O pianista Dom Salvador reencontra o Brasil
Considerado um dos papas do Brazilian jazz, o músico não tocava no país há mais de 30 anos
Marco Antonio Barbosa
29/05/2003
A programação do Chivas Jazz Festival 2003, que começou na última quarta-feira (dia
28) e se estende até o sábado (dia 31) não foi tão pródiga, quanto em outros anos, em
atrações brasileiras. Não faltaram na escalação grandes nomes "importados" do jazz, de
várias tendências. Mas defendendo as cores do jazz brazuca, está uma figura que, por
sua estatura artística e pela raridade de sua presença por aqui, vale por todo um escrete
nacional. O pianista Dom Salvador, verdadeira lenda brasileira do instrumento, faz dias
30 e 31 seus primeiros shows em solo brasileiro desde 1973 - ocasião imperdível para
ver o homem que se tornou objeto de culto para toda uma geração da MPB e também
para nomes contemporâneos como Ed Motta e Jair Oliveira. Embarcando na rara visita de
Salvador - radicado nos EUA desde os anos 70 - dois álbuns de sua também arisca
discografia ganham as prateleiras das lojas locais.
Dom Salvador, nascido Salvador da Silva Filho em 1938, no estado de São Paulo, tornou-se com os anos um dos grandes nomes do Brazilian jazz na América do Norte. Agora, merece o posto de homenageado do Chivas Jazz deste ano, numa reapresentação de seu status a um público que só o conhece - se conhece - de ouvir falar. "Não fiquei 'exilado' nos EUA. Apenas estou esse tempo todo sem tocar no Brasil por falta de oportunidade", garantiu o músico em entrevista recente. A verdade é que o músico desenvolveu uma mais do que sólida carreira no exterior, tocando ao vivo e em estúdio com grandes feras do jazz e apresentando-se regularmente em seletos clubes novaiorquinos. "Precisei trabalhar muito para estabelecer minha carreira nos EUA, mas há muitos anos que estou plenamente adaptado", confirma o pianista.
E há muitos anos, igualmente, seu piano não dá as caras por aqui. "O último show foi em 1973, com Nara Leão, no Teatro da Praia (RJ)", relembra Salvador. Em março daquele mesmo ano, o músico partiria para os EUA, rumo à meca da black music que inspirou a virada estílistica que daria em sua carreira no fim dos anos 60. Era a época do black power brasileiro, e Salvador era parceiro constante de Tony Tornado - o mito do movimento - , além de pontuar na banda Abolição, formada apenas por músicos negros.
Antes disso, Salvador atravessou os anos 60 emprestando seu piano à nata da MPB. "Edu Lobo, Sylvia Telles, Elza Soares, Jorge Ben, Tom Jobim... eu toquei na gravação original de Retrato em Branco e Preto", conta o Dom. Como lembrança mais forte, a participação no começo da carreira de Elis Regina ("Ela ainda era uma desconhecida, em meados dos anos 60"). A posição de músico residente da gravadora Odeon, uma das grandes daquela década, garantiu sua participação em discos hoje antológicos. Os trios que integrou na época hoje fazem parte da história do samba-jazz. Com o outro Dom- o Um Romão, baterista - , tocou no Copa Trio. Em 1965 formou o ainda mais legendário Rio-65, com Edison Machado (bateria) e Sérgio Barroso (baixo). Também ganhou o mundo nesse período, excursionando com o Rio-65 e uma seleta de astros (os já citados Edu e Sylvia, além de Rosinha de Valença e Rubens Bassini) pela Europa. "Ainda hoje não passo de mais um brasileiro tocando no exterior", comenta, modesto.
Os shows de reencontro de Dom Salvador com a platéia brasileira acontecem na sexta, dia 30, na Marina da Glória (RJ) e no sábado, 31, no DirecTV Hall (SP). "O repertório será 99% de músicas minhas", diz o pianista. A banda inclui os brasileiros Rogério Botter Maio (baixo), Duduka da Fonseca (bateria) e o norte-americano Dick Oatts (saxofone), mas uma série de convidados especiais - inclusive Ed Motta, que homenageou o pianista em seu disco Dwitza - está cotada para dar uma canja. Uma boa amostra do que poderá ser ouvido nas apresentações está no repertório do álbum Transitions. O disco mistura temas inéditos e criações de Dennis Brean, Burt Bacharach, Tom Jobim e standards americanos como The Song Is You e Stella by Starlight.
A menção a Transitions não é gratuita. O álbum, que permanecia inédito no Brasil, acaba de ser lançado pela Lua Discos, aproveitando o embalo da visita do Dom. Acompanhando o pianista no CD estão os mesmos Botter e Duduka que tocam com ele por aqui. É uma boa adição a uma discografia que permanece, quase toda ela, fora de catálogo por aqui. "Neste disco, sigo com o meu estilo próprio, que gosto de chamar de afro-Brazilian jazz", brinca Dom Salvador.
Uma outra ponta da criatividade do pianista foi resgatada pela Universal, que vai relançar o histórico Rio 65 Trio, primeiro disco do grupo formado por Salvador, Edison Machado e Sergio Barroso. Tido como clássico do samba-jazz, o álbum inclui não apenas músicas do próprio Salvador (como a antológica Meu Fraco É Café Forte) , mas também releituras ultrasuingadas para canções inesperadas, como Preciso Aprender a Ser Só e Manhã de Carnaval. Até bem pouco tempo, era possível encontrar em sites de leilão pela Internet cópias do vinil original de Rio 65 Trio, atingindo preços em torno de US$ 150.
Dom Salvador, nascido Salvador da Silva Filho em 1938, no estado de São Paulo, tornou-se com os anos um dos grandes nomes do Brazilian jazz na América do Norte. Agora, merece o posto de homenageado do Chivas Jazz deste ano, numa reapresentação de seu status a um público que só o conhece - se conhece - de ouvir falar. "Não fiquei 'exilado' nos EUA. Apenas estou esse tempo todo sem tocar no Brasil por falta de oportunidade", garantiu o músico em entrevista recente. A verdade é que o músico desenvolveu uma mais do que sólida carreira no exterior, tocando ao vivo e em estúdio com grandes feras do jazz e apresentando-se regularmente em seletos clubes novaiorquinos. "Precisei trabalhar muito para estabelecer minha carreira nos EUA, mas há muitos anos que estou plenamente adaptado", confirma o pianista.
E há muitos anos, igualmente, seu piano não dá as caras por aqui. "O último show foi em 1973, com Nara Leão, no Teatro da Praia (RJ)", relembra Salvador. Em março daquele mesmo ano, o músico partiria para os EUA, rumo à meca da black music que inspirou a virada estílistica que daria em sua carreira no fim dos anos 60. Era a época do black power brasileiro, e Salvador era parceiro constante de Tony Tornado - o mito do movimento - , além de pontuar na banda Abolição, formada apenas por músicos negros.
Antes disso, Salvador atravessou os anos 60 emprestando seu piano à nata da MPB. "Edu Lobo, Sylvia Telles, Elza Soares, Jorge Ben, Tom Jobim... eu toquei na gravação original de Retrato em Branco e Preto", conta o Dom. Como lembrança mais forte, a participação no começo da carreira de Elis Regina ("Ela ainda era uma desconhecida, em meados dos anos 60"). A posição de músico residente da gravadora Odeon, uma das grandes daquela década, garantiu sua participação em discos hoje antológicos. Os trios que integrou na época hoje fazem parte da história do samba-jazz. Com o outro Dom- o Um Romão, baterista - , tocou no Copa Trio. Em 1965 formou o ainda mais legendário Rio-65, com Edison Machado (bateria) e Sérgio Barroso (baixo). Também ganhou o mundo nesse período, excursionando com o Rio-65 e uma seleta de astros (os já citados Edu e Sylvia, além de Rosinha de Valença e Rubens Bassini) pela Europa. "Ainda hoje não passo de mais um brasileiro tocando no exterior", comenta, modesto.
Os shows de reencontro de Dom Salvador com a platéia brasileira acontecem na sexta, dia 30, na Marina da Glória (RJ) e no sábado, 31, no DirecTV Hall (SP). "O repertório será 99% de músicas minhas", diz o pianista. A banda inclui os brasileiros Rogério Botter Maio (baixo), Duduka da Fonseca (bateria) e o norte-americano Dick Oatts (saxofone), mas uma série de convidados especiais - inclusive Ed Motta, que homenageou o pianista em seu disco Dwitza - está cotada para dar uma canja. Uma boa amostra do que poderá ser ouvido nas apresentações está no repertório do álbum Transitions. O disco mistura temas inéditos e criações de Dennis Brean, Burt Bacharach, Tom Jobim e standards americanos como The Song Is You e Stella by Starlight.
A menção a Transitions não é gratuita. O álbum, que permanecia inédito no Brasil, acaba de ser lançado pela Lua Discos, aproveitando o embalo da visita do Dom. Acompanhando o pianista no CD estão os mesmos Botter e Duduka que tocam com ele por aqui. É uma boa adição a uma discografia que permanece, quase toda ela, fora de catálogo por aqui. "Neste disco, sigo com o meu estilo próprio, que gosto de chamar de afro-Brazilian jazz", brinca Dom Salvador.
Uma outra ponta da criatividade do pianista foi resgatada pela Universal, que vai relançar o histórico Rio 65 Trio, primeiro disco do grupo formado por Salvador, Edison Machado e Sergio Barroso. Tido como clássico do samba-jazz, o álbum inclui não apenas músicas do próprio Salvador (como a antológica Meu Fraco É Café Forte) , mas também releituras ultrasuingadas para canções inesperadas, como Preciso Aprender a Ser Só e Manhã de Carnaval. Até bem pouco tempo, era possível encontrar em sites de leilão pela Internet cópias do vinil original de Rio 65 Trio, atingindo preços em torno de US$ 150.