Os donos das pistas atacam de novo
Na crista da onda do pop dançante, Vinny e Maurício Manieri chegam com discos novos: respectivamente, Quando o Tempo Pára e Ao Vivo
Silvio Essinger
29/11/2000
Eles são sinônimo de música pop dançante brasileira. Surgiram em gravadoras novas e foram grandes responsáveis por elas terem conquistado posições de destaque no mercado fonográfico brasileiro. Jovens e bem apessoados, chegaram a emplacar canções em filmes de Xuxa - e agora partem para repetir o êxito nas paradas radiofônicas do Brasil, de Norte a Sul se possível. Vinny, com o álbum Quando o Tempo Pára (Indie Records) . Maurício Manieri com o CD Ao Vivo (Abril Music) . As semelhanças, contudo, terminam por aí. Enquanto o paulista de voz rouca amplifica seu ataque pop-soul em registro no palco, o louro da Heloísa Mexe a Cadeira dá um tempo no chacundum e vem com o que considera o álbum mais emocional de sua carreira, diretamente influenciado pelo nascimento de seu filho, Luca.
"Quando o Tempo Pára não tem esse compromisso de ser o disco mais vendido da minha carreira", jura Vinny. "Evidentemente eu quero que ele venda, mas não foi isso que moveu sua realização." O cantor e compositor garante que saberia perfeitamente gravar um disco para vender um milhão de cópias - foi isso, por sinal, o que ele buscou em 1998 com o seu terceiro álbum, o bem-sucedido Na Gandaia. "Só fiz aquele disco porque Heloísa Mexe a Cadeira tinha sido um estouro. Porque gostei de tocar para 20 mil pessoas e ver o povo sacudindo", diz. Mas agora, no seu quinto disco, Vinny passou a fugir do estigma da Cadeira como o diabo da cruz. "Dessa vez eu pude fazer o disco com tranqüilidade, tive seis meses para compor. Comecei a gravar com 26 músicas prontas", conta. Antes, a regra para fazer um disco era entrar em estúdio, ouvir algumas de levadas de baixo e bateria e ver o que conseguia escrever - coisa de quem durante muito tempo viveu de compor jingles para refrigerantes.
"Meu trabalho tinha tudo para ser uma boy band de um cara só", reconhece Vinny, lembrando que a virada em sua carreira começou a se dar ano passado, com o sucesso nas rádios da balada de violão Te Encontrar de Novo, do seu disco anterior, O Bicho Vai Pegar. "Eu estava seguindo uma linha reta, do que toca nas pistas de dança. Quando ela começou a tocar, as pessoas não sabiam que era eu - o que para mim foi um elogio." Assim, o cantor acabou voltando, curiosamente, ao tipo de som que fazia em seu primeiro álbum, Vinny (95), que passou em brancas nuvens - só com Mexe a Cadeira, dois anos depois, ele foi experimentar o gosto do sucesso. "Tive cinco músicas em novela e todas elas foram um fracasso", revela.
Com muito mais rock em suas músicas, Vinny hoje se dá ao luxo a atacar a ditadura da moda em Fuck The Fashion. Ao mesmo tempo, mantém a veia debochada em Você Quer Love, Eu Quero Sex (do refrão "Amor I love you/ Agora fuck me", uma brincadeira que, segundo ele, não visa de forma alguma a desrespeitar a música de Marisa Monte). Apesar da suas raízes roqueiras (ele começou na banda de hard rock Hay Kay), Vinny diz que tem como referência mesmo é o baiano Carlinhos Brown. "Ele faz samba-canção e música para a Timbalada, não tem o menor pudor", explica, avisando que vai compor uma música para o primeiro disco da apresentadora Babi. Mas quando perguntado sobre sua participação no Rock In Rio, dia 18 de janeiro, na Tenda Brasil, a postura do cantor se revela mais punk do que Brown-conciliadora: "Este Rock In Rio é o evento mais farofa que eu vi na minha vida. A debandada das seis bandas de rock me brochou totalmente, a essência do festival se diluiu - ele deveria se chamar Música In Rio ou algo assim. Para mim, vai ser um show de importância tão grande quanto o que eu fiz em Belford Roxo - com todo o respeito a Belford Roxo!"
Disco inesperado
Show por show, quem entende do assunto é Maurício Manieri. Embalado pelos sucessos de seu primeiro disco, A Noite Inteira (balanços e baladas como Minha Menina, Bem Querer, Pensando em Você, Te Quero Tanto), ele fez nada menos do que 150 apresentações nos últimos dois anos. Numa delas, o presidente da Abril Music, Marcos Maynard, estava na platéia. E achou o espetáculo tão redondo que resolveu investir num álbum ao vivo. "A gente nem ia fazer o disco", comenta o cantor. "Foi sem planejar repertório, nem nada." A vantagem é que ele conhecia as músicas de trás para a frente. Além dos seus próprios sucessos, entraram versões de Primavera (sucesso de Tim Maia composto por Cassiano e Silvio Rochael), Você (de Tim) e País Tropical (de Jorge Ben Jor). "São meus ídolos, né, cara?", justifica-se. Depois de um elogio na TV, Cassiano apareceu dia desses na casa de Maurício. "Ele é gente finíssima, imagina o que é ele tocando piano pra mim?" Uma parceria entre os dois talvez esteja no próximo disco do paulista. "As pessoas precisam conhecer mais a MPB", prega.
A festa de Manieri em Ao Vivo tem ao menos um convidado muito especial: o rapper Xis, que manda o seu sucesso Us Mano e as Mina, encaixado na Bota Pra Mexer do cantor. "Lá nos Estados Unidos é bem comum isso, um artista pop que grava com um rapper. Quero fazer isso nesse Brasilzão, a cultura rap está ficando muito forte no país", defende este autodefinido "artista pop que pegou o lance do R&B". "Não gosto muito de me fechar num tipo só de música. Não sou um cara purista", explica.
Maurício se prepara agora para o seu segundo disco de estúdio - no Ao Vivo já vai um aperitivo, a faixa bônus Pop Star, a tal que Xuxa separou para seu filme. Agora, ele não contará mais com a produção de Dudu Marote, o homem por trás de discos de Skank e Pato Fu que, acreditava-se, teria sido o grande arquiteto do seu som (assim como o produtor e baixista do Herva Doce, Roberto Lly, é o de Vinny). O cantor explica: "A verdadeira história é a seguinte: o Dudu produziu o meu primeiro disco com o Igor Arthuzo e comigo, mas a estética era toda minha. Ele deu umas pitadinhas numas músicas e foi parceiro em algumas outras."
Em boa fase de popularidade, dessa vez Maurício Manieri não mais deve demorar dois anos para emplacar um disco - caso de A Noite Inteira, que até edição com outra capa ganhou, numa tentativa de popularização. "Alguns fatores dificultaram o sucesso: a gravadora estava começando e não tinha aquele suporte inicial. E o que estava rolando na rádio não tinha nada a ver com o meu trabalho", conta. "Mas aí depois mudou a diretoria, entrou música na novela... Foi Deus quem salvou." A mudança de capa, reconhece o cantor, ajudou bastante o resultado de A Noite. "Antes, o cara pegava o disco e jogava no lixo. Não gosto de nenhuma das duas capas, mas pelo menos na segunda dá para ver a minha cara."
"Quando o Tempo Pára não tem esse compromisso de ser o disco mais vendido da minha carreira", jura Vinny. "Evidentemente eu quero que ele venda, mas não foi isso que moveu sua realização." O cantor e compositor garante que saberia perfeitamente gravar um disco para vender um milhão de cópias - foi isso, por sinal, o que ele buscou em 1998 com o seu terceiro álbum, o bem-sucedido Na Gandaia. "Só fiz aquele disco porque Heloísa Mexe a Cadeira tinha sido um estouro. Porque gostei de tocar para 20 mil pessoas e ver o povo sacudindo", diz. Mas agora, no seu quinto disco, Vinny passou a fugir do estigma da Cadeira como o diabo da cruz. "Dessa vez eu pude fazer o disco com tranqüilidade, tive seis meses para compor. Comecei a gravar com 26 músicas prontas", conta. Antes, a regra para fazer um disco era entrar em estúdio, ouvir algumas de levadas de baixo e bateria e ver o que conseguia escrever - coisa de quem durante muito tempo viveu de compor jingles para refrigerantes.
"Meu trabalho tinha tudo para ser uma boy band de um cara só", reconhece Vinny, lembrando que a virada em sua carreira começou a se dar ano passado, com o sucesso nas rádios da balada de violão Te Encontrar de Novo, do seu disco anterior, O Bicho Vai Pegar. "Eu estava seguindo uma linha reta, do que toca nas pistas de dança. Quando ela começou a tocar, as pessoas não sabiam que era eu - o que para mim foi um elogio." Assim, o cantor acabou voltando, curiosamente, ao tipo de som que fazia em seu primeiro álbum, Vinny (95), que passou em brancas nuvens - só com Mexe a Cadeira, dois anos depois, ele foi experimentar o gosto do sucesso. "Tive cinco músicas em novela e todas elas foram um fracasso", revela.
Com muito mais rock em suas músicas, Vinny hoje se dá ao luxo a atacar a ditadura da moda em Fuck The Fashion. Ao mesmo tempo, mantém a veia debochada em Você Quer Love, Eu Quero Sex (do refrão "Amor I love you/ Agora fuck me", uma brincadeira que, segundo ele, não visa de forma alguma a desrespeitar a música de Marisa Monte). Apesar da suas raízes roqueiras (ele começou na banda de hard rock Hay Kay), Vinny diz que tem como referência mesmo é o baiano Carlinhos Brown. "Ele faz samba-canção e música para a Timbalada, não tem o menor pudor", explica, avisando que vai compor uma música para o primeiro disco da apresentadora Babi. Mas quando perguntado sobre sua participação no Rock In Rio, dia 18 de janeiro, na Tenda Brasil, a postura do cantor se revela mais punk do que Brown-conciliadora: "Este Rock In Rio é o evento mais farofa que eu vi na minha vida. A debandada das seis bandas de rock me brochou totalmente, a essência do festival se diluiu - ele deveria se chamar Música In Rio ou algo assim. Para mim, vai ser um show de importância tão grande quanto o que eu fiz em Belford Roxo - com todo o respeito a Belford Roxo!"
Disco inesperado
Show por show, quem entende do assunto é Maurício Manieri. Embalado pelos sucessos de seu primeiro disco, A Noite Inteira (balanços e baladas como Minha Menina, Bem Querer, Pensando em Você, Te Quero Tanto), ele fez nada menos do que 150 apresentações nos últimos dois anos. Numa delas, o presidente da Abril Music, Marcos Maynard, estava na platéia. E achou o espetáculo tão redondo que resolveu investir num álbum ao vivo. "A gente nem ia fazer o disco", comenta o cantor. "Foi sem planejar repertório, nem nada." A vantagem é que ele conhecia as músicas de trás para a frente. Além dos seus próprios sucessos, entraram versões de Primavera (sucesso de Tim Maia composto por Cassiano e Silvio Rochael), Você (de Tim) e País Tropical (de Jorge Ben Jor). "São meus ídolos, né, cara?", justifica-se. Depois de um elogio na TV, Cassiano apareceu dia desses na casa de Maurício. "Ele é gente finíssima, imagina o que é ele tocando piano pra mim?" Uma parceria entre os dois talvez esteja no próximo disco do paulista. "As pessoas precisam conhecer mais a MPB", prega.
A festa de Manieri em Ao Vivo tem ao menos um convidado muito especial: o rapper Xis, que manda o seu sucesso Us Mano e as Mina, encaixado na Bota Pra Mexer do cantor. "Lá nos Estados Unidos é bem comum isso, um artista pop que grava com um rapper. Quero fazer isso nesse Brasilzão, a cultura rap está ficando muito forte no país", defende este autodefinido "artista pop que pegou o lance do R&B". "Não gosto muito de me fechar num tipo só de música. Não sou um cara purista", explica.
Maurício se prepara agora para o seu segundo disco de estúdio - no Ao Vivo já vai um aperitivo, a faixa bônus Pop Star, a tal que Xuxa separou para seu filme. Agora, ele não contará mais com a produção de Dudu Marote, o homem por trás de discos de Skank e Pato Fu que, acreditava-se, teria sido o grande arquiteto do seu som (assim como o produtor e baixista do Herva Doce, Roberto Lly, é o de Vinny). O cantor explica: "A verdadeira história é a seguinte: o Dudu produziu o meu primeiro disco com o Igor Arthuzo e comigo, mas a estética era toda minha. Ele deu umas pitadinhas numas músicas e foi parceiro em algumas outras."
Em boa fase de popularidade, dessa vez Maurício Manieri não mais deve demorar dois anos para emplacar um disco - caso de A Noite Inteira, que até edição com outra capa ganhou, numa tentativa de popularização. "Alguns fatores dificultaram o sucesso: a gravadora estava começando e não tinha aquele suporte inicial. E o que estava rolando na rádio não tinha nada a ver com o meu trabalho", conta. "Mas aí depois mudou a diretoria, entrou música na novela... Foi Deus quem salvou." A mudança de capa, reconhece o cantor, ajudou bastante o resultado de A Noite. "Antes, o cara pegava o disco e jogava no lixo. Não gosto de nenhuma das duas capas, mas pelo menos na segunda dá para ver a minha cara."