Overdose de zabumba e triângulo
Veteranos do forró disputam mercado com os novos grupos da geração pós-Falamansa
Mônica Loureiro
29/06/2001
Procurar agulha no palheiro. É mais ou menos assim que quem gosta de forró tem que agir ao comprar um CD. Em tempos de "redescoberta" do forró pé-de-serra, forró universitário e outras nomenclaturas, é recomendável ter bastante atenção. As gravadoras, ávidas por lucro - tudo bem, isso não é novidade - e ainda aproveitando o clima de festa junina ainda reinante, jogam no mercado dezenas de lançamentos, nos quais critérios de qualidade e originalidade ficam para um plano secundário.
Mesmo assim, a invasão do forró no Sudeste/Sul não pode mais ser encarada como modismo. Os bailes já fazem parte dos roteiros dos jornais, saindo dos subúrbios e se espalhando pela cidade. A juventude bem-nascida não só adotou o "rela-buxo" dos salões como também resolveu ocupar o palco. O número de grupos formados por forrozeiros que não ultrapassam a média dos 25 anos de idade é cada vez maior. Em São Paulo, o Falamansa tornou-se um fenômeno de vendas; no Rio, o Forróçacana é o mais requisitado para shows.
No rastro dos bem-sucedidos, as gravadoras investem em nomes como Guentaê (Universal), Os Filhos da Mãe (Indie Records), Chama Chuva (EMI) e Peixelétrico (Abril). A Velas e a BMG optam pela tradição com Dominguinhos e Luiz Gonzaga ao vivo, respectivamente. A Abril aproveita também para distribuir CDs dos já tarimbados Trio Nordestino, Trio Virgulino e Miltinho Edilberto (todos Deckdisc). E lançar uma oportun(ist)a coletânea chamada Forró 2001, que inclui Falamansa - as versões verão (?) de Xote dos Milagres e Rindo à Toa -, Rastapé, Peixelétrico, Trio Virgulino, Miltinho Edilberto, Trio Forrozão e outros. A Kuarup deu uma pescada em seu catálogo para jogar uma segunda edição da coletânea Só Forró (Jackson Antunes, Juraildes da Cruz, Maciel Mello e Heraldo do Monte) e a Sony resolveu ficar só com o CD dos cariocas do Paratodos, lançado em maio. Mais dois estão prometidos para o início deste mês: o terceiro do Trio Forrozão, pela Natasha, e o de estréia do Circuladô, pela Virgin.
Outra mudança que a movimentação nordestina trouxe para o Sudeste foi o rejuvenescimento do público dos grupos e cantores que já estão na estrada há décadas. "Antigamente era comum se discriminar o forró, só quem gostava de ouvir e dançar era o pessoal de meia-idade pra cima. Hoje a juventude está prestigiando mais e isso é muito importante, pois por onde passamos somos bem recebidos", diz Coroné, integrante original do Trio Nordestino. O grupo faz parte da primeira geração de trios - com Lindú e Cobrinha em sua primeira formação, surgiu em 1960, em Salvador. Hoje, Luis Mário (filho de Lindú) e Beto, ao lado do veterano Coroné, chegam ao 38º disco, Balanço Bom . Animado com a boa fase, o zabumbeiro avisa que o Trio está com as malas prontas para ir para os Estados Unidos, onde fazem shows em Nova Iorque, Nova Jersey, Boston e Miami. E opina sobre a nova geração: "Acho que as gravadoras pegam os grupos que tem mais condições de mostrar um bom trabalho, os que têm uma estrutura maior". O Trio Virgulino, formado em São Paulo na década de 80 pelos pernambucanos Enok Virgulino, Roberto Pinheiro e Adelmo Nascimento, é outra referência para os jovens músicos. O CD Coração Feliz engrossa o caldo dos lançamentos, com a maioria das composições assinadas por Enok e parceiros. Mesmo contando com alguns músicos convidados, os arranjos mantém o clima cru de pé-de-serra.
Feito Brasileiro é o terceiro trabalho de Miltinho Edilberto, que tem despertado admiração em nomes como Maria Bethânia, com quem faz dueto na faixa Água e Azeite. "Há nove anos, quando comecei, não havia esse movimento de forró no Sudeste, por isso me considero precursor", afirma. Ele ressalta que, além de músico, cantor e compositor, é folclorista, o que dá ao seu trabalho uma amplitude diferente. "Pesquiso ritmos do Brasil, principalmente os do Norte e nordeste. O forró é apenas uma das coisas que faço". A voz de Miltinho é outro destaque, resultado da escola que fez como crooner. Aliada à experiência como compositor - "componho desde menino" -, o resultado é de músicas diferentes, com propostas harmônicas variadas. "Bethânia, Sérgio Reis, Tânia Alves, Paulinho Pedra Azul e até o Harmonia do samba já gravaram músicas minhas", orgulha-se. O quesito "participações especiais" está bem curioso nos lançamentos da Abril. O CD do Trio Virgulino traz participação do Falamansa. O mesmo Virgulino e o Rastapé estão no CD do Trio Nordestino; o Falamansa e o Virgulino estão no de Miltinho Edilberto. E este último colabora com músicas no repertório dos trios. Tudo em casa...
De novidade, a Abril chega com o Peixelétrico, que surgiu nas ondas do Guarujá (SP). "Eu, Ricardo e André curtíamos a praia e tocávamos nos luaus. Depois começamos a trabalhar sério e, com a chegada dos outros (Teodoro, Nenê e Ricardo China) formamos o grupo", conta o acordeonista de 22 anos Marcelo Jeneci. O primeiro CD escapa da tendência da regravação de sucessos: todas as músicas são de autoria do vocalista Ricardo Trip. "Desde o ano passado vínhamos fazendo shows com esse repertório e a receptividade sempre foi legal. Então foi uma coisa natural fazer o CD só de inéditas", diz o compositor. Algumas letras mais engajadas e a influência do reggae também dão um diferencial ao trabalho do Peixelétrico. "O bom da gente é a mescla entre baião, maracatu, forró, rastapé, blues e reggae. E as letras têm uma vibração muito boa, falam pro cara se ligar, falam de felicidade", opina Jeneci. "Sou formado em história na USP, mas a questão social é uma coisa que me acompanha há muito tempo: meus pais participaram do movimento político contra a ditadura", detalha Trip. Os integrantes têm consciência de que se não fosse toda essa movimentação do forró, teria sido bem mais difícil conseguir gravar um contrato com uma gravadora. "Acho que o nosso destaque na mídia e a nossa mistura de ritmos chamou atenção. Mas é claro que a gravadora percebeu que se investisse na gente ia rolar grana", diz Geneci. O músico confessa que, a princípio, a idéia do grupo era a de gravar com sua própria formação. "Não estava prevista esta variedade de instrumentos, todos esses arranjos. Foi sugestão da gravadora e o disco acabou ficando bem pop", revela.
O Guentaê foi outro a aceitar "sugestões" da sua gravadora. Mesmo tendo mais de 300 composições próprias, o vocalista Klefour Nunes diz que o grupo topou na hora quando a Universal indicou Mais Uma de Amor (Geme-Geme) - sucesso da Blitz - e Maçã do Rosto, de Djavan, como boas idéias de regravação. Dez faixas do CD Sapatilha 37 são próprias e duas de autores pouco conhecidos. "Eu comecei escrevendo as letras e imaginando o som, aos 12 anos", conta Klefour, que tocava MPB com o baixista Dalton em barzinhos de Campinas. A oportunidade de tocar com a formação atual surgiu de sopetão, quando uma banda desmarcou um show em julho do ano passado. "O pessoal do clube perguntou para o Gláucio se ele conhecia alguma banda para preencher o lugar e ele disse que sim, pensando na gente! Isso foi às 18h do dia anterior ao show. Conhecemos o Tadheu neste mesmo dia, ensaiamos meia hora e o pessoal adorou a apresentação", lembra. O nome da banda veio deste sufoco, quando entre uma e outra sugestão, Klefour falou "Peraí, guentaê!".
Para escapar das inevitáveis comparações, Klefour defende-se dizendo que não havia referência de outras bandas quando o Guentaê começou, a não ser os trios tradicionais. "Eu e Dalton participamos de outras bandas, o Gláucio é artista plástico, faz seus instrumentos; Rodrigo tocava percussão em um grupo de pagode. O nosso destaque é também devido ao Thadeu, um dos sanfoneiros mais jovens, com 19 anos, e por termos nossas próprias músicas", enumera. A banda clama para si mais um mérito, o de ter tocado tudo no CD. "Os únicos convidados foram o Kleiton 'Pivete' e as meninas do coro", ressalta Klefour.
Outro grupo que chega valorizando suas próprias composições - no caso, assinadas pelo vocalista Giovani Calmon - é o Chama Chuva . Os mineiros foram descobertos pela EMI e se adequam ao clima reinante do forró universitário. Letras que invariavelmente falam de amor e arrasta-pé no meio do salão. A diferença é o violão e a percussão que se juntam ao básico zabumba-triângulo-sanfona. Enquanto isso, regravar sucessos parece não ser problema para Os Filhos da Mãe . A primeira faixa - A Cera, do grupo O Surto - já permite uma idéia aproximada da proposta descompromissada dos paulistas. E seguem os clássicos Pequenininha, Eu só Quero um Xodó, Zé do Rock, Sabiá e Forró Desarmado. De autoria do vocalista e parceiros, só A Jeguelina e Casa, Comida e Roupa Lavada. Eles ainda herdam um vício corrente entre os chamados "grupos de teclados", do tipo Mastruz com Leite: tal qual um reclame, falam o nome do próprio grupo em todas as músicas.
Entre tantas novidades, ao se deparar com Lembrando de Você , novo disco de Dominguinhos, o contraste é grande. O compositor, cantor e sanfoneiro já completou 50 anos de carreira, tempo suficiente para ver todo tipo de modismo e oportunismo. E sempre foi afiadíssimo na questão qualidade musical. "Acho que esse estouro da música nordestina se deve mais aos trios", opina, modesto. Dominguinhos lembra que costuma lançar um CD por ano, sempre entre os meses de abril e maio. "Desta vez atrasou um pouco para as festas juninas... Mas eu não me incomodo com épocas", diz, tranqüilo. Ele só reclama um pouco quando o assunto são seus discos de boleros e canções, projetos que amadurece há algum tempo. "A gravadora tem colocado algumas dificuldades para fazer esses discos. Mas não tem problema, se não quiserem, faço por minha própria conta", avisa.
Mesmo assim, a invasão do forró no Sudeste/Sul não pode mais ser encarada como modismo. Os bailes já fazem parte dos roteiros dos jornais, saindo dos subúrbios e se espalhando pela cidade. A juventude bem-nascida não só adotou o "rela-buxo" dos salões como também resolveu ocupar o palco. O número de grupos formados por forrozeiros que não ultrapassam a média dos 25 anos de idade é cada vez maior. Em São Paulo, o Falamansa tornou-se um fenômeno de vendas; no Rio, o Forróçacana é o mais requisitado para shows.
No rastro dos bem-sucedidos, as gravadoras investem em nomes como Guentaê (Universal), Os Filhos da Mãe (Indie Records), Chama Chuva (EMI) e Peixelétrico (Abril). A Velas e a BMG optam pela tradição com Dominguinhos e Luiz Gonzaga ao vivo, respectivamente. A Abril aproveita também para distribuir CDs dos já tarimbados Trio Nordestino, Trio Virgulino e Miltinho Edilberto (todos Deckdisc). E lançar uma oportun(ist)a coletânea chamada Forró 2001, que inclui Falamansa - as versões verão (?) de Xote dos Milagres e Rindo à Toa -, Rastapé, Peixelétrico, Trio Virgulino, Miltinho Edilberto, Trio Forrozão e outros. A Kuarup deu uma pescada em seu catálogo para jogar uma segunda edição da coletânea Só Forró (Jackson Antunes, Juraildes da Cruz, Maciel Mello e Heraldo do Monte) e a Sony resolveu ficar só com o CD dos cariocas do Paratodos, lançado em maio. Mais dois estão prometidos para o início deste mês: o terceiro do Trio Forrozão, pela Natasha, e o de estréia do Circuladô, pela Virgin.
Outra mudança que a movimentação nordestina trouxe para o Sudeste foi o rejuvenescimento do público dos grupos e cantores que já estão na estrada há décadas. "Antigamente era comum se discriminar o forró, só quem gostava de ouvir e dançar era o pessoal de meia-idade pra cima. Hoje a juventude está prestigiando mais e isso é muito importante, pois por onde passamos somos bem recebidos", diz Coroné, integrante original do Trio Nordestino. O grupo faz parte da primeira geração de trios - com Lindú e Cobrinha em sua primeira formação, surgiu em 1960, em Salvador. Hoje, Luis Mário (filho de Lindú) e Beto, ao lado do veterano Coroné, chegam ao 38º disco, Balanço Bom . Animado com a boa fase, o zabumbeiro avisa que o Trio está com as malas prontas para ir para os Estados Unidos, onde fazem shows em Nova Iorque, Nova Jersey, Boston e Miami. E opina sobre a nova geração: "Acho que as gravadoras pegam os grupos que tem mais condições de mostrar um bom trabalho, os que têm uma estrutura maior". O Trio Virgulino, formado em São Paulo na década de 80 pelos pernambucanos Enok Virgulino, Roberto Pinheiro e Adelmo Nascimento, é outra referência para os jovens músicos. O CD Coração Feliz engrossa o caldo dos lançamentos, com a maioria das composições assinadas por Enok e parceiros. Mesmo contando com alguns músicos convidados, os arranjos mantém o clima cru de pé-de-serra.
Feito Brasileiro é o terceiro trabalho de Miltinho Edilberto, que tem despertado admiração em nomes como Maria Bethânia, com quem faz dueto na faixa Água e Azeite. "Há nove anos, quando comecei, não havia esse movimento de forró no Sudeste, por isso me considero precursor", afirma. Ele ressalta que, além de músico, cantor e compositor, é folclorista, o que dá ao seu trabalho uma amplitude diferente. "Pesquiso ritmos do Brasil, principalmente os do Norte e nordeste. O forró é apenas uma das coisas que faço". A voz de Miltinho é outro destaque, resultado da escola que fez como crooner. Aliada à experiência como compositor - "componho desde menino" -, o resultado é de músicas diferentes, com propostas harmônicas variadas. "Bethânia, Sérgio Reis, Tânia Alves, Paulinho Pedra Azul e até o Harmonia do samba já gravaram músicas minhas", orgulha-se. O quesito "participações especiais" está bem curioso nos lançamentos da Abril. O CD do Trio Virgulino traz participação do Falamansa. O mesmo Virgulino e o Rastapé estão no CD do Trio Nordestino; o Falamansa e o Virgulino estão no de Miltinho Edilberto. E este último colabora com músicas no repertório dos trios. Tudo em casa...
De novidade, a Abril chega com o Peixelétrico, que surgiu nas ondas do Guarujá (SP). "Eu, Ricardo e André curtíamos a praia e tocávamos nos luaus. Depois começamos a trabalhar sério e, com a chegada dos outros (Teodoro, Nenê e Ricardo China) formamos o grupo", conta o acordeonista de 22 anos Marcelo Jeneci. O primeiro CD escapa da tendência da regravação de sucessos: todas as músicas são de autoria do vocalista Ricardo Trip. "Desde o ano passado vínhamos fazendo shows com esse repertório e a receptividade sempre foi legal. Então foi uma coisa natural fazer o CD só de inéditas", diz o compositor. Algumas letras mais engajadas e a influência do reggae também dão um diferencial ao trabalho do Peixelétrico. "O bom da gente é a mescla entre baião, maracatu, forró, rastapé, blues e reggae. E as letras têm uma vibração muito boa, falam pro cara se ligar, falam de felicidade", opina Jeneci. "Sou formado em história na USP, mas a questão social é uma coisa que me acompanha há muito tempo: meus pais participaram do movimento político contra a ditadura", detalha Trip. Os integrantes têm consciência de que se não fosse toda essa movimentação do forró, teria sido bem mais difícil conseguir gravar um contrato com uma gravadora. "Acho que o nosso destaque na mídia e a nossa mistura de ritmos chamou atenção. Mas é claro que a gravadora percebeu que se investisse na gente ia rolar grana", diz Geneci. O músico confessa que, a princípio, a idéia do grupo era a de gravar com sua própria formação. "Não estava prevista esta variedade de instrumentos, todos esses arranjos. Foi sugestão da gravadora e o disco acabou ficando bem pop", revela.
O Guentaê foi outro a aceitar "sugestões" da sua gravadora. Mesmo tendo mais de 300 composições próprias, o vocalista Klefour Nunes diz que o grupo topou na hora quando a Universal indicou Mais Uma de Amor (Geme-Geme) - sucesso da Blitz - e Maçã do Rosto, de Djavan, como boas idéias de regravação. Dez faixas do CD Sapatilha 37 são próprias e duas de autores pouco conhecidos. "Eu comecei escrevendo as letras e imaginando o som, aos 12 anos", conta Klefour, que tocava MPB com o baixista Dalton em barzinhos de Campinas. A oportunidade de tocar com a formação atual surgiu de sopetão, quando uma banda desmarcou um show em julho do ano passado. "O pessoal do clube perguntou para o Gláucio se ele conhecia alguma banda para preencher o lugar e ele disse que sim, pensando na gente! Isso foi às 18h do dia anterior ao show. Conhecemos o Tadheu neste mesmo dia, ensaiamos meia hora e o pessoal adorou a apresentação", lembra. O nome da banda veio deste sufoco, quando entre uma e outra sugestão, Klefour falou "Peraí, guentaê!".
Para escapar das inevitáveis comparações, Klefour defende-se dizendo que não havia referência de outras bandas quando o Guentaê começou, a não ser os trios tradicionais. "Eu e Dalton participamos de outras bandas, o Gláucio é artista plástico, faz seus instrumentos; Rodrigo tocava percussão em um grupo de pagode. O nosso destaque é também devido ao Thadeu, um dos sanfoneiros mais jovens, com 19 anos, e por termos nossas próprias músicas", enumera. A banda clama para si mais um mérito, o de ter tocado tudo no CD. "Os únicos convidados foram o Kleiton 'Pivete' e as meninas do coro", ressalta Klefour.
Outro grupo que chega valorizando suas próprias composições - no caso, assinadas pelo vocalista Giovani Calmon - é o Chama Chuva . Os mineiros foram descobertos pela EMI e se adequam ao clima reinante do forró universitário. Letras que invariavelmente falam de amor e arrasta-pé no meio do salão. A diferença é o violão e a percussão que se juntam ao básico zabumba-triângulo-sanfona. Enquanto isso, regravar sucessos parece não ser problema para Os Filhos da Mãe . A primeira faixa - A Cera, do grupo O Surto - já permite uma idéia aproximada da proposta descompromissada dos paulistas. E seguem os clássicos Pequenininha, Eu só Quero um Xodó, Zé do Rock, Sabiá e Forró Desarmado. De autoria do vocalista e parceiros, só A Jeguelina e Casa, Comida e Roupa Lavada. Eles ainda herdam um vício corrente entre os chamados "grupos de teclados", do tipo Mastruz com Leite: tal qual um reclame, falam o nome do próprio grupo em todas as músicas.
Entre tantas novidades, ao se deparar com Lembrando de Você , novo disco de Dominguinhos, o contraste é grande. O compositor, cantor e sanfoneiro já completou 50 anos de carreira, tempo suficiente para ver todo tipo de modismo e oportunismo. E sempre foi afiadíssimo na questão qualidade musical. "Acho que esse estouro da música nordestina se deve mais aos trios", opina, modesto. Dominguinhos lembra que costuma lançar um CD por ano, sempre entre os meses de abril e maio. "Desta vez atrasou um pouco para as festas juninas... Mas eu não me incomodo com épocas", diz, tranqüilo. Ele só reclama um pouco quando o assunto são seus discos de boleros e canções, projetos que amadurece há algum tempo. "A gravadora tem colocado algumas dificuldades para fazer esses discos. Mas não tem problema, se não quiserem, faço por minha própria conta", avisa.