Paralamas do Sucesso: volta por cima ao vivo

Grupo festeja a recuperação de seu líder Herbert lançandoUns Dias, pacote com CDs e DVD

Marco Antonio Barbosa
07/04/2004
Não se pode dizer que os Paralamas do Sucesso estejam mal-representados em termos de discos ao vivo. Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone já lançaram outros três registros de shows (Douvir 30s, 1987; Vamo Batê Lataouvir 30s, 1994 e Acústico MTVouvir 30s, 1999), cada um pegando um momento bem distinto de sua carreira de mais de 20 anos. O que não quer dizer que Uns Dias ao Vivo, quarto ao vivo (de um total de 16 álbuns) não mereça lugar de destaque na trajetória do trio.

Depois de tudo o que aconteceu com a banda nos últimos anos - o dramático acidente com Herbert e sua espantosa, mas ainda em curso, recuperação - o álbum ao vivo tem sabor de celebração de vida. Gravado no Olympia (São Paulo) em um único show, em novembro do ano passado, Uns Dias repisa todo o repertório dos Paralamas com direito a vários convidados especiais. Uma festa para Herbert, um reconhecimento ao esforço (recompensado) da banda para manter-se ativa e também mais uma comprovação da já legendária força do PDS sobre o palco.

O disco também é marcante pela multiplicidade de formatos que terá, em esquema inédito no mercado nacional. A gravadora EMI vai lançar Uns Dias ao Vivo como CD duplo (26 faixas, em edição limitada), CD simples (14 faixas, com um best-of do repertório do duplo), DVD (com todo o repertório, mais extras como making-of e entrevistas) e um pacote CD simples + DVD. Os preços sugeridos vão de R$ 30,50 (pelo CD simples) a R$ 58,90 (pacote).

O álbum começa bem roqueiro, com guitarras em primeiro plano e a voz de Herbert (mais grave e rasgada) conduzindo a banda. Solos distorcidos dominam desde as pesadas O Calibre, Que País É Este e Mensagem de Amor até as mais sutis Soldado da Paz e Trac Trac. Apenas em Seguindo Estrelas a banda pisa no freio, desacelerando para Cuide Bem do Seu Amor, Longo Caminho e Tendo a Lua - mas com direito a uma Meu Erro quase hardcore no meio.

O tom pesado se repete também no disco dois, contaminando Caleidoscópio, Dos Margaritas, Ska e a reprise de Mensagem de Amor (esta ainda mais pesada, com a presença de Andreas Kisser, do Sepultura). Mas no segundo CD estão os momentos mais plácidos, como as doces Ela Disse Adeus e La Bella Luna, a balançada Uma Brasileira e a balada Lanterna dos Afogados. Ao final, com a farra de Lourinha Bombril, constata-se que não é qualquer ultraleve que pode derrubar a excelência do espetáculo paralâmico.

A participação especial mais marcante é, ironicamente, a do convidado que menos tem a ver com a história da banda: o rapper Gustavo Black Alien, que manda o bom ragga-rap Filho Pródigo para encerrar o medley de Será que Vai Chover?/Assaltaram a Gramática. Num álbum eminentemente roqueiro, os guitarristas Edgard Scandurra e Frejat tiveram mais a dizer.

Edgard contribui decisivamente em Running on the Spot (cover do The Jam, paixão de adolescência do guitarrista do Ira!) e Trac Trac, enquanto Frejat entra em Uns Dias e Caleidoscópio. O velho escudeiro Dado Villa-Lobos pontua em Que País É Este e Soldado da Paz, repetindo sua intervenção no Acústico MTV. Djavan, meio deslocado, canta em Uma Brasileira, e Nando Reis não chega a fazer diferença na chatinha Tendo a Lua.