Netinho divide suas <i>personas</i> em disco

Silvio Essinger
16/11/2000
Um problema sempre assolou o cantor baiano Netinho: como seus discos alternavam músicas para o agito dos carnavais baianos com faixas românticas mais calmas, a mudança de climas sempre acabava atrapalhando a aeróbica da galera. Uma idéia possível era dividir o disco em dois. Pois foi o que ele enfim fez em Corpo, Cabeça ouvir 30s, álbum duplo (conceitual, como o dos ícones do rock progressivo) que está sendo lançado pela Universal Music. No CD Corpo, estão as músicas puxadas para o axé, com muita percussão, como Garotas do Brasil e Dia de Farra. No outro, Cabeça, algumas faixas dançantes – só que na linha pop – e as baladas, como Clara (de Jorge Vercilo) e Ana, versão de Joanna, do Kool & The Gang. "Não trabalho só com música de carnaval, gravei até uma canção italiana para a trilha da novela Terra Nostra", conta. "Na Bahia, sou considerado o menos carnavalesco de todos os cantores. A comunidade musical de Salvador até acha que eu rejeito o axé. Mas é que minha formação é de MPB, tem outras coisas que eu gosto de cantar."

Cada disco de Corpo, Cabeça tem apenas sete faixas – metade do que teria um disco normal. A boa notícia para os fãs é que o álbum duplo de Netinho vai custar nas lojas o mesmo que um simples. Medida mais do que necessária nesse momento em que os discos de axé music pararam de vender aos milhões. "É porque tem um monte de artista na Bahia, houve um desgaste", reconhece o cantor. "As bandas vendiam sempre algo entre 400 mil cópias por disco. Aí houve aquele boom cinco anos atrás, mas agora voltou ao normal. Quem pensava que aquilo ia durar para sempre se enganou." Mesmo com o refluxo do axé, o mercado das micaretas (os carnavais fora de época) continua bom para o cantor. Tanto que ele montou uma franquia do Bloco Beijo em vários estados – seu trabalho é ir, cantar e voltar para casa. Ao mesmo tempo, Netinho iniciou uma tímida carreira em Portugal. Ele preferiu limitar suas investidas européias àquele país porque não poderia ficar quatro meses ausente do Brasil fazendo shows.