O segundo solo de Nando Reis

Compositor requisitado, o baixista dos Titãs encontra tempo – e músicas – para nova investida individual em disco: Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro

Silvio Essinger
23/08/2000
A impressão é que baixista dos Titãs, Nando Reis, não consegue ficar parado. Depois de ter composições gravadas por Marisa Monte, Cássia Eller (nada menos que quatro só em seu último disco, Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo, que ele também produziu), Jota Quest, Skank, Sandra de Sá e, é claro, Titãs, ele lança no próximo dia 29 o disco Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro, só com músicas suas. "Ah, não foram tantas músicas gravadas assim pelos outros! Muitas eram parcerias", reclama, em tom brincalhão. Este segundo disco solo do músico – em 1995, no último recesso dos Titãs, ele lançou 12 de Janeiro – reúne canções compostas entre 1996 e 1999. Ou seja, aquelas que as cantoras e bandas outras não conseguiram levar. "Eu guardava sempre as mais queridas, as que ficavam bem na minha voz e as que fossem mais esquisitas", conta.

Bastante variado, Para Quando o Arco Íris... traz desde faixas mais pops, como Dessa Vez, Frases Mais Azuis e Hey Baby (que tem vocais de Cássia Eller e de Rogério Flausino, do Jota Quest), a rocks vigorosos como a faixa-título e No Recreio. No meio do caminho, aparecem ainda sofisticadas baladas como Nosso Amor e Relicário. "De alguma forma, esse disco integra todo esse meu lado de compositor com o de membro dos Titãs", explica Nando. No release do disco, o ex-titã Arnaldo Antunes chama a atenção para a forma com que, em suas letras, o amigo "desloca elementos materiais do cotidiano e acende sobre eles novas luzes". "É brilhante, eu mesmo não tinha percebido", elogia. "Realmente faz parte do meu jeito dar atenção a coisas prosaicas e ver a beleza que elas têm. A felicidade não depende de coisas tão glamurizadas." Muitas das faixas do disco foram compostas pelo baixista durante turnês dos Titãs. "Em hotel é muito mais fácil de compor. Tenho quatro filhos e, quando estou em casa, prefiro me dedicar a eles e à minha mulher", diz.

Para Quando o Arco-Íris foi gravado ao longo de três semanas (para variar durante um intervalo de turnê dos Titãs) na cidade de Seattle, nos Estados Unidos, com o produtor Jack Endino. Foi Jack quem pilotou a mesa de som no primeiro disco do Nirvana (e deu a base para o raivoso som grunge), além de produzir três álbuns dos Titãs: Titanomaquia (1992), Domingo (1995) e o último As Dez Mais (1999). Durante as gravações com os Titãs, no ano passado, Nando viu o show da banda Maktub e ficou encantado com o trabalho de timbres do tecladista Alex Veley – e decidiu que ele estaria no seu solo. Pescou dois músicos brasileiros – o guitarrista Walter Villaça e o baixista Fernando Nunes, da banda de Cássia Eller – e pediu a Endino uma indicação de baterista. Veio Barrett Martin, que tocou com o R.E.M. em seu último disco, Up, e fez parte do finado grupo Screaming Trees. Sem muitas dificuldades, a banda binacional se entendeu e começou as gravações. "O fato de juntar pessoas que nunca haviam tocado juntas resultou numa sonoridade diferente e única para o disco", diz Nando.

Auxílio luxuoso e inesperado
Uma noite, numa pausa das gravações, Nando e Barrett foram ver o show de uma banda paralela do guitarrista do R.E.M., Peter Buck. "Ele disse que gostaria de nos visitar no estúdio. Apareceu e acabou gravando – foi inesperado e espontâneo", diz. Buck tocou bandolim (aquele mesmo de músicas do R.E.M., como Losing My Religion) nas faixas Dessa Vez e Frases Mais Azuis e prometeu aparecer no Brasil para participar de alguns shows de Nando – as gravações do novo R.E.M. infelizmente melaram seus planos. De qualquer forma, Barrett Martin e Alex Veley são presenças confirmadas na turnê solo do disco de Nando, que começa em outubro e deve passar pelas principais capitais do Brasil. Ainda não há planos de lançamento do disco nos Estados Unidos, embora esta seja uma vontade do músico. "É curioso. O Jack Endino se queixa de que os melhores trabalhos que ele fez não foram lançados lá", conta.

O novo disco de Nando Reis abre a temporada solo dos Titãs – Paulo Miklos e Sérgio Brito estão com discos prontos e Branco Melo já está na fase de arranjos do seu. O baixista, por sua vez, acabou de finalizar uma parceria com Toni Bellotto, guitarrista da banda: a música tema do filme Bellini e a Esfinge, baseado em livro escrito por Toni. Só em abril do ano que vem, os Titãs retomam os ensaios para começar o seu primeiro disco para a Abril Music. Como até lá vai estar envolvido com os seus shows solo, Nando nem pensa na possibilidade de fazer músicas para cantoras ou outros grupos. "Preciso focar a composição nos Titãs. É uma grande responsabilidade", diz.