O Rappa equaciona crise com silêncio e <i>esporro</i>
Grupo carioca lança seu primeiro álbum sem o letrista e líder Marcelo Yuka e aposta em novas sonoridades
Marco Antonio Barbosa
01/12/2003
Apesar de ter ficado dois anos sem lançar álbum novo (na verdade quatro anos,
considerando que Instinto Coletivo Lado B Lado A , o último de inéditas, era de
1999), O Rappa nunca esteve exatamente em silêncio. Neste mesmo período, a banda
carioca passou por barulhentos sobressaltos como a saída de seu principal
compositor, Marcelo Yuka - depois do traumático atentado contra sua vida que o
confinou em uma cadeira de rodas, em 2000. Falcão (voz), Xandão (guitarra),
Lauro Farias (baixo) e Marcelo Lobato (bateria), entretanto, não abaixaram a
cabeça; prometeram ainda mais ruído para 2003 e cumpriram. O Silêncio que
Precede o Esporro (Warner Music), nome do novo disco e primeiro produzido
sem Yuka, é a tentativa do grupo mostrar que ainda está nos trilhos certos.
Curiosamente, no novo álbum o que mais chama a atenção não é bem o esporro, e sim o visível esforço que o quarteto faz para diversificar seu som. "Foi o disco em que mais fomos colocados à prova musicalmente falando", afirma o baixista Lauro. "Chegamos no estúdio sem nada, começamos a pesquisar e as idéias foram fluindo. Acabou que as músicas todas ficaram bem diferentes umas das outras." Algumas mudanças no método usual de trabalho podem ter contribuído. "Adiantamos bastante a pré-produção e chegamos para gravar já com várias idéias prontas", conta Lobato. E Lauro completa: "Fizemos questão de tocar tudo nós mesmos e nos revezar nos instrumentos. Xandão toca baixo e bateria além da guitarra, eu toquei guitarra, Lobato fez de tudo. Abriu geral, foi uma grande participação especial coletiva." "Isso deu o maior orgulho, poder fazer tudo por conta própria", diz Falcão.
De diferente mesmo, impressiona de cara a inclusão de Deus Lhe Pague (Chico Buarque), numa versão quase subversiva em relação à original. Outras surpresas são O Salto, dedicada ao (e com participação do) poeta Waly Salomão - com arranjo carregado de violinos; a inclusão da rapper argentina (!) Malena no raggamuffin Óbvio; e a regravação do samba Maneiras (Silvio da Silva), sucesso antigo de Zeca Pagodinho, com canja do próprio.
"A música do Chico é fortíssima, a letra tem tudo a ver com a temática que a gente trabalha", fala Falcão, relacionando os versos de Deus Lhe Pague aos eternos questionamentos sociais das músicas do Rappa. Malena acabou no disco quase por coincidência, e também por vir de encontro a um desejo antigo do grupo. "Queriamos fazer algo em castelhano há muito tempo", narra Lobato. Falcão conheceu a moça, que estava de passagem pelo Brasil, em uma noitada em São Paulo. "Eu pude vê-la cantando e achei absurdo de bom. Depois ela me passou um CD, eu achei muito legal e ela acabou escrevendo uma participação em nosso disco. Já Pagodinho, figura reverenciada pelo Rappa desde sempre, veio na base da amizade. "No estúdio, falamos para ele ficar à vontade e fazer o que quisesse, que iriamos seguir em cima do que ele cantasse. Acabou que criamos várias bases diferentes e talvez acabem saindo duas versões da música", conta Falcão.
Em outras faixas, como Bitter Russo Champagne, Reza Vela (esta a música de trabalho do disco) e Rodo Contínuo, o quarteto retoma a sonoridade patenteada, misturando rock, reggae, funk e intervenções eletrônicas, tudo com bastante peso e ginga. "Foram 32 músicas gravadas, para tirar as 14 que estão no disco. Estamos pensando em colocar as que sobraram na Internet, estão com boa qualidade. Conseguimos músicas que expressam totalmente o nosso momento. Ficou tudo muito autêntico", considera Falcão. Produzido por Tom Capone (atual diretor artístico da gravadora Warner), o disco trouxe como letrista principal Marcos Lobato, irmão do baterista. Talvez aí resida o grande diferencial d'O Rappa 2003: a falta das letras de Yuka.
Saído do grupo no começo do ano e em fase de elaboração de sua banda própria, Furto, Marcelo Yuka é, naturalmente, uma ausência sentida. Ainda que o grupo mantenha a pose. "Musicalmente, estamos tão completos quanto antes. Claro que sentimos falta da presença dele, das piadas. Nós o respeitamos muito. Mas é aquela coisa: chega uma hora em que cada um quer fazer coisas diferentes, e não poderiamos deixá-lo atrapalhar o Rappa", assume Falcão. Lauro resume: "O Rappa é maior que qualquer um de nós." O ex-baterista chegou a começar a gravar O Silêncio..., mas logo ficou claro que a química se fora. "Sentimos que ele estava ausente. Não se aproximava mais para compor", lembra o vocalista. A saída de Yuka gerou uma catarse interna no grupo, que acertou de vez os ponteiros para continuar bem. "Sentamos os quatro - estamos há 11 anos juntos - e tiramos todas as diferenças. Besteiras, coisas de convivência, mal-entendidos entre amigos - botamos tudo para fora. Mesmo acontecendo este monte de coisas, tivemos toda a tranqüilidade do mundo", fala Falcão.
Curiosamente, no novo álbum o que mais chama a atenção não é bem o esporro, e sim o visível esforço que o quarteto faz para diversificar seu som. "Foi o disco em que mais fomos colocados à prova musicalmente falando", afirma o baixista Lauro. "Chegamos no estúdio sem nada, começamos a pesquisar e as idéias foram fluindo. Acabou que as músicas todas ficaram bem diferentes umas das outras." Algumas mudanças no método usual de trabalho podem ter contribuído. "Adiantamos bastante a pré-produção e chegamos para gravar já com várias idéias prontas", conta Lobato. E Lauro completa: "Fizemos questão de tocar tudo nós mesmos e nos revezar nos instrumentos. Xandão toca baixo e bateria além da guitarra, eu toquei guitarra, Lobato fez de tudo. Abriu geral, foi uma grande participação especial coletiva." "Isso deu o maior orgulho, poder fazer tudo por conta própria", diz Falcão.
De diferente mesmo, impressiona de cara a inclusão de Deus Lhe Pague (Chico Buarque), numa versão quase subversiva em relação à original. Outras surpresas são O Salto, dedicada ao (e com participação do) poeta Waly Salomão - com arranjo carregado de violinos; a inclusão da rapper argentina (!) Malena no raggamuffin Óbvio; e a regravação do samba Maneiras (Silvio da Silva), sucesso antigo de Zeca Pagodinho, com canja do próprio.
"A música do Chico é fortíssima, a letra tem tudo a ver com a temática que a gente trabalha", fala Falcão, relacionando os versos de Deus Lhe Pague aos eternos questionamentos sociais das músicas do Rappa. Malena acabou no disco quase por coincidência, e também por vir de encontro a um desejo antigo do grupo. "Queriamos fazer algo em castelhano há muito tempo", narra Lobato. Falcão conheceu a moça, que estava de passagem pelo Brasil, em uma noitada em São Paulo. "Eu pude vê-la cantando e achei absurdo de bom. Depois ela me passou um CD, eu achei muito legal e ela acabou escrevendo uma participação em nosso disco. Já Pagodinho, figura reverenciada pelo Rappa desde sempre, veio na base da amizade. "No estúdio, falamos para ele ficar à vontade e fazer o que quisesse, que iriamos seguir em cima do que ele cantasse. Acabou que criamos várias bases diferentes e talvez acabem saindo duas versões da música", conta Falcão.
Em outras faixas, como Bitter Russo Champagne, Reza Vela (esta a música de trabalho do disco) e Rodo Contínuo, o quarteto retoma a sonoridade patenteada, misturando rock, reggae, funk e intervenções eletrônicas, tudo com bastante peso e ginga. "Foram 32 músicas gravadas, para tirar as 14 que estão no disco. Estamos pensando em colocar as que sobraram na Internet, estão com boa qualidade. Conseguimos músicas que expressam totalmente o nosso momento. Ficou tudo muito autêntico", considera Falcão. Produzido por Tom Capone (atual diretor artístico da gravadora Warner), o disco trouxe como letrista principal Marcos Lobato, irmão do baterista. Talvez aí resida o grande diferencial d'O Rappa 2003: a falta das letras de Yuka.
Saído do grupo no começo do ano e em fase de elaboração de sua banda própria, Furto, Marcelo Yuka é, naturalmente, uma ausência sentida. Ainda que o grupo mantenha a pose. "Musicalmente, estamos tão completos quanto antes. Claro que sentimos falta da presença dele, das piadas. Nós o respeitamos muito. Mas é aquela coisa: chega uma hora em que cada um quer fazer coisas diferentes, e não poderiamos deixá-lo atrapalhar o Rappa", assume Falcão. Lauro resume: "O Rappa é maior que qualquer um de nós." O ex-baterista chegou a começar a gravar O Silêncio..., mas logo ficou claro que a química se fora. "Sentimos que ele estava ausente. Não se aproximava mais para compor", lembra o vocalista. A saída de Yuka gerou uma catarse interna no grupo, que acertou de vez os ponteiros para continuar bem. "Sentamos os quatro - estamos há 11 anos juntos - e tiramos todas as diferenças. Besteiras, coisas de convivência, mal-entendidos entre amigos - botamos tudo para fora. Mesmo acontecendo este monte de coisas, tivemos toda a tranqüilidade do mundo", fala Falcão.
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