Ná Ozzetti em tempo de samba-canção
Cantora que foi eleita melhor intérprete do Festival da Música Brasileira aproveita o disco que ganhou de prêmio para reler célebres canções dos anos 40 e 50
Carlos Calado
02/05/2001
É muito provável que você não se lembre mais dos nomes dos vencedores do insólito Festival da Música Brasileira, promovido pela Rede Globo, no ano passado. Diferentemente dos consagrados festivais dos anos 60 e 70, aquele evento não resultou em canções que se tornaram sucessos, nem chegou a descobrir novos intérpretes. Em meio a tantas nulidades, o festival da Globo vai deixar como saldo ao menos um produto de qualidade. Eleita melhor intérprete do evento, a cantora Ná Ozzetti recebeu como prêmio a produção de um disco pela gravadora Som Livre, que tem lançamento previsto para o próximo dia 20.
Segundo a intérprete paulista, revelada no final dos anos 70 como vocalista do grupo Rumo, esse álbum foi tratado desde o início como um projeto especial, em vez de um disco de carreira. "O Hélio Costa Manso, da Som Livre, me disse que Show (música do companheiro de Rumo Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri que ela defendeu no Festival) o lembrava daqueles sambas-canções dos anos 50, uma fase muito fértil da música brasileira. Ele sugeriu fazermos um projeto que retomasse a música daquela época", conta a cantora. "Achei maravilhoso. No ato me vieram à cabeça muitas músicas daquela época de que eu sempre gostei. Aceitei o projeto na hora".
Dias depois Ná já tinha iniciado a pesquisa do repertório, contando com o apoio de funcionários da gravadora e de alguns amigos que colecionam discos de música brasileira. A cantora partiu de uma lista inicial de 150 canções, originalmente compostas nos anos 40 e 50. Duas delas (Caminhemos e Segredo, de Herivelto Martins), sugeridas pessoalmente por João Araújo, presidente da Som Livre, ficaram entre as escolhidas. "Acabei pegando também algumas músicas de outras épocas com traços de samba-canção, que poderiam dar um bom equilíbrio ao disco e que sempre tive vontade de interpretar", justifica a cantora, citando Último Desejo, de Noel Rosa, Adeus Batucada, de Sinval Silva e Linda Flor (Ai, Ioiô), de Henrique Vogeler, Luís Peixoto e Marques Porto.
Os arranjos do álbum foram escritos pelo violonista e compositor Dante Ozzetti, irmão da intérprete, que já a acompanhou em outros trabalhos. Apenas duas faixas, Segredo e Linda Flor, contaram com arranjos do também violonista e compositor Ulisses Rocha. Entre as 14 faixas que entraram no disco também aparece Show, a canção do festival que empresta seu título ao disco. Em vez do arranjo orquestral ouvido na TV, essa canção ganhou uma versão mais despojada. Os violões de Swami Jr. e Kiko Moura mais a percussão de Caíto Marcondes serviram de base aos arranjos, que em algumas faixas destacam participações de instrumentistas como Toninho Ferragutti (acordeon), Marta Ozzetti (flauta), JotaGê Alves (clarinete) e Fábio Tagliaferri (violoncelo).
Banho de ânimo
"Eu já tinha ouvido muitas dessas canções nas versões originais, mas ficar escutando esse material durante dois meses me deu um banho de ânimo. Foi muito estimulante ter contato com muito do que foi produzido na música brasileira daquela época. Grande parte das gravações trazia arranjos do Radamés Gnattali para orquestra, com uma variedade de timbres muito grande. Eu sempre me liguei muito em arranjos", conta Ná, ressaltando que a possibilidade de passar esse tempo em contato com os estilos de vários intérpretes dos anos 40 e 50 foi muito enriquecedora para as gravações. "Acabei me soltando mais como intérprete", reconhece a cantora.
A canção mais recente do disco é As Praias Desertas, da fase pré-bossa nova de Tom Jobim. "Ela foi lançada naquele disco da Elizeth Cardoso, Canção do Amor Demais
, que já tinha o João Gilberto tocando Chega de Saudade, em 1958. O pessoal da Som Livre pediu que eu não entrasse na bossa nova, mas eu tinha muita vontade de gravar alguma coisa do Tom Jobim", justifica a cantora. O repertório inclui ainda João Valentão (de Dorival Caymmi), Não Me Culpes (Dolores Duran) e Meu Mundo Caiu (Maysa). "Grande parte dessas músicas é bem conhecida, mas não me preocupei com esse detalhe. O que me interessou mais foi o conteúdo de cada uma delas", afirma a cantora.
Até a semana passada, Ná ainda não tinha certeza se conseguiria estrear o show simultaneamente à chegada do disco nas lojas. "Só agora, que já tenho a possibilidade de conseguir algumas datas em teatros, é que vou começar a pensar nisso. Eu adoraria fazer o show junto com o lançamento", diz a cantora, que pretende contar com os mesmos músicos que a acompanharam nas gravações.
Segundo a intérprete paulista, revelada no final dos anos 70 como vocalista do grupo Rumo, esse álbum foi tratado desde o início como um projeto especial, em vez de um disco de carreira. "O Hélio Costa Manso, da Som Livre, me disse que Show (música do companheiro de Rumo Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri que ela defendeu no Festival) o lembrava daqueles sambas-canções dos anos 50, uma fase muito fértil da música brasileira. Ele sugeriu fazermos um projeto que retomasse a música daquela época", conta a cantora. "Achei maravilhoso. No ato me vieram à cabeça muitas músicas daquela época de que eu sempre gostei. Aceitei o projeto na hora".
Dias depois Ná já tinha iniciado a pesquisa do repertório, contando com o apoio de funcionários da gravadora e de alguns amigos que colecionam discos de música brasileira. A cantora partiu de uma lista inicial de 150 canções, originalmente compostas nos anos 40 e 50. Duas delas (Caminhemos e Segredo, de Herivelto Martins), sugeridas pessoalmente por João Araújo, presidente da Som Livre, ficaram entre as escolhidas. "Acabei pegando também algumas músicas de outras épocas com traços de samba-canção, que poderiam dar um bom equilíbrio ao disco e que sempre tive vontade de interpretar", justifica a cantora, citando Último Desejo, de Noel Rosa, Adeus Batucada, de Sinval Silva e Linda Flor (Ai, Ioiô), de Henrique Vogeler, Luís Peixoto e Marques Porto.
Os arranjos do álbum foram escritos pelo violonista e compositor Dante Ozzetti, irmão da intérprete, que já a acompanhou em outros trabalhos. Apenas duas faixas, Segredo e Linda Flor, contaram com arranjos do também violonista e compositor Ulisses Rocha. Entre as 14 faixas que entraram no disco também aparece Show, a canção do festival que empresta seu título ao disco. Em vez do arranjo orquestral ouvido na TV, essa canção ganhou uma versão mais despojada. Os violões de Swami Jr. e Kiko Moura mais a percussão de Caíto Marcondes serviram de base aos arranjos, que em algumas faixas destacam participações de instrumentistas como Toninho Ferragutti (acordeon), Marta Ozzetti (flauta), JotaGê Alves (clarinete) e Fábio Tagliaferri (violoncelo).
Banho de ânimo
"Eu já tinha ouvido muitas dessas canções nas versões originais, mas ficar escutando esse material durante dois meses me deu um banho de ânimo. Foi muito estimulante ter contato com muito do que foi produzido na música brasileira daquela época. Grande parte das gravações trazia arranjos do Radamés Gnattali para orquestra, com uma variedade de timbres muito grande. Eu sempre me liguei muito em arranjos", conta Ná, ressaltando que a possibilidade de passar esse tempo em contato com os estilos de vários intérpretes dos anos 40 e 50 foi muito enriquecedora para as gravações. "Acabei me soltando mais como intérprete", reconhece a cantora.
A canção mais recente do disco é As Praias Desertas, da fase pré-bossa nova de Tom Jobim. "Ela foi lançada naquele disco da Elizeth Cardoso, Canção do Amor Demais
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Até a semana passada, Ná ainda não tinha certeza se conseguiria estrear o show simultaneamente à chegada do disco nas lojas. "Só agora, que já tenho a possibilidade de conseguir algumas datas em teatros, é que vou começar a pensar nisso. Eu adoraria fazer o show junto com o lançamento", diz a cantora, que pretende contar com os mesmos músicos que a acompanharam nas gravações.