Noel Rosa 90 anos
A obra do Poeta de Vila continua em alta, recebendo relançamentos, releituras, filmes, sites e homenagens em todo o Brasil - hoje à noite a gafieira Elite lembra o compositor com um baile de aniversário
Nana Vaz de Castro
11/12/2000
Se não tivesse morrido precocemente aos 26 anos, Noel Rosa estaria hoje completando 90. Difícil especular que rumo teria tido sua obra ou o vulto que ela alcançaria hoje. Só o trabalho do pesquisador Omar Jubran, recém-lançado em 14 CDs, reuniu 229 composições em cerca de oito anos de produção (desde 1929, quando entrou no Bando de Tangarás ao lado de Almirante, João de Barro, Henrique Britto e Alvinho).
A obra de Noel frutificou, gerou uma série de filhos musicais, e continua influenciando até hoje. Provas da permanência do legado noelino estão saindo no mercado. Só este ano, além dos 14 CDs que compõem o trabalho de Jubran, o conjunto vocal Garganta Profunda lançou Chico e Noel em Revista e a baiana Ione Papas dedicou-lhe o ótimo Noel por Ione . E para o ano que vem já está acertado o lançamento de Sem Tostão 2... A Crise Continua, continuação de Sem Tostão... A Crise Não É Boato , ambos voltados para a obra de Noel, na leitura de Cristina Buarque e Henrique Cazes.
Há também um filme sobre a vida de Noel, intitulado Poeta da Vila, do diretor e publicitário Ricardo Van Steen. As filmagens ainda não começaram, mas o elenco já está definido, e conta com o ator Marcelo Serrado - que já viveu Noel no teatro, no musical Feitiço da Vila - no papel principal, Malu Mader como Ceci, a "dama do cabaré" que foi a grande paixão do sambista, Camila Pitanga como Lindaura, a esposa, Débora Duarte e Carlos Vereza como os pais.
A data do 90º aniversário também não foi esquecida. Está marcado para a noite de hoje um grande baile em homenagem a Noel na tradicional Gafieira Elite (Rua Frei Caneca, 4, Centro, Rio), com a participação dos cantores Agenor de Oliveira e Tânia Machado, da dupla Zé da Velha & Silvério Pontes (trombone e trompete) e trazendo como convidados os sambistas Guilherme de Brito, Délcio Carvalho, Wilson Moreira e Eliane Faria.
Samba urbano
A permanência da figura e da obra de Noel tem diversas justificativas. Uma delas é sua própria biografia, que de fato rende um filme (três curtas já foram produzidos: Cordiais Saudações, de 1968, de Gilberto Santeiro; Noel por Noel, 1981, de Rogério Sganzerla; e Com Que Roupa?, 1996, do mesmo Ricardo Van Steen que agora faz o longa. O bisavô, a avó e o pai suicidaram-se. Seu nascimento foi complicado, teve que ser retirado a fórceps, ficou para sempre com o queixo afundado, o que fez a alegria dos chargistas de todas as épocas. Baixo, magro, fraco, brigão, mulherengo, boêmio, bebedor e fumante inveterado, teve seu período de fama e glória e morreu tuberculoso e pobre, casado com uma mulher que não escolheu.
Apesar de feio, era um conquistador, e tinha várias namoradas - algumas ao mesmo tempo. Clara, Fina, Lindaura, Ceci, Julinha e outras que conhecia nas cidades que visitava. Casou com Lindaura por causa de umas poucas aventuras, totalmente contrariado, obrigado pela mãe dela e pela polícia, já que ela era menor de idade (tinha 17 anos).
Noel despontou como compositor de sucesso no carnaval de 1931, com o samba Com Que Roupa? (composto em 29), ao mesmo tempo uma sátira à crise econômica que assolava o país e reclamação doméstica contra sua mãe, que trancava o armário do filho para impedir que ele saísse à noite. Antes disso, Noel havia gravado com o Bando de Tangarás e era presença certa nas serestas de Vila Isabel, por onde já tinha fama de bom violonista desde os 18 anos.
O cenário era propício para o surgimento de astros da música popular. O rádio tornava-se um veículo de grande penetração popular e a indústria fonográfica se organizava, em especial depois de 1927, quando foi introduzido no Brasil o sistema elétrico de gravação. Na política, com a implantação do Estado Novo em 1930 (por ocasião do qual Noel se beneficiou da aprovação automática decretada por Getúlio Vargas e conseguiu completar o colegial), uma onda de urbanização tomou conta da cidade. A vida da fábrica, do café, do bonde, do bairro, se tornariam a matéria-prima principal do compositor Noel.
A obra de Noel frutificou, gerou uma série de filhos musicais, e continua influenciando até hoje. Provas da permanência do legado noelino estão saindo no mercado. Só este ano, além dos 14 CDs que compõem o trabalho de Jubran, o conjunto vocal Garganta Profunda lançou Chico e Noel em Revista e a baiana Ione Papas dedicou-lhe o ótimo Noel por Ione . E para o ano que vem já está acertado o lançamento de Sem Tostão 2... A Crise Continua, continuação de Sem Tostão... A Crise Não É Boato , ambos voltados para a obra de Noel, na leitura de Cristina Buarque e Henrique Cazes.
Há também um filme sobre a vida de Noel, intitulado Poeta da Vila, do diretor e publicitário Ricardo Van Steen. As filmagens ainda não começaram, mas o elenco já está definido, e conta com o ator Marcelo Serrado - que já viveu Noel no teatro, no musical Feitiço da Vila - no papel principal, Malu Mader como Ceci, a "dama do cabaré" que foi a grande paixão do sambista, Camila Pitanga como Lindaura, a esposa, Débora Duarte e Carlos Vereza como os pais.
A data do 90º aniversário também não foi esquecida. Está marcado para a noite de hoje um grande baile em homenagem a Noel na tradicional Gafieira Elite (Rua Frei Caneca, 4, Centro, Rio), com a participação dos cantores Agenor de Oliveira e Tânia Machado, da dupla Zé da Velha & Silvério Pontes (trombone e trompete) e trazendo como convidados os sambistas Guilherme de Brito, Délcio Carvalho, Wilson Moreira e Eliane Faria.
Samba urbano
A permanência da figura e da obra de Noel tem diversas justificativas. Uma delas é sua própria biografia, que de fato rende um filme (três curtas já foram produzidos: Cordiais Saudações, de 1968, de Gilberto Santeiro; Noel por Noel, 1981, de Rogério Sganzerla; e Com Que Roupa?, 1996, do mesmo Ricardo Van Steen que agora faz o longa. O bisavô, a avó e o pai suicidaram-se. Seu nascimento foi complicado, teve que ser retirado a fórceps, ficou para sempre com o queixo afundado, o que fez a alegria dos chargistas de todas as épocas. Baixo, magro, fraco, brigão, mulherengo, boêmio, bebedor e fumante inveterado, teve seu período de fama e glória e morreu tuberculoso e pobre, casado com uma mulher que não escolheu.
Apesar de feio, era um conquistador, e tinha várias namoradas - algumas ao mesmo tempo. Clara, Fina, Lindaura, Ceci, Julinha e outras que conhecia nas cidades que visitava. Casou com Lindaura por causa de umas poucas aventuras, totalmente contrariado, obrigado pela mãe dela e pela polícia, já que ela era menor de idade (tinha 17 anos).
Noel despontou como compositor de sucesso no carnaval de 1931, com o samba Com Que Roupa? (composto em 29), ao mesmo tempo uma sátira à crise econômica que assolava o país e reclamação doméstica contra sua mãe, que trancava o armário do filho para impedir que ele saísse à noite. Antes disso, Noel havia gravado com o Bando de Tangarás e era presença certa nas serestas de Vila Isabel, por onde já tinha fama de bom violonista desde os 18 anos.
O cenário era propício para o surgimento de astros da música popular. O rádio tornava-se um veículo de grande penetração popular e a indústria fonográfica se organizava, em especial depois de 1927, quando foi introduzido no Brasil o sistema elétrico de gravação. Na política, com a implantação do Estado Novo em 1930 (por ocasião do qual Noel se beneficiou da aprovação automática decretada por Getúlio Vargas e conseguiu completar o colegial), uma onda de urbanização tomou conta da cidade. A vida da fábrica, do café, do bonde, do bairro, se tornariam a matéria-prima principal do compositor Noel.
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