O <i>alienígena</i> Caetano Veloso canta em inglês
Compositor baiano repassa a nata do cancioneiro norte-americano em seu novo álbum - de Cole Porter a Kurt Cobain
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
07/04/2004
Ele já foi araçá azul, jóia, bicho, totalmente demais, estrangeiro e até qualquer coisa. Agora, se considera um alienígena ao lançar o álbum A Foreign Sound. Caetano Veloso mergulhou nos standards norte-americanos num disco gravado no Brasil, só com músicos brasileiros. “A escolha dessas músicas foi um problema o tempo todo. Tudo me fez sofrer: deixei de gravar algumas, amadurecer canções que não estavam assentadas em mim... o disco acabou ficando longo, ninguém vai ouvir inteiro!”, diz Caetano. São 23 faixas, que vão desde Cole Porter (lembrado em Love for Sale e So in Love) até Kurt Cobain (Come as You Are). “É uma seleção demasiadamente variada. É um disco alienígena para brasileiros, americanos, para mim...”, classifica.
Durante coletiva realizada no hotel Copacabana Palace (RJ), o cantor contou que a idéia de um disco de canções norte-americanas surgiu quando ele estava no exílio, em 1970. “Mas depois desisti. Tudo é meio vago, vários fatores me levaram a fazer o disco agora, que eu nem desisti nem adiei mais”, tenta explicar. Ele lembra que o CD foi feito em meio a muitas interrupções devido a suas excursões e às de Jaques Morelembaum (co-produtor do disco, ao lado de Caetano). “Foi uma demora que me deixou impaciente, querendo fazer outras coisas. Mas que acabou aumentando os momentos prazeirosos no estúdio”, conta.
Entre essas várias coisas que Caetano pensou em fazer, estão um disco de samba e outro de canções sentimentais. “Tenho vontade de fazer composições novas. Até fiz um samba, Diferentemente, que cantei no Bareto (casa noturna de São Paulo). Este desejo está aqui dentro, vários esboços apareceram mas tive que reprimir. Aguardem, que haverá o retorno do recalcado!”, brinca. Por enquanto, Caetano está fazendo a trilha do novo espetáculo do grupo de dança Corpo, gravada no estúdio de Carlinhos Brown na Bahia, e também a do próximo filme do cineasta Jorge Furtado, Meu Tio Matou um Cara.
Segundo Caetano, as canções de A Foreign Sound são exemplos de perfeição de estrutura. “Eu até queria gravar Is This Love, de Bob Marley, algo canadense, de Trinidad e Tobago, mas acabaram entrando só as americanas”, diz. E comenta as versões que fez para algumas delas: “Body and Soul (Sour/Green/Heyman/Eyton) gravei só com o violão. Depois chamamos o Zeca Assumpção e Ricardo Silveira, ficou (em um ritmo) 4/4 simples. Já The Man I Love (George & Ira Gershwin) toquei em casa sonoridade rock, ficou bem magro, bonito. E Stardust (Hoagy Carmichael), com Armandinho tocando bandolim elétrico, aumentou seu parentesco com o choro.”
Caetano também destaca a presença de Feelings, dizendo que a música é um “nó” no disco. “É uma falsa canção americana feita por um brasileiro (Morris Albert) em São Paulo. Feelings ganhou uma versão punk dos meninos do Offspring, que substituíram ‘love’ por ‘hate’ (ódio). Eu a tratei sem ironia e dediquei a David Byrne, que esse nome a um de seus álbuns”, conta o cantor. O disco ainda traz The Carioca (Eliscu/Kahn/Youmans) - “Uma falsa música de país tropical, levada por uma percussão baiana que é um ritmo tropical inventado”, comenta – e Love Me Tender (Presley/Vera Matson), sobre a qual Caetano fala: “É a mais antiga do disco, é do século XIX e fizeram a letra para Elvis Presley cantar. Gravei para meu filho Zeca, que a tocava muito ao piano.”
Quanto à escolha das canções e a forma como elas entraram em sua vida, Caetano relata, sem deixar de causar surpresa sobre suas preferências: “Sou muito passivo para música, consumo involuntariamente. Mas tenho ouvido funk, essa semana fui a duas festas nas quais o DJ Marlboro estava tocando. Hoje, são milhões de pessoas envolvidas nesse movimento e não querer reconhecer isso é ser babaca. Não é o meu caso.” O baiano não demonstra nenhuma expectativa em relação ao disco no mercado exterior. “Não acho que vá ser tão relevante nos Estados Unidos, afinal há tantos lançamentos, de tantos lugares, nesse estilo! E essa coisa de lançamento simultâneo é expectativa de gravadora, não tenho nada a ver com isso.”
Durante coletiva realizada no hotel Copacabana Palace (RJ), o cantor contou que a idéia de um disco de canções norte-americanas surgiu quando ele estava no exílio, em 1970. “Mas depois desisti. Tudo é meio vago, vários fatores me levaram a fazer o disco agora, que eu nem desisti nem adiei mais”, tenta explicar. Ele lembra que o CD foi feito em meio a muitas interrupções devido a suas excursões e às de Jaques Morelembaum (co-produtor do disco, ao lado de Caetano). “Foi uma demora que me deixou impaciente, querendo fazer outras coisas. Mas que acabou aumentando os momentos prazeirosos no estúdio”, conta.
Entre essas várias coisas que Caetano pensou em fazer, estão um disco de samba e outro de canções sentimentais. “Tenho vontade de fazer composições novas. Até fiz um samba, Diferentemente, que cantei no Bareto (casa noturna de São Paulo). Este desejo está aqui dentro, vários esboços apareceram mas tive que reprimir. Aguardem, que haverá o retorno do recalcado!”, brinca. Por enquanto, Caetano está fazendo a trilha do novo espetáculo do grupo de dança Corpo, gravada no estúdio de Carlinhos Brown na Bahia, e também a do próximo filme do cineasta Jorge Furtado, Meu Tio Matou um Cara.
Segundo Caetano, as canções de A Foreign Sound são exemplos de perfeição de estrutura. “Eu até queria gravar Is This Love, de Bob Marley, algo canadense, de Trinidad e Tobago, mas acabaram entrando só as americanas”, diz. E comenta as versões que fez para algumas delas: “Body and Soul (Sour/Green/Heyman/Eyton) gravei só com o violão. Depois chamamos o Zeca Assumpção e Ricardo Silveira, ficou (em um ritmo) 4/4 simples. Já The Man I Love (George & Ira Gershwin) toquei em casa sonoridade rock, ficou bem magro, bonito. E Stardust (Hoagy Carmichael), com Armandinho tocando bandolim elétrico, aumentou seu parentesco com o choro.”
Caetano também destaca a presença de Feelings, dizendo que a música é um “nó” no disco. “É uma falsa canção americana feita por um brasileiro (Morris Albert) em São Paulo. Feelings ganhou uma versão punk dos meninos do Offspring, que substituíram ‘love’ por ‘hate’ (ódio). Eu a tratei sem ironia e dediquei a David Byrne, que esse nome a um de seus álbuns”, conta o cantor. O disco ainda traz The Carioca (Eliscu/Kahn/Youmans) - “Uma falsa música de país tropical, levada por uma percussão baiana que é um ritmo tropical inventado”, comenta – e Love Me Tender (Presley/Vera Matson), sobre a qual Caetano fala: “É a mais antiga do disco, é do século XIX e fizeram a letra para Elvis Presley cantar. Gravei para meu filho Zeca, que a tocava muito ao piano.”
Quanto à escolha das canções e a forma como elas entraram em sua vida, Caetano relata, sem deixar de causar surpresa sobre suas preferências: “Sou muito passivo para música, consumo involuntariamente. Mas tenho ouvido funk, essa semana fui a duas festas nas quais o DJ Marlboro estava tocando. Hoje, são milhões de pessoas envolvidas nesse movimento e não querer reconhecer isso é ser babaca. Não é o meu caso.” O baiano não demonstra nenhuma expectativa em relação ao disco no mercado exterior. “Não acho que vá ser tão relevante nos Estados Unidos, afinal há tantos lançamentos, de tantos lugares, nesse estilo! E essa coisa de lançamento simultâneo é expectativa de gravadora, não tenho nada a ver com isso.”