O poder mutante do Mamelo Sound System

Trio paulistano lança ousado CD de estréia, com convidados que vão de músicos do mangue beat ao rapper norte-americano Afrika Bambaataa

Tom Cardoso
05/01/2001
O Mamelo Sound System não acredita que vai ser uma daquelas bandas a acontecer em 2001. Primeiro, porque os seus integrantes não se consideram uma banda e cansam de dizer que estão apenas formando um núcleo de produção. Segundo, porque cada um tem a sua vida, os seus gostos musicais, e nada impede de daqui a algum tempo estarem comprometidos com projetos distintos.

"A gente sempre achou esse lance de grupo, de ficar grudado, concentrado em hotéis, uma coisa desgastante e ultrapassada", diz Daniel Bozio que, junto com Rodrigo Audiolandro e Alexandre Basa, forma em São Paulo o clã criativo e estrutural do Mamelo, responsável pelo CD de estréia, Mamelo Sound Systemamostras de 30s, lançado em parceria com os selos YBrazil? e Gorila Hi-Fi.

A idéia dos três integrantes era reunir a maior quantidade de amigos no disco, vindos das mais variadas turmas musicais Eles conseguiram emprestado um estúdio de madrugada e foram recebendo a galera. Passaram por lá o pessoal do rap (Thaíde, DJ Hum, MC Rappin Hood e KL Jay, dos Racionais), do mangue beat (parte do grupo Nação Zumbi e Bactéria, do Mundo Livre S/A), do funk (Paula Lima, do Funk Como Le Gusta, e o grupo SP Funk) e da música eletrônica (DJ Marky e DJ Nutz).

Até o rapper norte-americano Afrika Bambaataa foi arrastado até o estúdio e gravou uma pequena participação. "O Rodrigo era um dos organizadores do Dulôco (festival ocorrido em 1999) e convenceu o Bambaataa a dar uma canja para a gente. Ele adorou, ficou no estúdio contanto aquelas histórias malucas de alielígenas que moram embaixo da terra", lembra Bonzio.

A presença maciça de convidados talentosos deu um charme irresistível ao disco. Rap com sotaque jazzístico. Funk e dub com drum’n’bass. Abuso de samples e scratches, reforçados pela voz suinguada de Paula Lima. Tudo isso somado com a experiência de estúdio e de produção dos três mamelos. "Eu e o Basa temos pequenos estúdios em casa; o Rodrigo tem um sampler. Muita gente acha que basta ter o recurso tecnológico na mão para se fazer um bom disco. Não é bem assim. Todo processo exige uma musicalidade forte, um conhecimento das variações eletrônicas, das colagens e dos inúmeros recursos de estúdio", diz Bozio.

Quem estiver empolgado com o disco de estréia e for assistir a um show do Mamelo Sound System vai levar um susto. Apenas uma música do CD está incluída no repertório. O show está mais pesado, com um forte sotaque hip hop, gênero preferido do vocalista Rodrigo Audiolandro (ex-VJ da MTV) e um pouco repudiado por Bozio e Basa. "Acho os rappers ortodoxos demais e contraditórios na maioria das vezes. Veja o caso dos Racionais: os caras não gostam de misturar outros ritmos com rap e ao mesmo tempo amam James Brown", critica Bozio. Por causa do farto material inédito, o núcleo de produção não descarta a idéia de gravar um novo CD em breve.

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