MP3.com paga aos gratuitos, mas passa a cobrar também

Artistas independentes agora terão que pagar taxa mensal de 20 dólares para terem seus trabalhos disponíveis para download

Vicente Tardin
20/03/2001
Pobre de quem tem um site sobre música com foco em artistas independentes. E pobre dos artistas independentes que pensaram que o mundo grátis da internet poderia gerar vendas a partir de divulgação também gratuita.

Explicando melhor – a empresa pontocom americana MP3.com, pioneira na divulgação do trabalho de artistas independentes, começou no ano passado a remunerar os artistas cujas músicas eram mais baixadas pelo público. Excelente iniciativa, considerando que assim o artista sem gravadora poderia faturar algum, enquanto o site ganhava pela audiência obtida.

Mas agora os tempos são mais difíceis e não basta uma boa audiência para tornar um negócio de internet viável economicamente. As receitas de publicidade são insuficientes; é preciso encontrar outras formas de faturamento. A MP3.com possui várias frentes neste sentido, como a assinatura para ouvir músicas por streaming (o serviço My.MP3.com, já comentado aqui) e mesmo o streaming para lojas e empresas, onde concorre nos Estados Unidos com fornecedores mais tradicionais, como a tradicional Muzak.

Há uma grande demanda por serviços de distribuição de música gratuita, mesmo a de artistas menos conhecidos. O que parece difícil de acontecer é a capacidade de transformar esta demanda em um negócio que dê algum lucro.

Na sexta-feira passada a MP3.com anunciou que o sistema Payback for Playback seria reformulado. A empresa vai prosseguir remunerando os artistas com base nas taxas de download, mas passa a cobrar US$ 19,95 por mês para manter disponíveis as músicas dos independentes.

Sim, há artistas que faturam bastante pelo sistema, como é o caso da banda 303Infinity, que no ano passado recebeu mais de US$ 165 mil. Porém a maioria dos artistas não ganha o suficiente para pagar a taxa de manutenção. Muitos deverão se afastar.

É compreensível a atitude da empresa, que batalha para atingir o equilíbrio financeiro ainda este ano. Custa dinheiro monitorar todos os downloads dos artistas gratuitos e administrar uma planilha de pagamentos cobrindo tantas canções. O site mantém a promessa de distribuir cerca de US$ 1 milhão por mês aos artistas mais procurados, mas está pedindo alguma coisa em troca.

A taxa mensal de quase vinte dólares muda muita coisa. Traz mais receita para o site e expõe muito melhor os que aceitarem pagar. Também descarta os mais duros, realidade bastante comum entre artistas independentes. E, mais do que isso, é sintomática no sentido de que a ordem econômica normal, digamos assim, começa a imperar na internet.

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