O talento de Erasmo Carlos em caixa histórica
O parceiro de Roberto ganha uma luxuosa reedição de seus melhores discos, no box de 15 CDs Mesmo que Seja Eu
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
12/12/2002
"Para mim é uma honra ser merecedor de um trabalho assim, poucos artistas no mundo têm uma caixa como esta!". Em coletiva dada à imprensa nas dependências da Universal Music, Erasmo Carlos não escondeu a emoção diante do trabalho de garimpo do pesquisador Marcelo Fróes (produção executiva) e do filho Leonardo Esteves (coordenação geral) - tudo sob o acompanhamento do cantor - que resultou na bela caixa Mesmo que Seja Eu.
O box, em formato retangular e ilustrado externamente em estilo próprio dos anos 70 (incluindo uma foto do Tremendão da época) é realmente um trabalho de gala, como poucas vezes se viu no Brasil. São 15 CDs, 12 de carreira, do período que o artista esteve nas gravadoras que hoje estão sob o selo Universal: Philips, Polydor, Phonogram e Polygram. Completa o pacote um CD com músicas em espanhol - que não deixa de ser uma raridade - e dois discos organizados especialmente para a compilação: Erasmo e Amigos e Erasmo Raridades.
"A idéia tomou forma há três anos e, desde então, ouvimos muitas fitas caseiras, fomos atrás das autorizações dos autores das músicas - tinha cara que já morreu, que pirou...", conta Erasmo, confessando que chegou às lágrimas ao ouvir certas coisas incluídas na caixa. Não é sem motivo que Erasmo poderia chegar ao pranto. Afinal, é a primeira vez que sua obra - não raro relegada à segundo plano, à sombra do enorme sucesso do parceiro Roberto Carlos - é alvo de tal reverência e contextualização histórica.
A opção que Erasmo fez pelo low-profile (a qual o mercado por vezes corroborou) pode ter obscurecido sua obra. Mas os cultores da evolução da música brasileira sempre souberam dar a Erasmo seu devido espaço. Doze dos 15 discos da caixa acompanham os grandes anos de Erasmo, do desmame da estética da Jovem Guarda à queda na brasilidade dos anos 70 (com direito a incursões pela black music e pelo samba-rock), até chegar à maturidade pop(ularesca) dos anos 80.
Mesmo que Seja Eu é acompanhada de um livreto com fotos e texto, que conta a trajetória de Erasmo. "Eu curti muito a parte La Bamba, que é como eu chamo meu início de carreira", reconhece o cantor. "Pela primeira vez, as informações estão certas. Chega desse negócio de dizer que eu era da banda The Sputniks, a minha banda foi a Snakes!", comenta Erasmo, referindo-se à mitológica banda que teria reunido ele, Tim Maia e Roberto Carlos no final dos anos 50. "Além do mais, (a caixa) ainda tem um prefácio do André Midani, talvez o homem de disco que eu mais admire no mundo", elogia o cantor e compositor.
A caixa fez Erasmo redescobrir coisas de que nem se lembrava mais de ter gravado e também de alguns sufocos pelos quais passou na carreira. "A gravação que o Marcelo Fróes achou de Vida Blue, por exemplo, era crua, só tinha minha voz-guia. Cordilheira, que Simone regravou anos depois, era bastante soturna...", cita o cantor. "Na época de Caderninho eu estava proibido de tocar em várias cidades", lembrando da perseguição da ditadura militar - que, em seu caso, era mais comportamental do que propriamente política.
Erasmo considera os trabalhos dos anos 70 - o cultuado Carlos, Erasmo (71), que tem a polêmica Maria Joana, uma das primeiras (se não a primeira) canção pop brasileira a fazer referência à maconha, Sonhos e Memórias (72), 1990 - Projeto Salva Terra (74), Banda dos Contentes (76) e Pelas Esquinas de Ipanema (78) - uma fase de crescimento: "Saí da fase do carrão e do broto da Jovem Guarda e comecei a ver o mundo de outra maneira. E olha que horizonte que descobri: parei de falar da namorada e passei para a mulher!", brinca.
O amigo de fé, irmão camarada também diz que, por ingenuidade ou mesmo por ter que ceder à pressões, já teve que fazer coisas com as quais não concordava. "Vocé está vendo algum sapo naquela lagoa ali fora? Pois então, estão todos aqui dentro!", ri, apontando para a própria garganta. "Já assinei muito papel em branco, saí de órbita por crises profisisonais e pessoais. Hoje tenho meus caminhos definidos e o apoio total de meu filho", diz, referindo-se a Leonardo, que assumiu a direção da carreira do pai.
Da década de 80, a caixa inclui Erasmo Carlos Convida (80), Mulher (81), Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor (82), Buraco Negro (84), Erasmo Carlos (85), Abra Seus Olhos (86) e Apesar do Tempo Claro... (88). O disco Mulher foi o de maior sucesso na carreira de Erasmo. "Eu o considero o mais autoral e o que reflete o máximo de minha felicidade. Lembro que o anterior, o Erasmo Carlos Convida, vendeu bastante também, mas a crítica falou que, cercado de gente boa, era fácil. Então o Mulher foi um prêmio, uma prova para mim mesmo que poderia fazer sucesso", relembra.
Ao final da coletiva, Erasmo não é poupado de mais uma emoção. O filho Leonardo anuncia que tem um "presentinho" para ele e entrega um quadro, retratando a própria caixa de CDs, estilizada. "Isso eu chamo de 'assassinato legal'... A pessoa dá coisas que emocionam tanto, que um dia o cara tem um ataque do coração! Eu devo tudo às pessoas que me inspiraram a fazer minha música", finaliza e agradece.
O box, em formato retangular e ilustrado externamente em estilo próprio dos anos 70 (incluindo uma foto do Tremendão da época) é realmente um trabalho de gala, como poucas vezes se viu no Brasil. São 15 CDs, 12 de carreira, do período que o artista esteve nas gravadoras que hoje estão sob o selo Universal: Philips, Polydor, Phonogram e Polygram. Completa o pacote um CD com músicas em espanhol - que não deixa de ser uma raridade - e dois discos organizados especialmente para a compilação: Erasmo e Amigos e Erasmo Raridades.
"A idéia tomou forma há três anos e, desde então, ouvimos muitas fitas caseiras, fomos atrás das autorizações dos autores das músicas - tinha cara que já morreu, que pirou...", conta Erasmo, confessando que chegou às lágrimas ao ouvir certas coisas incluídas na caixa. Não é sem motivo que Erasmo poderia chegar ao pranto. Afinal, é a primeira vez que sua obra - não raro relegada à segundo plano, à sombra do enorme sucesso do parceiro Roberto Carlos - é alvo de tal reverência e contextualização histórica.
A opção que Erasmo fez pelo low-profile (a qual o mercado por vezes corroborou) pode ter obscurecido sua obra. Mas os cultores da evolução da música brasileira sempre souberam dar a Erasmo seu devido espaço. Doze dos 15 discos da caixa acompanham os grandes anos de Erasmo, do desmame da estética da Jovem Guarda à queda na brasilidade dos anos 70 (com direito a incursões pela black music e pelo samba-rock), até chegar à maturidade pop(ularesca) dos anos 80.
Mesmo que Seja Eu é acompanhada de um livreto com fotos e texto, que conta a trajetória de Erasmo. "Eu curti muito a parte La Bamba, que é como eu chamo meu início de carreira", reconhece o cantor. "Pela primeira vez, as informações estão certas. Chega desse negócio de dizer que eu era da banda The Sputniks, a minha banda foi a Snakes!", comenta Erasmo, referindo-se à mitológica banda que teria reunido ele, Tim Maia e Roberto Carlos no final dos anos 50. "Além do mais, (a caixa) ainda tem um prefácio do André Midani, talvez o homem de disco que eu mais admire no mundo", elogia o cantor e compositor.
A caixa fez Erasmo redescobrir coisas de que nem se lembrava mais de ter gravado e também de alguns sufocos pelos quais passou na carreira. "A gravação que o Marcelo Fróes achou de Vida Blue, por exemplo, era crua, só tinha minha voz-guia. Cordilheira, que Simone regravou anos depois, era bastante soturna...", cita o cantor. "Na época de Caderninho eu estava proibido de tocar em várias cidades", lembrando da perseguição da ditadura militar - que, em seu caso, era mais comportamental do que propriamente política.
Erasmo considera os trabalhos dos anos 70 - o cultuado Carlos, Erasmo (71), que tem a polêmica Maria Joana, uma das primeiras (se não a primeira) canção pop brasileira a fazer referência à maconha, Sonhos e Memórias (72), 1990 - Projeto Salva Terra (74), Banda dos Contentes (76) e Pelas Esquinas de Ipanema (78) - uma fase de crescimento: "Saí da fase do carrão e do broto da Jovem Guarda e comecei a ver o mundo de outra maneira. E olha que horizonte que descobri: parei de falar da namorada e passei para a mulher!", brinca.
O amigo de fé, irmão camarada também diz que, por ingenuidade ou mesmo por ter que ceder à pressões, já teve que fazer coisas com as quais não concordava. "Vocé está vendo algum sapo naquela lagoa ali fora? Pois então, estão todos aqui dentro!", ri, apontando para a própria garganta. "Já assinei muito papel em branco, saí de órbita por crises profisisonais e pessoais. Hoje tenho meus caminhos definidos e o apoio total de meu filho", diz, referindo-se a Leonardo, que assumiu a direção da carreira do pai.
Da década de 80, a caixa inclui Erasmo Carlos Convida (80), Mulher (81), Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor (82), Buraco Negro (84), Erasmo Carlos (85), Abra Seus Olhos (86) e Apesar do Tempo Claro... (88). O disco Mulher foi o de maior sucesso na carreira de Erasmo. "Eu o considero o mais autoral e o que reflete o máximo de minha felicidade. Lembro que o anterior, o Erasmo Carlos Convida, vendeu bastante também, mas a crítica falou que, cercado de gente boa, era fácil. Então o Mulher foi um prêmio, uma prova para mim mesmo que poderia fazer sucesso", relembra.
Ao final da coletiva, Erasmo não é poupado de mais uma emoção. O filho Leonardo anuncia que tem um "presentinho" para ele e entrega um quadro, retratando a própria caixa de CDs, estilizada. "Isso eu chamo de 'assassinato legal'... A pessoa dá coisas que emocionam tanto, que um dia o cara tem um ataque do coração! Eu devo tudo às pessoas que me inspiraram a fazer minha música", finaliza e agradece.