O estranho mundo de Rogério Skylab
Em seu primeiro disco ao vivo, cantor e compositor reúne espanto, provocação e morbidez, com canções como Matador de Passarinho, Derrame, Motosserra e Funérea
Silvio Essinger
18/04/2001
Se tem uma história que não convence Rogério Skylab é essa de nova MPB. "Alguns artistas são interessantes, mas não apontam para o novo, estão todos ligados à tradição", diz. Integrante nos anos 80 da banda punk Setembro Negro, ele tem uma questão a martelar sua cabeça: como superar a geração musical anterior? "Imagina o que foi a Gal, no show Fatal, no Teatro Opinião, cantando Jards Macalé e Waly Salomão com aquela perna gostosa que ela tinha. Era um acontecimento social!" A solução para Skylab foi sair totalmente de órbita, como se pode ouvir agora em seu terceiro disco, Skylab II
, que chega às principais lojas do circuito independente brasileiro. Iconoclastia, espanto, provocação e morbidez se encontram nesse primeiro e visceral álbum ao vivo do cantor e compositor, que estreou em disco em 1992 com o LP (independente) Fora da Grei.
São 10 músicas inéditas e oito regravações, registradas ano passado em show no Hipódromo Up (RJ), mixadas sem retoques ("Se tá desafinado, tá", garante o músico) e embaladas numa capa tétrica, da artista plástica Solange Venturi - duas cabeças de galinhas mortas se bicando (as vísceras estão no encarte). Segundo Rogério, Skylab II é a compensação por seu CD anterior, Skylab
, que tinha sido produzido por Robertinho do Recife. "Havia muitos teclados no disco, não gostei do resultado final, soou meio artificial." Dessa vez, o compositor acompanhou todas as fases de produção do disco, que foi lançado às suas próprias custas. "Este é 100% Skylab. O outro era 80% Robertinho", conta.
Skylab II (que estará sendo lançado esta sexta-feira, dia 20, em show no Rock Night, no Rio) é Rogério em seu estado mais selvagem. Estão lá alguns de seus clássicos, como Urubu, Derrame, Música Suave e Funérea. Ainda no disco, o compositor não tem receio de abordar temas como a antropofagia, este na música Carne Humana ("Tem gente que come office boy/ Gente que come carne de boi/ Gente que come e acha bom/ urubu, ratos de porão"). Já Motosserra trará recordações macabras para quem assistiu ao filme Encaixotando Helena.
Heavy seresta
No entanto, a especialidade de Skylab mesmo é pôr lado a lado placidez e barbaridade, com Naquela Noite, Matadouro de Almas ("Quanta saudade dos antigos matadouros/ Da vaca prenha abatida sem perdão") e a impagável Matador de Passarinho. Com um som inusitado, à base de heavy metal atrasado e violas seresteiras, Rogério fez até uma música chamada Jesus. Mas não foi sua idéia usar o santo nome em vão (ou desvão perverso). "Foi, na verdade, como 'Jesus!', aquela expressão portuguesa de admiração e susto", explica.
Rogério diz não ter ilusões de que sua música vá tocar no rádio ou que um dia ele vá gravar por uma multi. "No começo da carreira, tinha pretensões de chegar a uma grande gravadora, mas era tudo ficção. O cara entra lá e dá pulos de alegria, mas depois vê que nada acontece", diz. Alguns meses atrás, ele esteve no programa de Jô Soares - a entrevista fez tanto sucesso que acabou reprisada, com elogios e um recado do apresentador: "Garanto que agora você vai arrumar gravadora". Skylab achou simpático, mas diz que está bem satisfeito com o esquema de vendas que armou para seu disco independente na Internet - a quem interessar possa, o seu site é www.rota66.com.br/skylab. Para o compositor, continua valendo uma antiga frase de Torquato Neto: "A gente tem que aproveitar todas as brechas".
O próximo disco, promete Skylab, deve ser com as canções da banda carioca Zumbi do Mato (ler matéria), cujo vocalista, Löis Lancaster, participa da música Samba em Skylab II, e do inclassificável Daminhão Experiença (ler matéria): "Quero falar da minha realidade. O que eu tenho a ver com Caetano, Gil ou Marcelo D2? Vou gravar gente que faz parte do meu mundo."
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São 10 músicas inéditas e oito regravações, registradas ano passado em show no Hipódromo Up (RJ), mixadas sem retoques ("Se tá desafinado, tá", garante o músico) e embaladas numa capa tétrica, da artista plástica Solange Venturi - duas cabeças de galinhas mortas se bicando (as vísceras estão no encarte). Segundo Rogério, Skylab II é a compensação por seu CD anterior, Skylab
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Skylab II (que estará sendo lançado esta sexta-feira, dia 20, em show no Rock Night, no Rio) é Rogério em seu estado mais selvagem. Estão lá alguns de seus clássicos, como Urubu, Derrame, Música Suave e Funérea. Ainda no disco, o compositor não tem receio de abordar temas como a antropofagia, este na música Carne Humana ("Tem gente que come office boy/ Gente que come carne de boi/ Gente que come e acha bom/ urubu, ratos de porão"). Já Motosserra trará recordações macabras para quem assistiu ao filme Encaixotando Helena.
Heavy seresta
No entanto, a especialidade de Skylab mesmo é pôr lado a lado placidez e barbaridade, com Naquela Noite, Matadouro de Almas ("Quanta saudade dos antigos matadouros/ Da vaca prenha abatida sem perdão") e a impagável Matador de Passarinho. Com um som inusitado, à base de heavy metal atrasado e violas seresteiras, Rogério fez até uma música chamada Jesus. Mas não foi sua idéia usar o santo nome em vão (ou desvão perverso). "Foi, na verdade, como 'Jesus!', aquela expressão portuguesa de admiração e susto", explica.
Rogério diz não ter ilusões de que sua música vá tocar no rádio ou que um dia ele vá gravar por uma multi. "No começo da carreira, tinha pretensões de chegar a uma grande gravadora, mas era tudo ficção. O cara entra lá e dá pulos de alegria, mas depois vê que nada acontece", diz. Alguns meses atrás, ele esteve no programa de Jô Soares - a entrevista fez tanto sucesso que acabou reprisada, com elogios e um recado do apresentador: "Garanto que agora você vai arrumar gravadora". Skylab achou simpático, mas diz que está bem satisfeito com o esquema de vendas que armou para seu disco independente na Internet - a quem interessar possa, o seu site é www.rota66.com.br/skylab. Para o compositor, continua valendo uma antiga frase de Torquato Neto: "A gente tem que aproveitar todas as brechas".
O próximo disco, promete Skylab, deve ser com as canções da banda carioca Zumbi do Mato (ler matéria), cujo vocalista, Löis Lancaster, participa da música Samba em Skylab II, e do inclassificável Daminhão Experiença (ler matéria): "Quero falar da minha realidade. O que eu tenho a ver com Caetano, Gil ou Marcelo D2? Vou gravar gente que faz parte do meu mundo."
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