O <i>latino</i> Carlinhos Brown e sua nova persona
Baiano traveste-se de Carlito Marron em disco feito para o mercado internacional que agora ganha edição brasileira
Marco Antonio Barbosa
22/07/2003
Carlito Marrón é metade mexicano, metade cubano. Quer recuperar o prestígio que a música latina - não apenas a música cantada em espanhol, mas suas sonoridades também, como a rumba, o bolero e a salsa - já tiveram por aqui. E também pretende realçar a presença da cultura espanhola na música baiana, uma noção que, segundo ele mesmo, muita gente não percebe. Carlito Marrón é, na verdade, António Carlos Santos de Freitas, mais conhecido por aqui como Carlinhos Brown. O mentor da Timbalada e 1/3 do maior sucesso da MPB em 2002 (o trio Tribalistas, junto a Arnaldo Antunes e Marisa Monte). E que história é essa de Marrón? Trata-se de mais um codinome criado por Brown, que acaba de lançar o álbum Carlinhos Brown É Carlito Marrón, projeto de encomenda para a BMG internacional e que também ganhou edição nacional.
Deu para entender? Brown diz que Carlito, personagem e disco, nasceram não da demanda da gravadora, e sim de sua própria musicalidade. "Minha origem na Bahia também é latina. Esse disco é apenas a possibilidade de expressão deste personagem, uma representação da vontade que tenho de explorar novos mundos", declara o compositor. Para Brown, não há nada forçado na conexão Candeal-Cuba-México, e a influência hispânica na música baiana é um dado natural. "Enquanto fui me formando como percussionista, percorri todos os estilos de música latina - a salsa, a rumba, o calipso. Até dentro de minha família havia esse dado, pois meu pai tocava maracas, instrumento típico da musicalidade latina. É por isso que digo que este disco poderia ser bem meu trabalho de estréia; ele conta um pouco da minha formação, da minha origem", diz Brown.
Trata-se também de reparar o que, para Brown, é uma "injustiça" contra a música cantada em espanhol. "Sinto que o Brasil não se considera latino. Achamos que estamos à parte da realidade latina e também que o próprio idioma espanhol é brega. Mas todos fazemos parte de uma mesma raiz", explica o músico. "O disco representa minha vontade de um projeto de relatinização do Brasil." Daí, a salada polirrítimica que compõe o disco - há um verdadeiro leque de estilos, da rumba ao cha-cha-cha, chegando a influências cubanas como a cumbia, e outras sonoridades menos cotadas (bolero, guaracha). Tudo, claro, com o acento percussivo baiano. "Tem de miscigenar, misturar. Esse é o nosso destino", acredita Brown.
A musicalidade de Brown, exuberante como sempre, corre em várias direções em Carlito Marron. Tantas direções que o músico arrisca-se a ficar meio perdido. "Tem a ver com a própria personalidade do Carlito, que vaga por aí, é meio andarilho", teoriza Brown. O compositor de qualidade indiscutível surge nas faixas menos frenéticas, como I Wanna Lu ou Juras de Amor (esta com participação da espanhola Rosario Flores). Também, ao deixar os quadris e pés guiarem sua intuição, Brown acerta (a rumba Carlito Marron e as gostosas Cumbia Moura e Clima Quente). Há excessos, inevitáveis. My Honey tem uma batucada que soa histérica demais. Bebel Gilberto, cool como sempre, não se encaixa em Ifã de Copacabana. Enfim, é o Brown das mil e uma referências e intenções, que sempre tem muito a dizer com sua música - ou, segundo seus detratores, teria muito a falar, mas pouco a dizer, concretamente.
O projeto internacional chegou em uma hora atípica na carreira de Brown. Incluído na degola coletiva que a gravadora EMI promoveu no começo de 2002, depois do fracasso comercial do ambicioso Bahia do Mundo - Mito e Verdade
(2001), o baiano ficou sem contrato até o aceno da BMG espanhola. "Sempre fiz sucesso na Espanha. O convite para gravar veio do próprio presidente espanhol da BMG, que veio à minha casa conversar", diz o músico. Enquanto isso, o álbum dos Tribalistas
decolava para se tornar o fenômeno de 2002, batendo perto do milhão de CDs vendidos. Paradoxal e ironicamente, o disco com Marisa e Arnaldo saiu pela mesma EMI que demitiu Brown meses antes. "Esse sucesso todo não mudou nada na minha cabeça. Minha última preocupação é vender discos. Tanto que Carlito não é uma realização comercial, nunca foi", reafirma Brown.
Lançado na Europa em abril, Carlinhos Brown É Carlito Marron obteve boas colocações nas paradas espanholas e francesas. Isso rendeu para Brown uma fornida agenda de shows na temporada européia de festivais de verão e uma esticada até Nova York. Em contraste com o Brasil, onde ainda não há turnê agendada. "É importante para mim que este disco saia no Brasil, pois apesar da decolagem do álbum na Europa, nunca pretendi deixar meu país", fala o músico.
Para o Brasil, os planos concretos de Brown incluem um álbum e uma subseqüente turnê em conjunto com João Donato. "Ele é um gênio e me assumo como seu humilde servidor", diz Brown sobre o bossanovista. O projeto agora está dependendo da captação de recursos via o Ministério da Cultura, uma tramitação que vem desde os tempo do governo Fernando Henrique Cardoso. Mesmo em parceria com Donato, a latinidad de Brown não ficará quieta. "Quero chamar (os cantores cubanos) Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo para cantar músicas de Dorival Caymmi comigo e Donato", planeja Brown.
Deu para entender? Brown diz que Carlito, personagem e disco, nasceram não da demanda da gravadora, e sim de sua própria musicalidade. "Minha origem na Bahia também é latina. Esse disco é apenas a possibilidade de expressão deste personagem, uma representação da vontade que tenho de explorar novos mundos", declara o compositor. Para Brown, não há nada forçado na conexão Candeal-Cuba-México, e a influência hispânica na música baiana é um dado natural. "Enquanto fui me formando como percussionista, percorri todos os estilos de música latina - a salsa, a rumba, o calipso. Até dentro de minha família havia esse dado, pois meu pai tocava maracas, instrumento típico da musicalidade latina. É por isso que digo que este disco poderia ser bem meu trabalho de estréia; ele conta um pouco da minha formação, da minha origem", diz Brown.
Trata-se também de reparar o que, para Brown, é uma "injustiça" contra a música cantada em espanhol. "Sinto que o Brasil não se considera latino. Achamos que estamos à parte da realidade latina e também que o próprio idioma espanhol é brega. Mas todos fazemos parte de uma mesma raiz", explica o músico. "O disco representa minha vontade de um projeto de relatinização do Brasil." Daí, a salada polirrítimica que compõe o disco - há um verdadeiro leque de estilos, da rumba ao cha-cha-cha, chegando a influências cubanas como a cumbia, e outras sonoridades menos cotadas (bolero, guaracha). Tudo, claro, com o acento percussivo baiano. "Tem de miscigenar, misturar. Esse é o nosso destino", acredita Brown.
A musicalidade de Brown, exuberante como sempre, corre em várias direções em Carlito Marron. Tantas direções que o músico arrisca-se a ficar meio perdido. "Tem a ver com a própria personalidade do Carlito, que vaga por aí, é meio andarilho", teoriza Brown. O compositor de qualidade indiscutível surge nas faixas menos frenéticas, como I Wanna Lu ou Juras de Amor (esta com participação da espanhola Rosario Flores). Também, ao deixar os quadris e pés guiarem sua intuição, Brown acerta (a rumba Carlito Marron e as gostosas Cumbia Moura e Clima Quente). Há excessos, inevitáveis. My Honey tem uma batucada que soa histérica demais. Bebel Gilberto, cool como sempre, não se encaixa em Ifã de Copacabana. Enfim, é o Brown das mil e uma referências e intenções, que sempre tem muito a dizer com sua música - ou, segundo seus detratores, teria muito a falar, mas pouco a dizer, concretamente.
O projeto internacional chegou em uma hora atípica na carreira de Brown. Incluído na degola coletiva que a gravadora EMI promoveu no começo de 2002, depois do fracasso comercial do ambicioso Bahia do Mundo - Mito e Verdade


Lançado na Europa em abril, Carlinhos Brown É Carlito Marron obteve boas colocações nas paradas espanholas e francesas. Isso rendeu para Brown uma fornida agenda de shows na temporada européia de festivais de verão e uma esticada até Nova York. Em contraste com o Brasil, onde ainda não há turnê agendada. "É importante para mim que este disco saia no Brasil, pois apesar da decolagem do álbum na Europa, nunca pretendi deixar meu país", fala o músico.
Para o Brasil, os planos concretos de Brown incluem um álbum e uma subseqüente turnê em conjunto com João Donato. "Ele é um gênio e me assumo como seu humilde servidor", diz Brown sobre o bossanovista. O projeto agora está dependendo da captação de recursos via o Ministério da Cultura, uma tramitação que vem desde os tempo do governo Fernando Henrique Cardoso. Mesmo em parceria com Donato, a latinidad de Brown não ficará quieta. "Quero chamar (os cantores cubanos) Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo para cantar músicas de Dorival Caymmi comigo e Donato", planeja Brown.