O ano em que os Titãs se desgrudaram
Discos solo, óperas infantis, acervos vasculhados, romances, filmes, colunas gastronômicas... 2000 foi o ano dos projetos individuais dos integrantes do grupo
Tom Cardoso
20/12/2000
O Titãs sempre foi um grupo diferenciado do rock nacional. Afinal, são sete compositores, quatro deles cantores – Paulo Miklos, Nando Reis, Sérgio Britto e Branco Mello, todos com carisma e talento para seguir carreira solo. Neste ano, com a anunciada férias coletivas da banda, a oportunidade foi dada: com exceção do guitarrista Marcelo Fromer, que atualmente curte sua boa vida de crítico gastronômico de um jornal paulistano, os seis integrantes desenvolveram trabalhos individuais ligados à música.
Nando Reis, hoje um compositor maduro e que circula com desenvoltura dentro da MPB (é gravado por gente como Marisa Monte, Cássia Eller e Sandra de Sá) foi quem deu a partida para os projetos solos. O baixista já vinha de uma bem-sucedida estréia, com o disco 12 de Janeiro (1995) e tirou de letra as gravações de Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro
, lançado em agosto, o último sopro criativo de um titã dentro da WEA, gravadora onde o grupo iniciou carreira e gravou todos os seus discos.
Tido com o mais imprevisível dos compositores dos titãs – é autor da romanesca Diariamente ("para o beijo na moça: paladar/ para uma voz muito rouca: hortelã") e da escatológica Isso para Mim É Perfume ("a cabeça do pau, faz esporra de leite/ para tomar de manhã, no café da manhã"), Nando tem seguido o mesmo perfil nos discos solos, marcados pela diversidade musical, com baladas, rocks e letras inspiradas. Este último teve produção do norte-americano Jack "Nirvana" Endino, que já havia trabalhado com os Titãs, e participação de Peter Buck, guitarrista do R.E.M, tocando bandolim em duas faixas. Promete (e já está fazendo) mais sucesso do que o 12 de Janeiro.
Crônicas de amor
A surpresa ficou por conta do disco solo de Sérgio Britto, A Minha Cara
, lançado em dezembro pela Abril Music, a nova gravadora dos Titãs. Sempre de cara fechada, boné virado e no palco com uma postura mais agressiva – é o intérprete de Polícia, Será Que É Isso o que Eu Necessito?, Massacre, entre outras do repertório mais pesado dos Titãs, Britto decidiu encarnar o estilo de Renato Russo e Roberto Carlos, fazendo um disco recheados de crônicas de amor, com arranjos simples e delicados. Esteve irreconhecível e muito distante de sua fase hardcore dos tempos de Kleiderman, trio montado com Branco Mello em 1994, mas mostrou personalidade e coragem em sua estréia solo.
Já Branco Mello fez questão de conservar o seu espírito punk. Não gravou disco, mas fez bons e esporádicos shows com sua banda S-Futurismo, resgatando canções dos Titãs esquecidas pelo grupo nas turnês, como as pesadas Flat-Cemitério-Apartamento, Nem Sempre Pode Ser Deus e 32 Dentes. O repertório inédito ainda é pequeno para virar disco, mas Branco não descarta a possibilidade de entrar em estúdio se o público se entusiasmar. Uma boa chance ele terá no Rock in Rio 3, em janeiro, quando se apresenta na Tenda Brasil. Por enquanto, o cantor se dedica à ópera-rock infantil Eu e Meu Guarda-Chuva, escrita em parceria com Ciro Pessoa, que chegou a integrar o Titãs na sua primeira formação.
Nas mãos de Dudu Marote
Há uma grande expectativa para saber o que Paulo Miklos apronta no estúdio de Dudu Marote. O seu primeiro disco, lançado em 1994, passou desapercebido e foi gerado numa época conturbada e de baixa estima do grupo. Com o título provisório de Vou Ser Feliz e Já Volto, o CD está sendo minuciosamente trabalhado pelas mãos de Dudu. O time de músicos é dos bons, com Lee Marcucci no baixo e Emerson Villani (do Funk Como Le Gusta) na guitarra. Apesar de manter o álbum em segredo, o vocalista de Bichos Escrotos já adiantou que vai ficar bem longe da suavidade apresentada nos discos de Nando e Britto.
O baterista Charles Gavin passou o ano empoeirado remexendo nos arquivos das gravadoras Warner e Continental. Tirou de lá preciosidades, como álbuns esquecidos de Tom Zé e de Walter Franco e obras-primas de Paulinho da Viola e Novos Baianos, entre outras raridades. A idéia de remasterizar todo esse legado da MPB gerou a série Dois Momentos, que segue firme no próximo ano, quando serão tirados do baú discos do Inocentes, de Elis Regina e do Moto Perpétuo. Ao mesmo tempo, ele remexeu nos arquivos da antiga CBS e tirou discos de Hyldon, Trio Ternura, Tony Bizarro e Dom Salvador e Abolição para a série Columbia Raridades, lançada neste fim de ano.
Dando continuidade à sua aventura literária, Toni Belloto segue escrevendo o seu terceiro romance, ainda sem previsão de lançamento. O livro anterior, Bellini e a Esfinge, está sendo adaptado para o cinema, com direção de Roberto Santucci Filho e com Malu Mader e Fabio Assumpção no elenco. A trilha sonora, claro, ficou a cargo do guitarrista, que já assinou algumas músicas em parceria com Nando Reis. Numa rápida entrevista ao CliqueMusic em outubro, Belloto disse que já estava pensando no próximo álbum dos Titãs, previsto para o fim do primeiro semestre. Deixou escapar que, se dependesse dele, o novo CD de inéditas (fato que não ocorria desde o lançamento de Domingo, em 1995) teria a sonoridade muito próxima à apresentada no disco Õ Blésq Blom, tido até hoje como trabalho mais experimental e eclético da banda. É esperar para ver o que os sete cérebros titânicos vão aprontar dessa vez.
Nando Reis, hoje um compositor maduro e que circula com desenvoltura dentro da MPB (é gravado por gente como Marisa Monte, Cássia Eller e Sandra de Sá) foi quem deu a partida para os projetos solos. O baixista já vinha de uma bem-sucedida estréia, com o disco 12 de Janeiro (1995) e tirou de letra as gravações de Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro

Tido com o mais imprevisível dos compositores dos titãs – é autor da romanesca Diariamente ("para o beijo na moça: paladar/ para uma voz muito rouca: hortelã") e da escatológica Isso para Mim É Perfume ("a cabeça do pau, faz esporra de leite/ para tomar de manhã, no café da manhã"), Nando tem seguido o mesmo perfil nos discos solos, marcados pela diversidade musical, com baladas, rocks e letras inspiradas. Este último teve produção do norte-americano Jack "Nirvana" Endino, que já havia trabalhado com os Titãs, e participação de Peter Buck, guitarrista do R.E.M, tocando bandolim em duas faixas. Promete (e já está fazendo) mais sucesso do que o 12 de Janeiro.
Crônicas de amor
A surpresa ficou por conta do disco solo de Sérgio Britto, A Minha Cara

Já Branco Mello fez questão de conservar o seu espírito punk. Não gravou disco, mas fez bons e esporádicos shows com sua banda S-Futurismo, resgatando canções dos Titãs esquecidas pelo grupo nas turnês, como as pesadas Flat-Cemitério-Apartamento, Nem Sempre Pode Ser Deus e 32 Dentes. O repertório inédito ainda é pequeno para virar disco, mas Branco não descarta a possibilidade de entrar em estúdio se o público se entusiasmar. Uma boa chance ele terá no Rock in Rio 3, em janeiro, quando se apresenta na Tenda Brasil. Por enquanto, o cantor se dedica à ópera-rock infantil Eu e Meu Guarda-Chuva, escrita em parceria com Ciro Pessoa, que chegou a integrar o Titãs na sua primeira formação.
Nas mãos de Dudu Marote
Há uma grande expectativa para saber o que Paulo Miklos apronta no estúdio de Dudu Marote. O seu primeiro disco, lançado em 1994, passou desapercebido e foi gerado numa época conturbada e de baixa estima do grupo. Com o título provisório de Vou Ser Feliz e Já Volto, o CD está sendo minuciosamente trabalhado pelas mãos de Dudu. O time de músicos é dos bons, com Lee Marcucci no baixo e Emerson Villani (do Funk Como Le Gusta) na guitarra. Apesar de manter o álbum em segredo, o vocalista de Bichos Escrotos já adiantou que vai ficar bem longe da suavidade apresentada nos discos de Nando e Britto.
O baterista Charles Gavin passou o ano empoeirado remexendo nos arquivos das gravadoras Warner e Continental. Tirou de lá preciosidades, como álbuns esquecidos de Tom Zé e de Walter Franco e obras-primas de Paulinho da Viola e Novos Baianos, entre outras raridades. A idéia de remasterizar todo esse legado da MPB gerou a série Dois Momentos, que segue firme no próximo ano, quando serão tirados do baú discos do Inocentes, de Elis Regina e do Moto Perpétuo. Ao mesmo tempo, ele remexeu nos arquivos da antiga CBS e tirou discos de Hyldon, Trio Ternura, Tony Bizarro e Dom Salvador e Abolição para a série Columbia Raridades, lançada neste fim de ano.
Dando continuidade à sua aventura literária, Toni Belloto segue escrevendo o seu terceiro romance, ainda sem previsão de lançamento. O livro anterior, Bellini e a Esfinge, está sendo adaptado para o cinema, com direção de Roberto Santucci Filho e com Malu Mader e Fabio Assumpção no elenco. A trilha sonora, claro, ficou a cargo do guitarrista, que já assinou algumas músicas em parceria com Nando Reis. Numa rápida entrevista ao CliqueMusic em outubro, Belloto disse que já estava pensando no próximo álbum dos Titãs, previsto para o fim do primeiro semestre. Deixou escapar que, se dependesse dele, o novo CD de inéditas (fato que não ocorria desde o lançamento de Domingo, em 1995) teria a sonoridade muito próxima à apresentada no disco Õ Blésq Blom, tido até hoje como trabalho mais experimental e eclético da banda. É esperar para ver o que os sete cérebros titânicos vão aprontar dessa vez.