Nei Lopes conta suas histórias com Monsu

Em texto especialmente escrito para CliqueMusic, o amigo lembra três casos do arco da velha

Rodrigo Faour
11/07/2000
"As três mais fortes imagens que tenho de Monsueto remontam ao ano de 1963. Na primeira, no edifício Marquês do Herval, na avenida Rio Branco, num sábado à tarde. Eu me dirigia para uma reunião clandestina, no escritório de um deputado do PCB, quando ouvi um familiar olor de comida e uma batucadinha que me fizeram sentir em casa e quase me tiraram do caminho politicamente correto. Mais tarde, vim a saber que o aroma e o ritmo vinham do apê do Monsu.

Na segunda, em plena concentração do Salgueiro na Candelária, a gente se preparando para arrebentar a boca do balão e ser campeões pela primeira vez, com Chica da Silva, me chega aquele negão, andando com dificuldade por causa dos "esporões" (não tem mais?) que antigamente castigavam a sola dos pés dos pretos velhos. Já meio enzinabrado, Monsueto, com propósitos inimagináveis, perguntava: "Cadê Zélia Hoffmann?" E essa Zélia era uma bela figura de mulher, misto de estrela de TV e dona da cantina Fiorentina no Leme, que endoidava a rapaziada naquele tempo (a propósito, cadê Zélia Hoffmann?).

Na terceira, Monsueto foi, de Copacabana, ao Irajá, levado pelo meu cunhado Moacir, que era seu amigo e sósia, para batizar o Bloco do Rascunho, agremiação carnavalesca criada em 1969 pela minha família. Chegou lá e fez um samba na hora, homenageando o bloco.

Musicalmente, o que me ficou do grande Monsueto Menezes, além dos clássicos Me Deixa em Paz e A Fonte Secou, este em parceria com meu saudoso amigo Tuffic "Raul Moreno" Lauar – baluarte que o Salgueiro esqueceu – foram criações absolutamente originais como o samba Lamento das Lavadeiras e um outro falando de um certo Antônio Jó que levou um pão para casa, para dar de comer a vários filhos e todos queriam comer, do pão, apenas o bico, que era mais gostoso".

Nei Lopes, Vila Isabel. 30/06/2000


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