Otto começa a preparar seu segundo disco

Músico pernambucano, que volta às lojas em breve com CD duplo de remixes, acaba de compor um coco de trás para frente e pensa em gravar Roberto Carlos

Tom Cardoso
04/08/2000
Quem se deliciou com as fusões de ritmos brasileiros com drum’n‘bass apresentadas no elogiado Samba Pra Burro (1998), álbum de estréia do ex-percussionista do Mundo Livre S/A Otto, pode se preparar: o compositor rendeu-se de vez à música eletrônica. Prova disso é o disco de remixes Changez Tout – Samba pra Burro Dissecado, que chega este mês às lojas pela gravadora Trama. São 29 releituras de músicas de Otto, assinadas por nomes como DJ Patife, Apollo 9, BiD, Bruno E, Edgar Scandurra e Max de Castro. "Não consigo mais imaginar minha música sem o suporte da eletrônica", confessa.

Pronto para começar as gravações de seu segundo álbum solo, Otto diz ter acumulado informações suficientes para lançar mais de um disco. No entanto, ele diz sentir dificuldades em parar tudo que está fazendo e ter de agüentar as intermináveis horas de estúdio. "Na verdade não tinha pressa pra gravar. Prefiro viajar, fazer shows, curtir minhas amizades. Mas, se posso ter todo mundo dentro do estúdio, não tem problema, gravo numa boa", diz o autor de Bob, que já escalou os seus três produtores. "O Pupilo (da Nação Zumbi) vai cuidar da base rítmica. O Apollo 9 (DJ que produziu Samba Pra Burro) será o responsável pelos remixes e o (Carlos Eduardo) Miranda (diretor artístico do selo Matraca) vai gerenciar todo o processo, colocar um pouco de veneno no trabalho".

Do novo disco, Otto tem apenas o título pronto: Condom Black. Ele confessa ter vontade de gravar algumas canções da (interminável) fase romântica de Roberto Carlos. "Não sei se ele deixaria", diz. Mas se empolga ao comentar sobre um coco que acaba de compor de trás para frente, intitulado Onde É Que o Coco Rola?. "Fiz essa canção agora há pouco. Tenho caprichado nas letras, acho isso tão importante quanto o trabalho de percussão e de mixagem", diz o músico, que pode ser visto na MTV em seu novo clipe, Distraída pra Morte, dirigido por Lírio Ferreira, diretor do filme Baile Perfumado.

Satisfeito com a boa safra de bandas pernambucanas, Otto não concorda que o movimento mangue beat tenha enfraquecido após a morte de Chico Science, em 1997. "Bandas como o Nação Zumbi, Mestre Ambrósio e Mundo Livre S/A já estão com seus trabalhos consolidados. Outros grupos como Eddie, Jorge Cabeleira, Via Sat estão sempre se mexendo, participando de festivais, de discussões", afirma Otto, que concorda com a tese de Carlinhos Brown, de que o mangue beat originou-se do samba-reggae feito pelo Olodum no início dos anos 80. "Concordo com ele. Mas também preciso dizer que o axé-music não seria nada sem o frevo de Pernambuco", provoca.

Recém-chegado de shows pela Europa, Otto passou por momentos curiosos durante a turnê. Em Londres, se apresentou no Teatro Barbican Center, na mesma noite de João Gilberto. Admite que ficou com vontade de dividir o palco com o pai de Bebel Gilberto – que é sua parceira em Bob –, mas não teve coragem de pedir. "Ele fez o show na grande sala e eu fui convidado para tocar no hall do teatro. É claro que esperei o João terminar sua apresentação para começar o meu show. Se tocasse no mesmo horário, apesar da distância das salas, era bem capaz de ele me ouvir e pedir para cancelar o espetáculo".