Pagodeiros solo voam baixo

Ex-vocalistas do Art Popular e Karametade tentam repetir o sucesso

Marco Antonio Barbosa
25/05/2001
Você já viu esta história. O grupo de pagode começa a fazer sucesso, pintam milhares de shows, programas de TV, estrelato e coisa e tal. Daí, o vocalista principal do grupo resolve pedir o boné e partir, no melhor da brincadeira. O último a tentar este pulo do gato foi Leandro Lehart, do Art Popular - que anunciou sua saída do grupo há poucos dias. Em evidência junto a Lehart no front dos pagodeiros desgarrados está Vavá, ex-Karametade, que acaba de lançar seu primeiro disco solo depois que deixou o grupo (em fins do ano passado). E também não faz muito tempo que Salgadinho largou o Katinguelê para perseguir planos individuais. Mas o fenômeno não chega a ser novo e parece ter se inspirado no sucesso que o cantor Belo (ex-Soweto) amealhou depois de sair em carreira solo, também no ano passado.

"Saí do grupo para ter mais espaço para experimentar. Gosto muito de fazer misturas sonoras, mas seria um perigo para o futuro do Art Popular colocar ainda mais experimentações nos CDs", diz Leandro Lehart. Isso contraria o que ele mesmo disse em janeiro, quando lançou seu primeiro disco solo (intitulado apenas Solo amostras de 30s). O álbum trazia passeios por vários estilos além do pagode, como a black music e o legítimo samba-rock dos anos 70, com o auxílio de Max de Castro. A mistura não agradou ao povão: Lehart caiu das 250 mil cópias vendidas (com Acústico MTV amostras de 30sdo Art Popular, lançado ano passado) para meras 10 mil.

"As pessoas estão mais preocupadas em vender discos e só fazem se repetir, porque assim chegam mais rápido ao público. Mas eu gosto de dar um choque nas pessoas. Quero que estranhem mesmo", espinafra Lehart. Campeão de arrecadação de direitos autorais com as músicas que fez para o Art e para outros grupos de pagode, Leandro sai do grupo mas não larga (totalmente) o osso. "Vou continuar produzindo o Art Popular e compondo para eles", afirma. Só de direitos, Lehart recebe uma bolada aproximada a R$ 60 mil, todo mês.

Pagode ou bregode? Vavá decide
Ele foi o homem responsável pela versão pagode de Morango do Nordeste, que assolou FMs e AMs no ano passado. Depois de fazer bastante sucesso com seu grupo Karametade, o cantor Wagner Duarte - Vavá, para os íntimos - não teve uma saída tão "doce" de sua antiga banda. No final do ano passado, o vocalista deixou o grupo soltando frases como "Cansei de trabalhar duro enquanto uns e outros ficavam só tomando cerveja nas minhas costas".

Vavá agora tenta alçar vôo solo com seu primeiro disco, intitulado... Vavá amostras de 30s. Na hora de definir seus novos rumos, Vavá toca um apito parecido com o de Leandro Lehart, pelo menos no discurso: "Meu disco solo não é só pagode. Faço uma mistura de samba, soul e pop". Na verdade, o que se ouve no CD não difere muito do som do Karametade, um refogado indefinido da dita "música romântica" com pitadinhas de samba ao fundo.

Para evitar o fracasso que acometeu o disco solo de Leandro Lehart, Vavá conta pelo menos com um ingrediente popularesco em seu CD: uma música composta por Sandy, Me Liga. "Não gravei porque Sandy é uma cantora de sucesso. Gravei porque a música é muito boa. Quem sabe eu não coloco uma música num disco dela um dia", fala Vavá, esperançoso. Assim como o Art Popular, o Karametade segue firme e forte, apesar das rusgas com o ex-vocalista. "Outro dia sonhei que encontrava com eles e abraçava todo mundo. Tenho problemas com pessoas do grupo que não foram profissionais como deveriam, mas torço pelo sucesso do Karametade", fala Vavá.