Os bailes da vida, segundo Ivan Lins

Cantor regrava músicas que marcaram sua juventude no disco Love Songs, visando o mercado exterior

Mônica Loureiro
16/10/2002
Na época em que teve oito de seus primeiros CDs relançados pela Universal Music, Ivan Lins contou em entrevista ao Cliquemusic que andava meio nostálgico. "Estou revendo canções que foram importantes, ouvindo de uma outra forma, e pretendo partilhá-las com minhas composições talvez no próximo disco", disse. O cantor e compositor já dava a dica do que viria a ser A Quem Me Faz Feliz/Love Songs ouvir 30s, seu novo trabalho, produzido por Roberto Menescal e lançado pela Abril Music.

O álbum escancara a opção que o cantor fez por privilegiar sua carreira no exterior, algo que pode ser notado já a partir do título. O disco será lançado nos EUA, Japão e boa parte da Europa, e traz canções em vários idiomas além do português. "É um disco com canções da minha juventude, que marcaram os anos 60, 70 e povoaram meu universo lírico, mais romântico. Por isso, tem músicas em inglês, francês, italiano e espanhol", explica Ivan.

Trata-se de um álbum com significado bem pessoal para Ivan, que elaborou bastante sobre a escolha das canções. "Primeiramente, fui checando quais se 'acariocavam' melhor - muita coisa ficou de fora", afirma o cantor, já pensando no nicho que ocuparia no mercado exterior, ressaltando as caracteristicas Brazil for export do disco. "Essa adaptação foi mais difícil de se fazer nas músicas em italiano. Acabei optando por Ti Amo, uma versão que fizeram para a minha música que era do disco Anjo de Mim. Depois, achei uma (Il Mio Domani) que Chet Baker fez na época em que estava preso na Itália, mas não deu mais tempo de entrar. Essa vou gravar em outro projeto", relembra.

Ivan prossegue relatando sua relação com as canções do novo disco. "Plus Fort que Nous é a canção central do filme Um Homem, uma Mulher, que marcou época - confesso que chorei todas as vezes que assisti... Já All the Things You Are é um standard do (trompetista) Billy Butterfield. Quando tocava nos bailes - que a gente chamava de 'arrasta-pés' - que a gente freqüentava, era uma correria para arranjar um parceiro, porque a gente tinha que dançar de qualquer jeito!" Nem todas as músicas foram incluídas de forma natural. She e Love, por exemplo. "Eu nunca havia prestado muita atenção em She, até que um amigo me convenceu a tocá-la. Aí me apaixonei...", diz Ivan. Já a música de John Lennon foi barrada, a princípio, por Menescal. "Ele torceu o nariz, mas acabei descobrindo que a música permite umas harmonias muito interessantes", fala o cantor.

Reforçando o valor do álbum para o mercado norte-americano, Ivan incluiu uma parceria com a jovem cantora de jazz Jane Monheit, apontada como revelação recente do gênero. "Fui aos Estados Unidos fazer uma participação no disco novo dela (In the Sun, que deve ser lançado no Brasil apenas no próximo ano), que tem Once I Walked in the Sun (Ivan/Will Jennings) e "Começar de novo", que ela canta em português, acompanhada por uma orquestra. No meu disco dividimos Love dance (Ivan/Gilson/Paul Williams), que é bastante conhecida lá fora e sempre tenho que tocar nos shows", explana Ivan.

Em português, há três inéditas e três regravações. O destaque entre as novas, Lua do Arpoador (parceria com Ronaldo Monteiro de Souza), abre o CD dando idéia da intenção de fincar os pés no Rio mesmo cantando um repertório universal, mesclando jazz e um certo tempero nacional. "Fogueira é minha, de um disco de 1989 que não vendeu nada e só a Nana Caymmi chegou a regravar; Insensatez (Tom Jobim) não entrou no Jobiniando ouvir 30s e eu ia colocar de qualquer jeito; e Ex-amor eu estava devendo ao Martinho da Vila, afinal ele me deu muita sorte com o Jobiniando (foi o sambista quem sugeriu o título a Ivan)."