O dilema do MP3.com

É duro ser pioneiro – quem abre estradas corre o risco de se matar pavimentando um caminho onde os outros vão passar tranqüilamente... e lucrar

Vicente Tardin
06/12/2000
Ao lado do Napster, o MP3.com pode ser considerado uma das mais interessantes empresas de internet ligadas à música. Atravessou um ano especialmente difícil, mas afinal conseguiu sobreviver a diversas disputas na justiça com gravadoras, conquistando o direito de oferecer serviços baseados no catálogo das majors. Agora, depois de gastar tanto com multas e acordos, é hora de faturar algum.

Resolvidas as pendências, volta à ativa o serviço My.MP3, agora com a novidade de um módulo básico gratuito e outro avançado, pago. O funcionamento é o mesmo de antes – o usuário se cadastra, registra um CD original que possui e desta forma pode ouvir as músicas daquele CD (e outros que possui) a partir de qualquer computador com conexão à internet.

Quem usar o serviço gratuitamente vai ter espaço para guardar até 25 CDs; já o serviço pago, que custa US$ 49,95 por ano, dá espaço para o usuário guardar o equivalente a 500 CDs. O serviço pago tem também outras pequenas vantagens, como maior facilidade e menos propaganda na tela.

Como dizíamos, é hora de monetizar. A empresa hoje fatura praticamente com propaganda, cerca de 95%. Por isso é muito importante que o serviço pago dê resultados e represente uma nova forma de receita. Na realidade, o mundo da música na internet continua olhando para a MP3.com, que paga o preço de ser pioneira.

Pensando sempre nesta linha, a empresa sabe que precisa também oferecer aos assinantes pagos o acesso à música digital também fora do computador.

É preciso pensar no amanhã, pois o tempo não pára. Possivelmente um serviço por assinatura nos moldes atuais não vai trazer lucro, mas se puder ser ampliado o acesso à música digital para além do computador, atingindo dispositivos portáteis, aí sim poderemos ter alguma coisa de valor.

O problema é que para chegar lá é preciso mais tecnologia e mais investimentos. Este é o drama da empresa – depois de tanto nadar e já conseguir enxergar a praia mais perto, está arriscada a não conseguir chegar sozinha ao mundo ideal que vislumbrou, com acesso sem fio e balcões em shoppings para carregar os players portáteis de novas músicas.

Já está sendo desenhado um mercado de wireless internet, com entrega de música, conteúdo e entretenimento, onde a tendência é a redução do share de acesso à internet pelo PC, contra Palms e outros formatos.

Tudo isso demanda investimentos e sociedade com peixes mais grandões, com quem a MP3.com terá que dividir o lucro que um dia chegará. Será que este ano será igual àquele que passou, como na marchinha carnavalesca? Foi mais ou menos o que aconteceu em 2000, através dos acordos que permitiram o serviço My.MP3.com voltar. Inicialmente foram pagos US$ 20 milhões para EMI, BMG, Warner e Sony Music (só aí já são US$ 80 milhões) e depois mais US$ 53,4 milhões à Universal. Continuamos acompanhando.

Leia também:
Bowie endossa My.MP3.com
MP3.com se acerta com Universal