar também às gravadoras por cada streaming. Esta é a opinião de Nitsan Hargil, do banco de investimentos Kaufman Brothers, ouvido pela Reuters.

Para ele, o modelo atual, baseado em assinaturas, ou mesmo um modelo de propaganda não teria a capacidade de compensar os custos. Já as gravadoras obtiveram o melhor acordo possível e uma nova fonte de renda, além de controlar o conteúdo. A visão do especialista aparentemente não é a mesma dos investidores, pois as ações do MP3.com subiram de valor em conseqüência.

Outro detalhe é que o site ainda tem que enfrentar editoras e compositores, que também detêm direitos de autoria. Ainda que tudo se resolva, não é claro que a empresa, mesmo capitalizada, será capaz de tornar seu serviço lucrativo, a menos que cobre preços altos.

Mas seu presidente acredita que vai dar tudo certo e que o público vai pagar satisfeito, principalmente porque a oferta vai se estender além da internet, chegando a celulares, PDAs, rádios de carro por satélite e outros futurismos. Richards espera recuperar este valor através da venda de publicidade e de CDs, muito mais do que pelas assinaturas. Warner e BMG deverão vender gravações através do site.

O acordo é um marco para o futuro da distribuição digital de música. O MP3.com até agora executou sua tática de avançar o sinal primeiro e negociar depois. Agora entra na fase dois. Toda a indústria está de olho na negociação, que pode dar o tom para futuros acordos envolvendo empresas de internet e o catálogo das gravadoras. Fica a dúvida: o preço a ser pago por streaming vai se transformar em um enorme prejuízo?