Napster: rumo à fase II

O Napster do tudo grátis começa a sua transformação – pode ser a solução para a distribuição digital de música, filmes e livros. Toda a internet acompanha em suspense

Vicente Tardin
05/03/2001
Prossegue a novela Napster, possivelmente em direção a um final feliz para artistas, gravadoras e empresas de internet. Na última sexta-feira, o serviço anunciou que passaria a usar um sistema que impede a troca de arquivos de música não autorizados - um tipo de filtro de conteúdo que aos poucos deverá impedir os usuários de compartilharem cerca de 1 milhão de fonogramas, segundo estimativas da empresa.

Neste momento o filtro ainda não se faz sentir, pois hoje pela manhã ainda continuavam lá do mesmo jeito músicas de Beatles, Bob Dylan, Roberto Carlos, Cartola, Jackson do Pandeiro, Britney Spears e Madonna, por exemplo.

A criação deste filtro – antes supostamente impossível, segunda a empresa - foi a saída encontrada para manter o serviço em funcionamento, do contrário o próximo passo seria sair do ar inapelavelmente. O advogado da Associação Americana da Indústria Fonográfica (RIAA) disse que o Napster deveria começar bloqueando a troca das 100 músicas mais executadas – as 100 mais da lista Billboard - e os 200 álbuns mais populares, sempre mantendo atualizada esta lista.

A arma da RIAA para interromper o serviço é uma lei de 1998 chamada Digital Millennial Copyright Act, que determina que os provedores devem bloquear o acesso a qualquer cliente que viole os direitos autorais.

Estamos vivendo momentos históricos. O Napster começa a deixar de ser o que foi e pretende se tornar um modelo para as normas de propriedade intelectual na internet. Chegando lá, terá aberto o caminho a ser trilhado em seguida para a ampla distribuição pela internet de livros, filmes, jogos e outras formas de entretenimento.

Aproveitando a popularidade do serviço, a Bertelsmann e parceiros trabalham contra o tempo na preparação de um modelo pago, seguro e legal.

Por isso a retirada das canções protegidas não pode ser tão rápida assim, de forma a não afugentar o público enquanto não chega a solução paga – que vai demorar dramaticamente a ficar pronta, em junho ou julho ou depois. É muito tempo. Espera-se muita cera, como no futebol, para se ganhar tempo. E, como nas novelas, brigas, alianças e cenas de tribunal

Neste aspecto, a Associação Americana da Indústria Fonográfica tem dado passos firmes para conter as alternativas ao Napster – pelo menos as mais conhecidas. A tarefa é difícil, mas o órgão não vai descansar jamais, mesmo que trabalhe anos a fio. A indústria do disco em todo o mundo acredita que vai conseguir deter os digitais ilegais, cedo ou tarde. Há dias a RIAA enviou 75 advertências legais para mais de 40 provedores de acesso nos Estados Unidos que aparentemente hospedam serviços similares ao Napster.

Um dos casos mais complicados a solucionar é o do Gnutella, sistema que compartilha arquivos sem contar com servidores centrais, o que torna mais difícil exigir seu fechamento na corte judicial.

É claro que sempre haverá a troca de músicas entre usuários, mas de forma subterrânea, pois quando ocorrer em grandes proporções sempre será combatida. Dificilmente poderão prosperar como negócios os clones do Napster e nem deverão receber investimentos de capital de risco.

Porém o mais importante da história é a mudança de conceitos, onde determinados serviços e produtos na internet deixam de ser gratuitos e passam a ser pagos. O que é bom para os artistas, para a indústria do disco e para as empresas de internet, que sofrem com a cultura do tudo grátis.

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