Novo <i>Paradeiro</i> entre a Bahia e São Paulo
Arnaldo Antunes lança seu quinto CD solo, co-produzido pelo baiano Carlinhos Brown
Antonio Carlos Miguel e Bernardo Araujo
14/08/2001
Em nove anos de carreira solo, o ex-Titãs Arnaldo Antunes tem feito um singular trabalho, em composições que transitam entre o idioma pop, a poesia concreta e propostas vanguardistas. Por parâmetros estritamente musicais, ele teria poucas condições de se impor como cantor, com sua voz grave e monocórdia, mas consegue usá-la com precisão, amparado por boa moldura instrumental, assim transformando a deficiência em um dos seus charmes. Paradeiro (BMG), seu quinto CD, não só confirma o que foi dito no parágrafo acima como avança em relação aos discos anteriores.
O formato das novas composições é o mesmo, mas Antunes - só ou alternando parcerias com Marisa Monte, Carlinhos Brown, Davi Moraes, Alice Ruiz, João Bandeira, Edgar Scandurra, entre outros - volta a acertar. Lúdico, usa da repetição em alguns momentos para revelar o que estaria oculto numa primeira leitura de suas composições - caso das letras da bela Debaixo D’água e da estranha Escuríssimo, ambas só dele.
"Eu sempre fiz as duas coisas - letra e música - juntas. Acho que as pessoas me associam mais à poesia por causa dos meus livros, mas a palavra cantada é bem diferente da palavra escrita, tem uma linguagem própria. É bom trabalhar com parceiros e sozinho. Cada um na sua hora", opina Arnaldo sobre o processo de criação de Paradeiro.
A contribuição de Carlinhos Brown foi fundamental. Em boa hora, Antunes mexeu no instrumental que marcara seus outros discos e que começava a soar esgotado. Para isso, transferiu-se para Salvador, convocando Brown (co-produtor do CD, ao lado de Alê Siqueira) e sua parede percussiva. Arnaldo esclarece como foi ter Carlinhos Brown na produção: "Adorei trabalhar com Brown. Temos muita afinidade. Já tínhamos feito coisas juntos antes, shows e gravações, mas nunca o projeto maior. Quando fomos para o estúdio, as músicas estavam muito virgens, e o convidei para participar da criação. Funcionou bem."
Não trata-se de uma simples troca da base pop-rock pela do samba-reggae. Nas 14 faixas alternam-se diferentes formações, misturando guitarras, baixo, órgão, vibrafone, bandolim, teclados, saxofones, tuba e uma rica gama percussiva. Na abertura, a letra de Atenção (parceria com Alice Ruiz e João Bandeira) é boa introdução para o que vem a seguir: “Atenção / essa vida contém / cenas explícitas de tédio / nos intervalos da emoção/ (...) / Aqui não tem / segunda sessão”.
O cantor fala da conjunção entre músicos paulistas e baianos, de formações e estilos bem diferentes: "Acho que essa união foi o que deu uma cara musical ao disco. Brown trouxe vários percussionistas e eles dialogaram muito bem com músicos como Edgard Scandurra, Paulo Tatit e Zaba Moreau, que estão sempre nos meus discos."
A já lembrada Debaixo D’água é outro bom momento: serena, com sons de água misturados aos da percussão, do vibrafone de Guga Stroeter, dos teclados e do vocal de Zaba Moreau e dos comentários da guitarra de Edgar Scandurra. Antunes também arrisca um samba-pop em Santa (parceria com Brown) e acerta. Além das 12 canções do cantor, duas surpresas: Luzes, de Paulo Leminski, com violões (Brown, Gerson Silva e Juninho Costa) de sabor flamenco e guitarra (Scandurra) de spaghetti western; e Exagerado (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni).
No sucesso de Cazuza, acompanhado apenas do violão bossanovista de Cézar Mendes - e, ao fundo, dos sons do bairro do Candeal - Antunes saboreia devagar, nada exagerado, cada sílaba da letra de Cazuza e Ezequiel. "Foi sugestão do Brown", fala Arnaldo sobre a regravação. "Ele insistiu e acabou me convencendo. Fiquei seduzido pela idéia de uma releitura cool da canção, que adoro. Como ela nunca tinha sido regravada, fui em frente."
Paradeiro confirma o acerto da parceria no estúdio de Antunes com Carlinhos Brown. Aliás, o cantor-compositor-produtor-multiinstrumentista baiano deveria aproveitar o exemplo e também encontrar alguém para botar ordem em sua dispersiva musicalidade.
O formato das novas composições é o mesmo, mas Antunes - só ou alternando parcerias com Marisa Monte, Carlinhos Brown, Davi Moraes, Alice Ruiz, João Bandeira, Edgar Scandurra, entre outros - volta a acertar. Lúdico, usa da repetição em alguns momentos para revelar o que estaria oculto numa primeira leitura de suas composições - caso das letras da bela Debaixo D’água e da estranha Escuríssimo, ambas só dele.
"Eu sempre fiz as duas coisas - letra e música - juntas. Acho que as pessoas me associam mais à poesia por causa dos meus livros, mas a palavra cantada é bem diferente da palavra escrita, tem uma linguagem própria. É bom trabalhar com parceiros e sozinho. Cada um na sua hora", opina Arnaldo sobre o processo de criação de Paradeiro.
A contribuição de Carlinhos Brown foi fundamental. Em boa hora, Antunes mexeu no instrumental que marcara seus outros discos e que começava a soar esgotado. Para isso, transferiu-se para Salvador, convocando Brown (co-produtor do CD, ao lado de Alê Siqueira) e sua parede percussiva. Arnaldo esclarece como foi ter Carlinhos Brown na produção: "Adorei trabalhar com Brown. Temos muita afinidade. Já tínhamos feito coisas juntos antes, shows e gravações, mas nunca o projeto maior. Quando fomos para o estúdio, as músicas estavam muito virgens, e o convidei para participar da criação. Funcionou bem."
Não trata-se de uma simples troca da base pop-rock pela do samba-reggae. Nas 14 faixas alternam-se diferentes formações, misturando guitarras, baixo, órgão, vibrafone, bandolim, teclados, saxofones, tuba e uma rica gama percussiva. Na abertura, a letra de Atenção (parceria com Alice Ruiz e João Bandeira) é boa introdução para o que vem a seguir: “Atenção / essa vida contém / cenas explícitas de tédio / nos intervalos da emoção/ (...) / Aqui não tem / segunda sessão”.
O cantor fala da conjunção entre músicos paulistas e baianos, de formações e estilos bem diferentes: "Acho que essa união foi o que deu uma cara musical ao disco. Brown trouxe vários percussionistas e eles dialogaram muito bem com músicos como Edgard Scandurra, Paulo Tatit e Zaba Moreau, que estão sempre nos meus discos."
A já lembrada Debaixo D’água é outro bom momento: serena, com sons de água misturados aos da percussão, do vibrafone de Guga Stroeter, dos teclados e do vocal de Zaba Moreau e dos comentários da guitarra de Edgar Scandurra. Antunes também arrisca um samba-pop em Santa (parceria com Brown) e acerta. Além das 12 canções do cantor, duas surpresas: Luzes, de Paulo Leminski, com violões (Brown, Gerson Silva e Juninho Costa) de sabor flamenco e guitarra (Scandurra) de spaghetti western; e Exagerado (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni).
No sucesso de Cazuza, acompanhado apenas do violão bossanovista de Cézar Mendes - e, ao fundo, dos sons do bairro do Candeal - Antunes saboreia devagar, nada exagerado, cada sílaba da letra de Cazuza e Ezequiel. "Foi sugestão do Brown", fala Arnaldo sobre a regravação. "Ele insistiu e acabou me convencendo. Fiquei seduzido pela idéia de uma releitura cool da canção, que adoro. Como ela nunca tinha sido regravada, fui em frente."
Paradeiro confirma o acerto da parceria no estúdio de Antunes com Carlinhos Brown. Aliás, o cantor-compositor-produtor-multiinstrumentista baiano deveria aproveitar o exemplo e também encontrar alguém para botar ordem em sua dispersiva musicalidade.