Nelson Sargento homenageia Geraldo Pereira

Na festa dos seus 76 anos de idade, o sambista mangueirense canta, ao lado de convidados, as grandes pérolas do autor de Falsa Baiana

Nana Vaz de Castro
25/07/2000
Hoje, no dia de seu aniversário, o compositor, cantor, pintor, escritor e ator Nelson Sargento se dá um presente. Cerca-se de um bom time de músicos no show Um Certo Geraldo Pereira, que fica em cartaz somente até esta noite no Teatro Rival (RJ). "Resolvi comemorar meu aniversário homenageando esse grande filho da Mangueira", diz Sargento. O resultado não poderia dar errado, como se pôde conferir ontem, no início da curtíssima temporada. Ao lado dos convidados Paulo Marquez e o grupo Arranco de Varsóvia, tendo como apoio um conjunto formado por Paulão (violão e direção musical), Carlinhos (violão 7 cordas), Márcio (bandolim e cavaquinho), três percussionistas de tarimba (Trambique, Beto Cazes e Esguleba) e Dirceu Leite (sopros), fica difícil resistir ao repertório de Geraldo.

Para quem ainda não ligou o nome às músicas, Pereira é o autor de Bolinha de Papel (popularizada por João Gilberto), da infalível dupla Escurinho-Escurinha (gravada, entre muitos outros, por Zizi Possi), da carnavalesca Sem Compromisso (que Chico Buarque inclui em seu disco Sinal Fechado, de 1974), do samba de breque que virou clássico na voz de Moreira da Silva, Acertei no Milhar, de Ministério da Economia e Pisei num Despacho, consagrados por Cyro Monteiro, e da suingada Chegou a Bonitona, que foi um dos melhores momentos do show, cantada pelo Arranco.

Blocos temáticos dividem show
Além de todas essas, Um Certo Geraldo Pereira (nome também do livro escrito por Sargento, em 1983) traz ainda sambas menos conhecidos, como Se Você Sair Chorando ou a lírica Liberta Meu Coração. O bom roteiro, assinado por Sargento e dirigido por Mário Lago Filho, é dividido em cinco blocos: "Surge o compositor", com composições do início da carreira; "Compositor consagrado", com clássicos como Cabritada Mal-Sucedida, Polícia Tá no Morro, Bolinha de Papel e outras; "O amor no samba", com as canções românticas; "Sambas inesquecíveis", que inclui Você Está Sumindo, Ainda Sou Seu Amigo e Pedro do Pedregulho; e "Geraldo Pereira no Carnaval", com o samba-enredo da Unidos de Jacarezinho de 1982, Geraldo Pereira, Eterna Glória do Samba, e um pot-pourri animadíssimo com Que Samba Bom, Até Quarta-Feira, Boca Rica e Vai Que Depois Eu Vou.

Os veteranos Paulo Marquez e Nelson Sargento se revezam no palco a maior parte do tempo, além de fazer alguns números juntos. Marquez traz a elegância típica dos cantores de samba da velha guarda, enquanto Nelson contagia com seu suíngue e divisões sincopadas. O Arranco mostra competência e empolgação quando entra em cena, mas no geral, a falta de ensaios se fez sentir em alguns momentos, mesmo em se tratando de profissionais de larga experiência como os que faziam parte da banda.

Na platéia, convidados como Walter Alfaiate, Guilherme de Brito e Beth Carvalho (que ao fim subiu ao palco para cantar o hino Agoniza Mas Não Morre, de Sargento) acompanhavam as melodias inesquecíveis do sambista mineiro de Juiz de Fora, que teria hoje 82 anos anos de idade. Conforme bem lembrou Nelson Sargento, Geraldo Pereira fazia aniversário no mesmo dia de Pixinguinha e de Severino Araújo (23 de abril), e por causa dessa "concorrência desleal" seu nome raramente é lembrado na data. Por isso o aniversariante de hoje faz questão de prestar tantas homenagens: "Meu objetivo é manter viva a memória da música popular", diz.