O soul verde-amarelo de Hyldon na grande rede
Decano da black music brasileira inaugura site oficial e planeja relançamentos de sua obra dos anos 70
Ricardo Schott
23/10/2002
O soulman baiano-niteroiense (residindo agora em Teresópolis) Hyldon inaugurou há pouco tempo seu site oficial, localizado no endereço www.hyldon.com.br. Saindo praticamente na frente no ramo da mídia eletrônica do soul brasileiro - os outros dois pilares do estilo, Cassiano e Tim Maia, ainda não têm endereços oficiais, apesar da importância de seus nomes e de suas contribuições -, Hyldon reuniu em seu endereço oficial informações sobre seus três projetos mais importantes: sua própria carreira solo, seus projetos para crianças (que renderam o disco Meu primeiro CD e também, há anos, músicas feitas para o personagem Seu Boneco, de Lug de Paula) e a produtora que mantém junto com a esposa Zoé Ruth, DPA produções. As três atuais vertentes de trabalho de Hyldon estão disponíveis no site.
Mesmo que certos detalhes importantes ainda não estejam disponíves - como letras das músicas, maiores informações sobre os discos que Hyldon gravou, capas raras, etc - o site é uma boa fonte de informações para quem gosta do cantor-compositor Hyldon ou deseja entender melhor o caminhos percorridos pelo som black no Brasil. Na seção de notícias do site, há uma série de links para entrevistas, matérias e resenhas lançadas recentemente na mídia. Algumas das entrevistas são particularmente reveladoras, com Hyldon contando detalhes do início de sua parceria com Tim, Cassiano e outros nomes associados à soul music. Hyldon, no início da carreira, associou-se por vias tortas à Jovem Guarda (por intermédio de seu primo Pedrinho, que tocava nos Fevers), tocou em discos de Wilson Simonal, do próprio Tim Maia, dos Diagonais. Compôs músicas para artistas como Robert Livi, Jerry Adriani, Trio Ternura, Toni Tornado, produziu Odair José, compôs em parceria com Caetano Veloso (uma desconhecida música chamada Primeira Pessoa do Singular), etc. Mais um daqueles raros casos de músico-cantor-compositor que passa o rodo na música popular brasileira.
Após o início da carreira, Hyldon ficou um tempo nos bastidores e chegou a produzir vários discos de sucesso para a antiga Philips, entre eles coletâneas como 100 Anos de Samba, Os Caretas, Som Bateau, etc. Numa dessas, acabou produzindo alguns artistas do segmento popular da garavdora, como Wanderléia e Odair José. Foi numa dessas sessões de gravação que, devido ao atraso de um artista, Hyldon acabou resolvendo gravar uma composição de sua autoria, Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda . Problemas com a diretoria da gravadora, segundo o cantor, atrasaram o lançamento do compacto em alguns meses, mas logo logo o single saiu, com bastante sucesso, seguido pelo primeiro LP e por mais um punhado de hits (As Dores do Mundo, Acontecimento, Sábado e Domingo, Na Sombra de uma Árvore, Vamos Passear de Bicicleta?, etc).
Desde o final da década de 90, Hyldon vem sendo redescoberto pelas novas gerações e revisitando sua própria obra. Seu último disco oficial saiu em 1993 por um pequeno selo, mas recentemente duas bandas alcançaram o sucesso com canções de sua autoria: o Kid Abelha (com a já citada Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda ) e o Jota Quest (com As Dores do Mundo , embora em versão bastante modificada, mais disco). Saíram também versões de sucessos seus feitas por ninguém menos que Wando e Christian & Ralf, e vários outros artistas e bandas recorrem ao repertório de Hyldon em seus shows. O mesmo Kid Abelha incluiu Na Rua, Na Chuva... em seu recém-gravado Acústico MTV e aproveitou para ler um telegrama que Hyldon havia mandado para Paula dias antes ("Fala galera do Kid. Estou daqui sempre torcendo por vocês, senta o pau. Na dúvida, siga a intuição").
Outros lançamentos que chegaram às lojas com o nome do cantor recentemente foram os relançados Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda... (Universal, 1977) e Nossa História de Amor (Sony, 1977), remasterizados pelo titâ Charles Gavin, e a coletânea Velhos Camaradas 2: Tim Maia, Cassiano e Hyldon (Universal), trazendo faixas raras e inéditas. Aproximando mais o som de Hyldon do rap e do discurso social, o rapper MV Bill incluiu samples de músicas do cantor em faixas suas e a já citada Na Rua, Na Chuva... também apareceu recentemente na trilha do filme Cidade de Deus. Esse excesso de atenção àquele que parece ser o maior sucesso do cantor é prejudicial, uma vez que Hyldon tem outras músicas tão boas ou melhores, e várias inéditas.
Mas o projeto que mais vem tomando o tempo de Hyldon é o relançamento, com vocais e partes instrumentais refeitas, de seu segundo álbum, o desconhecido Deus, a Natureza e a Música, lançado em 1976 pela PolyGram sem muita repercussão. Na época, o disco teve tiragem reduzida e, segundo o próprio Hyldon disse recentemente, foi estragado pelo próprio processo de gravação. O LP de Hyldon - que segundo ele, deve ter vendido cerca de 5000 cópias - foi um dos primeiros a ser gravados no recém-criado estúdio da PolyGram na Barra da Tijuca, e foi lançado numa época de total transição dentro da gravadora, quando mudanças na matriz internacional provocaram até mesmo a modificação do nome da gravadora (de Phonogram para PolyGram, com sensível perda de valor dos selos Polydor e Philips).
"Quando o estúdio mudou para a Barra, teve problemas de construção. O estúdio foi construído em lugar errado, com equalização errada... Tanto é que o estúdio até acabou, porque nunca conseguiram acertar o som", disse o cantor numa entrevista recente. Problemas pessoais e até mesmo vocais (já que ele hoje diz que não gosta da maneira como cantava naquela época) marcaram a gravação do disco, cuja refeitura vem sendo feita de modo a limar as características que podem tê-lo prejudicado na época de seu primeiro lançamento. Entre os músicos que vêm ajudando Hyldon nessa empreitada estão os músicos da banda soul-jazz Azymuth, presentes às sessões originais do LP. Da ficha técnica também constam nomes como Robson Jorge, Banda Black Rio, Márcio Montarroyos, Carlos Dafé e Waltel Branco.
O projeto do disco, que ainda está sendo finalizado e não tem uma data certa para terminar - no site, Hyldon até brinca dizendo que o CD "provavelmente entrará para o Guiness Book como a produção mais longa da história fonográfica" - apareceu porque Hyldon queria "salvar" o disco, já que a tendência seria o seu relançamento de qualquer maneira pela gravadora, visto que seus discos antigos estão voltando às lojas em CD. Agora é aguardar maiores informações sobre o disco e sobre outros projetos no site do cantor - que por sinal tem um visual muito bem feito e prático.
Mesmo que certos detalhes importantes ainda não estejam disponíves - como letras das músicas, maiores informações sobre os discos que Hyldon gravou, capas raras, etc - o site é uma boa fonte de informações para quem gosta do cantor-compositor Hyldon ou deseja entender melhor o caminhos percorridos pelo som black no Brasil. Na seção de notícias do site, há uma série de links para entrevistas, matérias e resenhas lançadas recentemente na mídia. Algumas das entrevistas são particularmente reveladoras, com Hyldon contando detalhes do início de sua parceria com Tim, Cassiano e outros nomes associados à soul music. Hyldon, no início da carreira, associou-se por vias tortas à Jovem Guarda (por intermédio de seu primo Pedrinho, que tocava nos Fevers), tocou em discos de Wilson Simonal, do próprio Tim Maia, dos Diagonais. Compôs músicas para artistas como Robert Livi, Jerry Adriani, Trio Ternura, Toni Tornado, produziu Odair José, compôs em parceria com Caetano Veloso (uma desconhecida música chamada Primeira Pessoa do Singular), etc. Mais um daqueles raros casos de músico-cantor-compositor que passa o rodo na música popular brasileira.
Após o início da carreira, Hyldon ficou um tempo nos bastidores e chegou a produzir vários discos de sucesso para a antiga Philips, entre eles coletâneas como 100 Anos de Samba, Os Caretas, Som Bateau, etc. Numa dessas, acabou produzindo alguns artistas do segmento popular da garavdora, como Wanderléia e Odair José. Foi numa dessas sessões de gravação que, devido ao atraso de um artista, Hyldon acabou resolvendo gravar uma composição de sua autoria, Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda . Problemas com a diretoria da gravadora, segundo o cantor, atrasaram o lançamento do compacto em alguns meses, mas logo logo o single saiu, com bastante sucesso, seguido pelo primeiro LP e por mais um punhado de hits (As Dores do Mundo, Acontecimento, Sábado e Domingo, Na Sombra de uma Árvore, Vamos Passear de Bicicleta?, etc).
Desde o final da década de 90, Hyldon vem sendo redescoberto pelas novas gerações e revisitando sua própria obra. Seu último disco oficial saiu em 1993 por um pequeno selo, mas recentemente duas bandas alcançaram o sucesso com canções de sua autoria: o Kid Abelha (com a já citada Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda ) e o Jota Quest (com As Dores do Mundo , embora em versão bastante modificada, mais disco). Saíram também versões de sucessos seus feitas por ninguém menos que Wando e Christian & Ralf, e vários outros artistas e bandas recorrem ao repertório de Hyldon em seus shows. O mesmo Kid Abelha incluiu Na Rua, Na Chuva... em seu recém-gravado Acústico MTV e aproveitou para ler um telegrama que Hyldon havia mandado para Paula dias antes ("Fala galera do Kid. Estou daqui sempre torcendo por vocês, senta o pau. Na dúvida, siga a intuição").
Outros lançamentos que chegaram às lojas com o nome do cantor recentemente foram os relançados Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda... (Universal, 1977) e Nossa História de Amor (Sony, 1977), remasterizados pelo titâ Charles Gavin, e a coletânea Velhos Camaradas 2: Tim Maia, Cassiano e Hyldon (Universal), trazendo faixas raras e inéditas. Aproximando mais o som de Hyldon do rap e do discurso social, o rapper MV Bill incluiu samples de músicas do cantor em faixas suas e a já citada Na Rua, Na Chuva... também apareceu recentemente na trilha do filme Cidade de Deus. Esse excesso de atenção àquele que parece ser o maior sucesso do cantor é prejudicial, uma vez que Hyldon tem outras músicas tão boas ou melhores, e várias inéditas.
Mas o projeto que mais vem tomando o tempo de Hyldon é o relançamento, com vocais e partes instrumentais refeitas, de seu segundo álbum, o desconhecido Deus, a Natureza e a Música, lançado em 1976 pela PolyGram sem muita repercussão. Na época, o disco teve tiragem reduzida e, segundo o próprio Hyldon disse recentemente, foi estragado pelo próprio processo de gravação. O LP de Hyldon - que segundo ele, deve ter vendido cerca de 5000 cópias - foi um dos primeiros a ser gravados no recém-criado estúdio da PolyGram na Barra da Tijuca, e foi lançado numa época de total transição dentro da gravadora, quando mudanças na matriz internacional provocaram até mesmo a modificação do nome da gravadora (de Phonogram para PolyGram, com sensível perda de valor dos selos Polydor e Philips).
"Quando o estúdio mudou para a Barra, teve problemas de construção. O estúdio foi construído em lugar errado, com equalização errada... Tanto é que o estúdio até acabou, porque nunca conseguiram acertar o som", disse o cantor numa entrevista recente. Problemas pessoais e até mesmo vocais (já que ele hoje diz que não gosta da maneira como cantava naquela época) marcaram a gravação do disco, cuja refeitura vem sendo feita de modo a limar as características que podem tê-lo prejudicado na época de seu primeiro lançamento. Entre os músicos que vêm ajudando Hyldon nessa empreitada estão os músicos da banda soul-jazz Azymuth, presentes às sessões originais do LP. Da ficha técnica também constam nomes como Robson Jorge, Banda Black Rio, Márcio Montarroyos, Carlos Dafé e Waltel Branco.
O projeto do disco, que ainda está sendo finalizado e não tem uma data certa para terminar - no site, Hyldon até brinca dizendo que o CD "provavelmente entrará para o Guiness Book como a produção mais longa da história fonográfica" - apareceu porque Hyldon queria "salvar" o disco, já que a tendência seria o seu relançamento de qualquer maneira pela gravadora, visto que seus discos antigos estão voltando às lojas em CD. Agora é aguardar maiores informações sobre o disco e sobre outros projetos no site do cantor - que por sinal tem um visual muito bem feito e prático.