Olivia junta tudo no balaio da eletrônica

Cantora que já passou pelo erudito, o blues, a MPB e a música experimental usa o trip hop para fazer uma síntese de suas influências em disco de estréia

Silvio Essinger
14/08/2000
Cantora com formação é isso aí: dos nove aos 15 anos de idade, a paulistana Olivia (que não é a Hime nem a Byington) estudou piano clássico. Depois, dedicou-se ao canto lírico. Cantou óperas, mas largou tudo quando ouviu o chamado do blues, ao qual havia chegado pela via do rock. "O erudito não dava abertura", diz. Com Etta James, Sarah Vaughan e Koko Taylor girando sem parar no toca-discos, a cantora passou por dois quartetos de blues – o Some Pages e o Cool Time – que batiam ponto na noite paulistana. Depois, embarcou num trio de MPB e em uma banda experimental, o Padiciço. "Foi aí que eu comecei a estudar cantos árabes", conta. Resultado: virou dançarina do ventre. Em 1995, parou com a música. Foi dar aulas de dança e fazer trabalhos com computação gráfica. Entrou num processo depressivo e acabou descobrindo que poderia compor. Em 98, começou a gravar fitas demo de um trabalho solo com o marido, André Namur. Foi daí que surgiu Olivia ouvir 30s, seu disco de estréia, que o selo Matraca, da gravadora Trama, está lançando.

"Esse CD é resultado de tudo o que eu absorvi", avisa a cantora. De fato, está tudo lá – e um pouco mais. Pop sem ser banal, MPB sem ser purista, etéreo mas cheio de sujeiras de guitarra, blues mas com toques orientais, Olivia chama a atenção pelo forte caráter eletrônico das músicas. "A eletrônica surgiu para ajudar o processo de composição, mas se adequou tão bem que acabou virando uma característica do som", diz. As canções surgiram das linhas vocais e dos teclados de Olivia e foram completadas por André, que tocou os baixos e violões, além de fazer os arranjos – a eletrônica entrou na finalização. Sozinhos, os dois fizeram em 1998 uma fita demo com três músicas, que encantaram o produtor Carlos Eduardo Miranda – o homem que descobriu os Raimundos. De saída do selo Excelente Discos, ele carregou o trabalho para a Matraca Discos, que estava fundando na iniciante Trama.

Típico trabalho da era Internet – carregado de referências –, o disco desafia rótulos. Tem o rock suingado e de boa pegada (Blecaute), as melodias orientais (em Fun e Manám), uma dose de world music (em Ayune, que conta até com um didgeridoo, instrumento aborígene), a tecnobossa (D’Água) e o soul (Claridade). Mais fácil, porém, é achar elementos do trip hop, principalmente o do Morcheeba e da islandesa Björk, esta referência clara em músicas como Nada Sai do Lugar e Aquilo Que Precisa. "Eu não a conhecia. Só comecei a ouvir Björk há pouco tempo", argumenta Olivia. "Tem gente que acha que o meu disco é trip hop, mas ele tem mais é MPB e new bossa." Para a cantora, Olivia é um disco de "pop moderno" – de certa forma acessível, mas com muitas misturas. "Quero que ele chegue ao maior número de pessoas possível", espera.

Olivia diz não gostar de fazer o gênero diva. "Não sou aquela cantora que fica na frente da banda. Nos shows, tem gente que até acha a voz baixa", conta. Dia 30, ela faz o lançamento de Olivia ao vivo, no palco Blen Blen (São Paulo) – e promete mostrar não só o que sabe cantar, mas também o que sabe dançar. Entram todas as músicas do disco e, quem sabe, algumas das várias que ficaram de fora. "Tenho material para um outro disco", avisa.