Nada de novo no front dos Engenheiros

Seguindo programação auto-imposta, a banda de Humberto Gessinger lança seu terceiro disco ao vivo, com sucessos registrados no palco em meio a novas faixas de estúdio

Silvio Essinger
07/06/2000
Quem for atrás dos Engenheiros do Hawaii atrás de novidades bombásticas pode saber que tem uma viagem perdida pela frente. "Não me interesso por esses artistas que estão sempre mudando, indo na nova onda. Acho que cada pessoa tem no máximo duas ou três canções para fazer", diz o líder, baixista, guitarrista, vocalista e compositor Humberto Gessinger. Tanto que a imagem da engrenagem, recorrente nas capas de seus discos, é a que adorna a capa de 10.000 Destinos, 12o e mais novo álbum da banda gaúcha – e, previsivelmente, um CD ao vivo.

"O Rush (banda canadense) faz um disco ao vivo depois de cada quatro de estúdio. Nós decidimos fazer depois de cada três", explica. A exemplo dos ao vivo anteriores, Alívio Imediato (1989) e Filmes de Guerra, Canções de Amor (1993), este também traz faixas inéditas gravadas em estúdio, como bônus do material registrado nos shows – feitos desta vez no Palace (São Paulo), nos dias 24 e 25 de março. "Elas são uma desculpa para entrar em estúdio", diz.

São quatro as novas músicas: Números, Novos Horizontes (ambas de Humberto) e as versões de Quando o Carnaval Chegar e Rádio Pirata. A música de Chico Buarque não chega a ser uma surpresa no campo dos Engenheiros: o líder é grande admirador do mestre da MPB e com ele se identifica "por ser low profile e formalista nas letras". Quanto à do RPM, trata-se de uma área subitamente descoberta por Gessinger depois de participar dos tributos a Cazuza e Renato Russo: a dos seus contemporâneos de Rock Brasil.

Apologia do RPM
Embora contrastes afastassem as duas bandas no cenário musical dos anos 80 – enquanto os Engenheiros tinham uma relação conflitante com o sucesso, o RPM de Paulo Ricardo aceitou o megaestrelato com tudo de bom e ruim que ele trouxe – Humberto ainda assim defende sua escolha de Rádio Pirata: "O RPM que era mainstream ouvido hoje é quase punk. Pouca gente dá valor ao Paulo Ricardo como compositor, mas ele escreve de uma forma simples, que eu comparo à da Rita Lee. O RPM poderia ser mais regravado."

Para quem se considera "mais compositor do que intérprete", a parte ao vivo de 10.000 Destinos teria que sair exatamente como saiu: sucessos, sim, mas com leituras novas. Banda de Humberto desde 1997, Lúcio Dorfman (teclados), Luciano Granja (guitarra) e Adal Fonseca (bateria) dão pulso novo a canções como Toda Forma de Poder, que estava lá no primeiro disco dos Engenheiros, Longe Demais das Capitais, de 1986.

Uma das poucas que resistem próximo ao formato original é o maior sucesso da banda, Infinita Highway (do segundo disco, A Revolta dos Dândis, de 1987). "Tentei mudá-la, mas não funcionou. Acho que a gente chegou ao arranjo certo", brinca Humberto. Em 10.000 Destinos, só não entraram músicas do disco anterior dos Engenheiros, !Tchau Radar!, lançado no ano passado. "Acho que a gente só aprende a tocar as músicas dos discos com pelo menos um ano de estrada. Por isso, a gente não gravou nenhuma dele", justifica.

E assim a vida segue para os gaúchos. Em março próximo, eles entram em estúdio para gravar o 13o disco da carreira. "Mas na verdade não existe carreira. É sempre um recomeçar do zero", corrige Humberto. "Mas pelo menos hoje a gente não tem mais essa de ter que mostrar o cartão de visitas. Quem gosta dos Engenheiros, gosta. Quem não gosta, não gosta."