O samba de Martinho da Vila revisto e ampliado
Relançamentos de dez álbuns do compositor, em edições caprichadas, lançam luz sobre seu estilo único de partido alto
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
14/03/2003
Ainda não foi nesse Carnaval que passou que a Vila Isabel do carioca Martinho José Ferreira - Martinho da Vila - voltou ao grupo especial no tradicional campeonato de escolas de samba do Rio de Janeiro. Como que para compensar isso, os admiradores do samba malemolente do compositor ganham um presente: a gravadora BMG acabou de relançar em CD dez discos absolutamente clássicos de Martinho, da época em que o cantor e compositor era contratado da antiga RCA. O pacotaço inclui Maravilha de Cenário (75), Presente (77), Terreiro, Sala e Salão (79), Sentimentos (81), Verso & Reverso (82), Novas Palavras(83), Martinho da Vila Isabel (84), Criações e Recriações (85), Batuqueiro (86) e Malandro (87).
As reedições completam a discografia em CD de Martinho, afinal com o cuidado técnico e o apuro gráfico (incluindo as letras das músicas e a reconstituição das inconfundíveis capas de Elifas Andreato) que o sambista merece. Infelizmente, seus seis primeiros trabalhos gravados na mesma RCA (lançados originalmente de 1969 a 1974) foram reeditados de forma irregular e esporádica, sem o cuidado dos atual pacote - que traz fichas técnicas completas e até pequenos textos que dão um panorama do trabalho e do momento que Martinho vivia na época das gravações.
Se é preciso apontar os melhores, sem dúvida são Maravilha de Cenário e Sentimentos. O primeiro traz Aquarela Brasileira, samba-enredo de Silas de Oliveira imortalizado por essa versão de Martinho, Você Não Passa de Uma Mulher e Lá na Roça (Mês de Maria). Martinho define o álbum como "um panorama do Brasil". Já o disco de 1981 (que o autor classifica como seu trabalho mais romântico) reúne, por exemplo, Ex-amor, Meu País, Calango da Lua, Me Faz um Dengo e Daquele Amor, Nem me Fale. Quanta inspiração! Pode se dizer que são os discos que cristalizam da melhor maneira o estilo único de interpretação de Martinho e sua peculiar maneira de combinar o partido alto urbano com influências da música regional (como o calango) e referências afro-brasileiras.
Verso & Reverso, diferente do clima geral dos discos de Martinho, vem sombrio. Músicas como Efeitos da Evolução, Pensando Bem, Reversos da Vida e Cravo Branco falam de extermínio, fome e tiros, refletindo o clima político da época, no Brasil pós-Anistia e Riocentro. O forte em Novas Palavras são os pot-pourris com participação de Aniceto do Império (Partido-Alto da Antiga) e Tião Motorista (Roda de Samba-de-Roda) e ainda Festa de Candomblé, com vários pontos religiosos. Martinho também registra Clara, uma homenagem a Clara Nunes, que morreu naquele mesmo ano. Já Martinho da Vila Isabel homenageia Noel Rosa: a primeira faixa é Minha Viola, do poeta da Vila. O mega-sucesso foi Na Aba - que adicionou uma expressão nova ao vocabulário popular e depois foi citada pelo Só Pra Contrariar - e, para completar, o registro do samba-enredo Sonho de um Sonho é magnífico.
Em Batuqueiro, Martinho define o que é pagode: "é uma festa e como gênero de música é qualquer samba com a linguagem e temas do cotidiano". Palavra de mestre! E para ilustrar, só podia mesmo ser com Pagode da Saideira (Não Vou Tomar Mais Saideira). O disco foi gravado no ano da explosão do pagode, com o aparecimento simultâneo de Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e outros intérpretes de raiz na mídia.
Vale ainda citar emPresente a brasileiríssima Vai ou Não Vai; em Criações e Recriações a sensível Recriando a Criação e duas parcerias om João Bosco (Odilê, Odilá e Traço de União) e em Terreiro Sala e Salão, a clássica Deixa a Fumaça Entrar. Fechando o pacote, Malandro tem Leila Diniz, a democrática homenagem de Martinho/Ney Lopes à atriz revolucionária.
As reedições completam a discografia em CD de Martinho, afinal com o cuidado técnico e o apuro gráfico (incluindo as letras das músicas e a reconstituição das inconfundíveis capas de Elifas Andreato) que o sambista merece. Infelizmente, seus seis primeiros trabalhos gravados na mesma RCA (lançados originalmente de 1969 a 1974) foram reeditados de forma irregular e esporádica, sem o cuidado dos atual pacote - que traz fichas técnicas completas e até pequenos textos que dão um panorama do trabalho e do momento que Martinho vivia na época das gravações.
Se é preciso apontar os melhores, sem dúvida são Maravilha de Cenário e Sentimentos. O primeiro traz Aquarela Brasileira, samba-enredo de Silas de Oliveira imortalizado por essa versão de Martinho, Você Não Passa de Uma Mulher e Lá na Roça (Mês de Maria). Martinho define o álbum como "um panorama do Brasil". Já o disco de 1981 (que o autor classifica como seu trabalho mais romântico) reúne, por exemplo, Ex-amor, Meu País, Calango da Lua, Me Faz um Dengo e Daquele Amor, Nem me Fale. Quanta inspiração! Pode se dizer que são os discos que cristalizam da melhor maneira o estilo único de interpretação de Martinho e sua peculiar maneira de combinar o partido alto urbano com influências da música regional (como o calango) e referências afro-brasileiras.
Verso & Reverso, diferente do clima geral dos discos de Martinho, vem sombrio. Músicas como Efeitos da Evolução, Pensando Bem, Reversos da Vida e Cravo Branco falam de extermínio, fome e tiros, refletindo o clima político da época, no Brasil pós-Anistia e Riocentro. O forte em Novas Palavras são os pot-pourris com participação de Aniceto do Império (Partido-Alto da Antiga) e Tião Motorista (Roda de Samba-de-Roda) e ainda Festa de Candomblé, com vários pontos religiosos. Martinho também registra Clara, uma homenagem a Clara Nunes, que morreu naquele mesmo ano. Já Martinho da Vila Isabel homenageia Noel Rosa: a primeira faixa é Minha Viola, do poeta da Vila. O mega-sucesso foi Na Aba - que adicionou uma expressão nova ao vocabulário popular e depois foi citada pelo Só Pra Contrariar - e, para completar, o registro do samba-enredo Sonho de um Sonho é magnífico.
Em Batuqueiro, Martinho define o que é pagode: "é uma festa e como gênero de música é qualquer samba com a linguagem e temas do cotidiano". Palavra de mestre! E para ilustrar, só podia mesmo ser com Pagode da Saideira (Não Vou Tomar Mais Saideira). O disco foi gravado no ano da explosão do pagode, com o aparecimento simultâneo de Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e outros intérpretes de raiz na mídia.
Vale ainda citar emPresente a brasileiríssima Vai ou Não Vai; em Criações e Recriações a sensível Recriando a Criação e duas parcerias om João Bosco (Odilê, Odilá e Traço de União) e em Terreiro Sala e Salão, a clássica Deixa a Fumaça Entrar. Fechando o pacote, Malandro tem Leila Diniz, a democrática homenagem de Martinho/Ney Lopes à atriz revolucionária.