NetRecords vai dar o MP3 para vender o CD

Nova gravadora brasileira entra em cena oferecendo músicas gratuitas de seus artistas

Vicente Tardin
26/06/2000
A oportunidade de divulgação proporcionada pela Internet está impulsionando a criação de novos modelos de atuação para gravadoras. É o caso da carioca NetRecords, que deverá inaugurar em agosto próximo, vendendo discos em bancas de jornais e divulgando o trabalho de seus artistas através de músicas gratuitas no formato MP3.

A NetRecords começou de uma experiência prática: o produtor João Guilherme Valdetaro ajudou Lobão a gravar seu mais recente disco. Como o artista estava sem gravadora, depois de muito pensar, decidiram fabricar 100 mil cópias e lançar o disco a R$ 14,90 nas bancas de jornais, junto com a revista MP3Magazine.

Ajudado pelas entrevistas polêmicas de Lobão e a divulgação das canções em MP3 pela rede, o disco já vendeu 50 mil cópias nas bancas e começa a ser distribuído nas lojas especializadas.

O trabalho com Lobão foi o primeiro investimento do que viria a ser a NetRecords e de certa forma fundamenta o lançamento da empresa. João Guilherme está associado a Plínio Gomes, também produtor, e Leonardo Bourbon, do mercado financeiro. Juntos preparam o lançamento de discos de artistas como Karnak, Vulgue Tolstoi, Cris Braun e Katia B.

A idéia é dar o MP3 e vender o CD. A NetRecords prepara um site, que pretende transformar em um portal reunindo os sites de seus artistas. Estes serão livres para apresentar o conteúdo que quiserem. Além de letras e músicas gratuitas, estarão lá também críticas de shows e discos, agenda e rádio transmitindo canções em streaming. A receita que será gerada pelo portal e pelos sites dos artistas, através de publicidade e campanhas, será dividida a 50% entre a gravadora e seus contratados.

Em relação ao CD tradicional, o modelo envolve certos ajustes. A master pertence ao artista, o CD é vendido abaixo de R$ 15 e a gravadora também paga melhor ao artista.

A NetRecords acredita que as músicas em MP3 não impedem a venda de CDs; pelo contrário, ajudam a divulgar os discos. Considerando que uma gravadora iniciante não tem muito espaço para divulgação nas emissoras de rádio, atingir o público pela Internet é um recurso.

“O importante é gerar pageviews e divulgar os artistas”, explica João Guilherme. “Bons artistas que vendem 6 mil cópias não interessam às gravadoras, mas isso não quer dizer que não é possível fazer bons discos e gerar lucros”, acrescenta.

Para cada um dos artistas será feito um plano próprio de lançamento de discos, com tiragens e estratégias especiais, mas sempre apoiados pela rede, onde as parcerias são mais convenientes do que a competição.

A empresa passou por um período de captação de investimentos durante quatro meses e deverá iniciar operações em 15 de agosto, com shows de lançamento. Há fundos de investimentos interessados na segunda captação de recursos. Entre os planos está um concurso de músicas em MP3 nos moldes do site americano garageband.com.

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