Nando Reis: inventário emocional com <i>punch</i>

Titã surpreende no show de seu segundo disco solo, Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro, defendendo com garra suas confessionais canções novas, e as que foram gravadas pela sua banda, Cássia Eller e Cidade Negra

Silvio Essinger
25/11/2000
A pouco mais de um mês do Rock In Rio, a cidade pôde ter uma idéia do que o titã Nando Reis irá mostrar em seu show no festival. E para quem não levava fé que o baixista, autor de canções que todo mundo conhece nas vozes de Marisa Monte (Diariamente), Cássia Eller (ECT, O Segundo Sol), Cidade Negra (Onde Você Mora) e, é claro, Titãs (Marvin, Os Cegos do Castelo), fosse dar conta do recado em show solo, ele trouxe uma grata surpresa na sexta-feira à noite. Foi empolgante a estréia do espetáculo de lançamento do seu segundo CD solo, Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro ouvir 30s, no palco do Garden Hall. Mesmo que sua voz não seja exatamente a melhor para as suas canções, Nando as defendeu com garra, acompanhado por uma excelente banda, na qual se destacaram o guitarrista Carlos Pontual e os americanos Barrett Martin (baterista do finado Screaming Trees, atual músico de apoio do R.E.M) e Alex Veley (tecladista) – ambos, aliás, tocaram com o brasileiro no CD.

Barbudo, com um visual que lembrava uma mistura de integrante da família Buscapé (por causa do chapéu) com Renato Russo, o músico abriu a noite embalado, com a hendrixiana canção-título do novo disco. Em seguida, mandou o hit do CD, Dessa Vez, belo exemplo de seu crescimento como compositor desde o primeiro álbum solo, 12 de Janeiro, de 1995 – Nando tornou-se um traduzir em belas e poéticas canções o seu extenso inventário emocional. Do vilipendiado disco dos Titãs, Volume Dois, de 1998, ele sacou uma de suas mais recentes composições, Sua Impossível Chance, tocada com bastante punch. Depois dessa, o reggae A Fila, resgatado do primeiro solo, ficou quase como um anticlímax.

Não faltou um bloco inteirinho dedicado à mais nova – e largamente louvada – paixão de Nando Reis: Cássia Eller. Começou com uma inspirada versão de O Segundo Sol, que a cantora gravou no seu último disco, Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo – por sinal, produzido pelo músico. Depois, veio a bela balada All Star, uma declaração de amor a Cássia, gravada por Nando em seu CD. Barrett e Pontual capricharam nos coros, embelezando ainda mais a canção. O pau voltou a comer em Infernal, mais uma do último disco de Cássia. E a casa, por fim, caiu em ECT, parceria do baixista, Marisa Monte e Carlinhos Brown, que a cantora gravou em 1994. Nessa, baixou na banda um Santana da melhor fase.

Emocionado, Nando aproveitou a presença de integrantes dos Titãs (o guitarrista Toni Belotto e o baterista Charles Gavin) para falar sobre uma de suas grandes felicidades: a oportunidade de cantar, no Volume Dois, a música Não Vou Me Adaptar, do ex-titã Arnaldo Antunes. E a mandou em seguida, na versão folk do disco. Do mesmo CD, ainda mostrou a sua Ele e Ela (que na gravação foi cantada por Paulo Miklos), com um belo crescendo instrumental. Nando ainda tocaria algumas de seu disco solo, como a triste Quem Vai Dizer Tchau?, o rock Hey, Baby e Relicário, além de Onde Você Mora e Me Diga, o sucesso de seu primeiro solo. Mas a presença dos amigos titãs era por demais convidativa.

Com Belotto no violão e Gavin na bateria, a banda entrou pela noite com uma celebração titânica, tocando sucessos da banda como Os Cegos do Castelo, Família (que Nando fez questão de reafirmar não ser sua música, mas de Arnaldo e Belotto) e Pra Dizer Adeus. O show terminou em alta voltagem, com uma versão do rock My Pledge of Love (antigo hit do Joe Jeffrey Group), em que o dono da festa soltou os bichos e até comeu flores – que, por sinal, não eram aquelas de plástico da música dos Titãs.