O que há de novo em homenagem ao Lalá

Centenário de Lamartine Babo, comemorado este mês, rende ciclo de espetáculos, peças musicais e biografia ampliada

Marco Antonio Barbosa
21/01/2004
O que há de novo na seara do Lalá? Lamartine Babo, real gigante da música popular brasileira, completaria seus 100 anos de vida no último dia 10 de janeiro, e pelo Brasil afora pipocam homenagens e tributos a sua pessoa. Figura-chave do panorama musical da primeira metade do século XX, verdadeiro "sinônimo" de marchinha de carnaval, criador dos clássicos hinos dos clubes de futebol carioca, perpetuador de toda uma tradição de humor e leveza em nossa música, um dos símbolos da carioquice em forma de compositor; tudo isso era Lamartine, nascido e finado (em 1963) no Rio de Janeiro.

E é justamente no Rio de Janeiro que se concentram vários dos tributos ao primeiro centenário de Lamartine. O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro apresenta até o fim deste mês o ciclo Lamartine em Revista, espetáculos em homenagem às várias facetas do figuraça Lalá. Iniciado no último dia 6 de janeiro, a série de shows foi concebida e roteirizada por Luis Filipe de Lima, também diretor musical dos espetáculos. Em cada um dos shows (realizados sempre às terças-feiras), uma diferente faceta de Lamartine é ressaltada. Já foram vistos espetáculos sobre a produção de músicas carnavalescas deixadas pelo compositor (com Eduardo Dusek e Soraya Ravenle); as canções para o teatro de revista foram revisitadas por Sabrina Korgut e Léo Jaime e o trio composto por Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta e Alfredo Del Penho cantaram as músicas mais engraçadas do repertório de Lalá.

Fechando o projeto, no dia 27, é a vez do grupo Arranco de Varsóvia relembrar os célebres hinos dos clubes de futebol do Rio de Janeiro. É possível que as mais populares composições de Lamartine sejam justamente os hinos de times como Flamengo ("Uma vez Flamengo / sempre Flamengo..."), Fluminense ("Sou / tricolor de coração..."), Vasco ("Vamos todos cantar de coração / a cruz de malta é o meu pendão...") - ainda que nem todos os torcedores saibam exatamente a identidade de seu autor. O Arranco (Muri Costa, Paulo Malaguti, Andréa Dutra, Elisa Queiroz e Denise Pontes) ainda vai apresentar outras músicas, além dos hinos. "Também vamos mostrar 2 x 2 e a Marcha do Scratch Brasileiro, clássicos de outros autores que tratam também de futebol" , diz Luis Filipe de Lima. Uma nota: a quem se interessar pelo show de terça, vale a pena "madrugar" no CCBB-RJ (que fica na Rua Primeiro de Março, nº 66). Os espetáculos do ciclo têm lotado o Teatro 2 do centro cultural.

Os festejos cariocas não param aí. No Carnaval, a tradicional Banda de Ipanema vai desfilar com um repertório 100% Lalá, incluindo sambas e marchinhas como Nega (parceria com Noel Rosa), Tamanho Não É Documento, O Teu Cabelo não Nega, Uma Andorinha não Faz Verão, Grau Dez e Rasguei a Minha Fantasia. Ainda deve entrar em cartaz a peça Tra-la-lá - Lalá É Cem!, com texto do pesquisador Ricardo Cravo Albin. Apresentada em 2003, com direção musical de Hélcio Brenha e a participação das cantoras Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e Ellen de Lima, e do cantor Eduardo Costa, a peça de Cravo Albin deve reestrear este ano, embalada nas comemorações do centenário. "A peça é uma reafirmação de brasilidade e uma homenagem ao mais carioca dos compositores de sua geração", fala o autor.

São Paulo também programou suas homenagens a Lalá. Num ciclo análogo ao Lamartine em Revista, o CCBB-SP apresenta até 3 de fevereiro a série Horas Lamartinescas, com título retirado do nome do programa que o compositor apresentava na Rádio Educadora, no fim dos anos 30. Também às terças-feiras, o ciclo vai apresentar ainda shows dedicados ao teatro de revista (com coisas como Joujoux & Balangandans, Linda Morena, A Marchinha do Grande Galo e Babo...zeiras no repertório), tudo a cargo de Mário Manga e da Banda Paralela - com As Galvão como convidadas especiais. No dia 3 de fevereiro, é a vez de Maurício Pereira, Yvette Matos e Jorge Mautner revisitarem o repertório carnavalesco de Lalá. A curadoria do ciclo é do jornalista Rodrigo Hornhardt.

Um outro espetáculo musical em honra ao compositor estréia no Sesc Ipiranga no dia 18 de fevereiro. Por Lamartine... Babo tem como grandes estrelas as cantora Maria Alcina e Fabiana Cozza. Produzido por Heron Coelho, o espetáculo busca relacionar a obra de Lalá num contexto amplo, reverberando sobre movimentos como o modernismo de 1922 e a tropicália. Depois do Sesc Ipiranga, a montagem vai ser exibida em outras unidades do Sesc pelo interior de São Paulo.

Na seara editorial, a grande novidade é o trabalho do pesquisador Suetônio Soares Valença, que pretende lançar ainda este ano a biografia Lamartine Babo Carnaval, Teatro de Revista, Rádio - versão revista e ampliada de seu próprio volume Tra-La-Lá: Lamartine Babo (cuja última edição, de 1989, está esgotada). O autor explica: "O livro anterior contava a a trajetória individual de Lamartine Babo. Agora, a história dele estará relacionada no contexto do Rio de Janeiro de sua época, destacando também os três meios principais de divulgação de sua obra: o Carnaval, o teatro de revista e o rádio". Ainda a procura de editora, Valença pretende lançar a nova versão de seu livro até novembro deste ano. Já em termos estritamente musicais o resgate de Lalá em 2004 anda com brilho menor. Apenas um CD - um relançamento apenas para o mercado japonês (!) - está nos planos das gravadoras. De Lalá Pra Cá, disco de Marcia Salomon, traz algumas das pérolas do repertório de Lamartine junto a obras de outros compositores influenciados por ele, como Chico Buarque, Caetano Veloso e João Bosco. A gravadora Dabliú (que lançou o álbum originalmene em 1997) conta com a distribuição do selo japonês Ward para ofertar, apenas aos nipônicos, o disco.