O rock brasileiro transcrito em palavras
Livros Dias de Luta, sobre o BRock dos anos 80, e A Vida Até Parece uma Festa, biografia dos Titãs, chegam às lojas
Marco Antonio Barbosa
27/11/2002
Eu, você, nós dois, já temos um passado, meu amor - e um passado bem documentado. Essa pode ser a música que o público teria a cantar para o BRock, o dito "movimento" de artistas que fez a explosão do pop brasileiro nos anos 80, a geração de Titãs, RPM, Legião Urbana, Paralamas, Blitz, Lobão, Kid Abelha... A parte do bem documentado fica por conta de um par de lançamentos editorais recentes que ajudam a refrescar a memória do ouvinte sobre este rico período de nossa música jovem; período esse que, apesar de ainda recente, já merece virar objeto de estudo a sério. Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80, de Ricardo Alexandre, estuda extensamente o rock brazuca pós-estouro da Blitz (1982), relacionando ídolos da música e o contexto social e econômico do país. A Vida Até Parece uma Festa, da dupla Luiz André Alzer e Herica Marbo, fecha o ângulo em uma das bandas mais representativas do período, os Titãs, pretendendo ser a biografia autorizada do grupo.
Passando uma década a limpo
Contendo 400 páginas, o livro (Editora DBA) de Ricardo Alexandre é um amplo registro - fundamentado em fatos, não em opiniões ou análises - do estouro do BRock, cujo marco inicial - o single de Você Não Soube me Amar - completou 20 anos. O autor queria que o livro se assemelhasse a uma mega-reportagem, restrita não apenas aos artistas de sua predileção pessoal, mas que englobasse todos os nomes realmente importantes do período. O autor, de 28 anos, é jornalista (atualmente edita a revista Frente e já passou pelo jornal O Estado de São Paulo e pelo site Usina do Som) e define assim Dias de Luta: "O livro trata de como uma geração tosca musicalmente tomou para si a missão de juntar os dois Brasis que existiam até então: o Brasilzão populoso e esculhambado de Odair José e Amado Batista e o Brasil pequenino e cool de Caetano Veloso e Walter Smetak."
O título do livro foi retirado de uma canção do Ira!, mas é sobre a Legião Urbana que recai o grande atrativo do volume. Ricardo Alexandre foi o jornalista a quem Renato Russo concedeu sua última entrevista, três meses antes de sua morte em 1996. A íntegra da conversa continuava inédita até agora. O papo com Russo é apenas uma das (mais de 100) entrevistas que Ricardo fez exclusivamente para o livro, com um total de 77 artistas. O autor não se restringiu a uma ordem cronológica "careta" - preferiu dividir o livro em capítulos temáticos, por "movimentos" do nosso rock - e procura não falar apenas de música. Tão importante para a somatória final de Dias de Luta quanto o rock é a abertura democrática que o Brasil viveu em meados dos anos 80 e a própria modernização de nossa cultura jovem (que teve o rock como grande expressão).
No fim das contas, Dias de Luta procura olhar todo o panorama do período, sem destacar banda alguma em especial. Ainda que surjam algumas figuras emblemáticas, como o RPM ("Eles incorporaram o mito do rock'n'roll como ninguém", diz Ricardo), o contexto inteiro e abrangente é o que se destaca. "O importante para mim foi reconstituir o ambiente, não ficar centrado nos personagens", fala o autor.
Dos oito, sobraram cinco
A Vida Até Parece uma Festa (Record), que tem como subtítulo Toda a História dos Titãs, é menos ambicioso em termos de contexto (afinal, fala só de um grupo). Mas quer, em compensação, encerrar em seus 18 capítulos tudo o que há para se saber sobre a banda paulista, que completou, não por acaso, 20 anos de atividade no mês de lançamento do livro. A dupla de jornalistas cariocas que assina o livro não ficou apenas na história oficial dos Titãs: concentrou-se também em causos pouco conhecidos, pesquisados minuciosamente ao longo de meses de colaboração com os integrantes do grupo.
Assim como o título da biografia, extraído de Diversão , cada um dos capítulos é intitulado com trechos de letras de canções da banda. A formação embrionária da banda (quando alguns de seus integrantes se conheceram ainda na época de colégio, nos anos 70), o começo como Titãs do Iê-Iê-Iê - e a fase pseudobrega - a virada estética com a tríade Cabeça Dinossauro (86), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (87) e Ô Blesq Blom (89) e o sucesso atingido com o Acústico MTV (96), tudo isso está mostrado no volume. Cerca de 50 nomes, muitos dos quais sugeridos pelos próprios Titãs, entre amigos, empresários, colaboradores e jornalistas, entraram com seus depoimentos.
Como o que não faltam são sobressaltos na carreira dos Titãs, A Vida Até Parece uma Festa é rico em momentos marcantes. A biografia estava praticamente encerrada quando Nando Reis anunciou, no fim de setembro, que estava se separando do grupo. Resultado: um novo capítulo teve de ser incluído, às pressas, e a capa foi mudada para acomodar apenas os Titãs "sobreviventes". A traumática morte de Marcelo Fromer, em 2001, durante as gravações de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana , disco mais recente do grupo, também merece destaque. Assim como as outras trocas de formação dos Titãs - que começaram em oito, e agora são apenas cinco: a saída de Arnaldo Antunes, em 1992, e as menos lembradas defecções de Ciro Pessoa e André Jung (baterista que trocou de posto com Charles Gavin, vindo do Ira!).
Passando uma década a limpo
Contendo 400 páginas, o livro (Editora DBA) de Ricardo Alexandre é um amplo registro - fundamentado em fatos, não em opiniões ou análises - do estouro do BRock, cujo marco inicial - o single de Você Não Soube me Amar - completou 20 anos. O autor queria que o livro se assemelhasse a uma mega-reportagem, restrita não apenas aos artistas de sua predileção pessoal, mas que englobasse todos os nomes realmente importantes do período. O autor, de 28 anos, é jornalista (atualmente edita a revista Frente e já passou pelo jornal O Estado de São Paulo e pelo site Usina do Som) e define assim Dias de Luta: "O livro trata de como uma geração tosca musicalmente tomou para si a missão de juntar os dois Brasis que existiam até então: o Brasilzão populoso e esculhambado de Odair José e Amado Batista e o Brasil pequenino e cool de Caetano Veloso e Walter Smetak."
O título do livro foi retirado de uma canção do Ira!, mas é sobre a Legião Urbana que recai o grande atrativo do volume. Ricardo Alexandre foi o jornalista a quem Renato Russo concedeu sua última entrevista, três meses antes de sua morte em 1996. A íntegra da conversa continuava inédita até agora. O papo com Russo é apenas uma das (mais de 100) entrevistas que Ricardo fez exclusivamente para o livro, com um total de 77 artistas. O autor não se restringiu a uma ordem cronológica "careta" - preferiu dividir o livro em capítulos temáticos, por "movimentos" do nosso rock - e procura não falar apenas de música. Tão importante para a somatória final de Dias de Luta quanto o rock é a abertura democrática que o Brasil viveu em meados dos anos 80 e a própria modernização de nossa cultura jovem (que teve o rock como grande expressão).
No fim das contas, Dias de Luta procura olhar todo o panorama do período, sem destacar banda alguma em especial. Ainda que surjam algumas figuras emblemáticas, como o RPM ("Eles incorporaram o mito do rock'n'roll como ninguém", diz Ricardo), o contexto inteiro e abrangente é o que se destaca. "O importante para mim foi reconstituir o ambiente, não ficar centrado nos personagens", fala o autor.
Dos oito, sobraram cinco
A Vida Até Parece uma Festa (Record), que tem como subtítulo Toda a História dos Titãs, é menos ambicioso em termos de contexto (afinal, fala só de um grupo). Mas quer, em compensação, encerrar em seus 18 capítulos tudo o que há para se saber sobre a banda paulista, que completou, não por acaso, 20 anos de atividade no mês de lançamento do livro. A dupla de jornalistas cariocas que assina o livro não ficou apenas na história oficial dos Titãs: concentrou-se também em causos pouco conhecidos, pesquisados minuciosamente ao longo de meses de colaboração com os integrantes do grupo.
Assim como o título da biografia, extraído de Diversão , cada um dos capítulos é intitulado com trechos de letras de canções da banda. A formação embrionária da banda (quando alguns de seus integrantes se conheceram ainda na época de colégio, nos anos 70), o começo como Titãs do Iê-Iê-Iê - e a fase pseudobrega - a virada estética com a tríade Cabeça Dinossauro (86), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (87) e Ô Blesq Blom (89) e o sucesso atingido com o Acústico MTV (96), tudo isso está mostrado no volume. Cerca de 50 nomes, muitos dos quais sugeridos pelos próprios Titãs, entre amigos, empresários, colaboradores e jornalistas, entraram com seus depoimentos.
Como o que não faltam são sobressaltos na carreira dos Titãs, A Vida Até Parece uma Festa é rico em momentos marcantes. A biografia estava praticamente encerrada quando Nando Reis anunciou, no fim de setembro, que estava se separando do grupo. Resultado: um novo capítulo teve de ser incluído, às pressas, e a capa foi mudada para acomodar apenas os Titãs "sobreviventes". A traumática morte de Marcelo Fromer, em 2001, durante as gravações de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana , disco mais recente do grupo, também merece destaque. Assim como as outras trocas de formação dos Titãs - que começaram em oito, e agora são apenas cinco: a saída de Arnaldo Antunes, em 1992, e as menos lembradas defecções de Ciro Pessoa e André Jung (baterista que trocou de posto com Charles Gavin, vindo do Ira!).
Compre já! Para comprar o livro Dias de Luta, de Ricardo Alexandre, clique
|
Compre já! Para comprar o livro A Vida Até Parece uma Festa, de Luiz André Alzer e Hérica Marbo, clique
|