O elogiado faz-tudo da nova música brasileira

Depois de gravar sozinho seu disco de estréia, Samba Raro, Max de Castro prepara o repertório do próximo trabalho, que pode incluir uma regravação melancólica do clássico País Tropical, de Jorge Ben Jor

Tom Cardoso
07/09/2000
Devorador inveterado de discos, Ed Motta não vacila ao afirmar que Samba Raro, álbum de estréia de Max de Castro, pode ser considerado o Sgt. Pepper’s da música pop brasileira. Exagero ou não, o fato é que o filho caçula de Wilson Simonal veio para ficar. Produtor, músico, compositor e arranjador talentoso, Max trancou-se em um estúdio no início do ano e fez o tal Sgt. Pepper’s nacional todo sozinho, sem ajuda de ninguém, um prodígio para um artista iniciante. Agora, depois de receber elogios unânimes da crítica e ainda em turnê de Samba Raro, Max voltou a se isolar em seu apartamento em São Paulo em busca de idéias para o seu segundo CD, que começa a ser gravado no início do ano que vem pela gravadora Trama.

“Estou lendo muito Gilberto Freyre (um dos mais importantes sociólogos brasileiros, autor de Casa Grande e Senzala). Quero fazer um disco politizado, com alguns questionamentos sobre o que é realmente a cara do Brasil. Não suporto, por exemplo, esta estética da favela criada por cineastas, músicos e formadores de opinião em geral, de dizer que o cara que mora no morro é feliz, tem uma vida legal. Ele não está ali por uma opção estética e sim por falta de opção”, analisa o compositor, que pretende fazer uma regravação melancólica de País Tropical, clássico de Jorge Ben Jor, que fez sucesso na voz de seu pai, Wilson Simonal, no fim da década de 60. “É uma música pra frente, que fala de felicidade, mas que ao mesmo tempo reforça a estética da favela que eu tanto quero criticar”.

Novos Caetanos
Max quer fugir do estereótipo que cerca músicas de protesto lançadas por aqui. “Estou mais para Mano Brown (principal letrista dos Racionais) do que para Caetano. Acho que dá para ser objetivo sem ter que escrever uma letra quilométrica”, diz o músico, que acha, como vários artistas de sua geração, que a imprensa cobra sempre o surgimento de novos caetanos. “Músicos como Lenine, Zeca Baleiro e Chico César são herdeiros naturais dele, mas eu cresci ouvindo outro tipo de música. Caetano me lembra sempre uma coisa antiga, um pouco ultrapassada, algo como ‘Boêmia, aqui me tens de regresso....’ (A Volta do Boêmio, sucesso de Nelson Gonçalves, composto por Adelino Moreira).”

Entre as novidades surgidas durante a turnê de Samba Raro está a versão do rock Rapaz da Moda, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, afamada dupla de compositores dos anos 40 e 50. “Eles fizeram essa música para criticar a chegada do rock’n’roll, que estava fazendo sucesso na voz de Celly e Tony Campelo. Achavam que o rock era feito por falsos músicos, que sabiam tocar apenar um ou outro acorde”, conta Max. “Acho que o aparecimento do rock, principalmente a explosão da jovem guarda e do BRock nos anos 80, é muito semelhante ao surgimento da música eletrônica na década de 90. Tá cheio de gente que não sabe ler um nota musical, que não toca nenhum instrumento, mas que é capaz de fazer discos geniais”.

Max sente uma atual revigoração do cenário musical paulistano. “É claro que ainda estamos muito longe do organizado circuito alternativo de Nova York e de Londres (onde a sua Ela Disse Assim, remixada pelo DJ Patife, já faz sucesso nas pistas), mas já estamos num bom caminho, com casas de shows lotadas e muita gente com idéias novas”, comemora o músico, que apenas lamenta a falta de ousadia da organização do Festival de Música Brasileira, promovido pela Rede Globo. “É tudo muito bem feito, bonitinho, mas onde está a nova geração da música brasileira? As canções apresentadas são cópias das feitas há 30 anos. Não se vê um artista de música eletrônica, uma nova experimentação.”

Junto com o irmão e também músico Wilson Simoninha, Max está em negociação com a gravadora Trama para relançar os discos de Wilson Simonal, que estão fora de catálogo há anos. “O meu pai tem uma obra fantástica que muita gente desconhece. São três fases maravilhosas: a da mistura de bossa com big band, a da pilantragem no fim da década de 60 e a fase do funk e do soul, nos anos 70, que é a melhor e menos divulgada”, diz Max, que conta não ter sofrido preconceito de outros artistas pelo fato de ser filho de Wilson Simonal. “Pelo contrário, todo mundo que me encontra chega para mim e diz: ‘P.! Você é filho do grande Simonal?’”