Paula Lima pede passagem outra vez

A cantora lança seu segundo álbum solo, e investe fundo na cruza entre soul, samba, jazz e funk

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
11/06/2003
"Sou neguinha, eu sou guerreira/Eu sou bacana/pro que der e vier/Mas não pense que por isso vou dar mole/porque sou mulher". Esses versos são extraídos da única canção que Paula Lima assina (em parceria com Seu Jorge e Zé Ricardo) como compositora em seu segundo disco solo - que acaba de sair pela gravadora Universal. E os versos funcionam com um recado da cantora para o mundo. No novo trabalho (que traz como título apenas seu nome), Paula reafirma sua identidade musical, composta, a saber: soul, samba, jazz e funk. "É um repertório inventivo", garante Paula sobre seu retorno, cerca de dois anos depois de lançar a estréia solo, É Isso Aí! ouvir 30s.

Antes de mais nada, Paula refaz a trajetória que a levou da indie Regata Discos até a poderosa major Universal Music, ponte feita pelo empresário Manuel Poladian. "Conversando com o Marcelo Castelo Branco (presidente da Universal), o Poladian sugeriu meu nome - que, segundo ele, foi aceito em segundos!", orgulha-se. A busca por uma maior estrutura, com distribuição ampla e acesso mais fácil à mídia e à realização de shows pelo País, pesou muito para Paula fechar o contrato. "Mas gosto sempre de ressaltar que sou muito grata à Regata, pois foi com o primeiro disco que alcancei visibilidade", diz.

Os que já conheciam Paula Lima dos tempos de crooner do grupo Funk Como Le Gusta e mesmo do disco anterior, podem estranhar, à princípio, o clima do novo trabalho, que traz muitas baladas. Mas Paula garante que seu lado groove ainda bate mais forte. "São 12 faixas. Destas, oito são balanços", defende-se. E justifica: "As baladas que escolhi são muito profundas, têm o que dizer, e sem drama, que é uma característica da qual fujo sempre. Procurei dar a elas uma feminilidade, um sentimento, mas sem tristeza". Esse clima serviu também para explorar um outro lado da voz de Paula. "Sempre senti minha voz um pouco como instrumento também. Esse disco reflete uma maior maturidade, o que me permitiu trabalhar de forma diferente, explorando as nuances", explica.

O CD tem 14 faixas (dois remixes), a maioria sugerida pela própria Paula. "O repertório foi selecionado após várias reuniões. O Max Pierre (diretor artístico) chegava para mim, animadíssimo: 'E aí, trouxe muita coisa?'", conta. mas sugestões não faltaram: "O Ricardo Moreira (gerente artístico) me apresentou o Eugênio Dale (autor de Pactocombaco), um compositor forte e inteligente; o Bocato, um instrumentista da nova cena paulista, sugeriu Moonlight Serenade (de Glenn Miller), que virou Serenata do Luar. Eu adorei, pois é uma música que cresci ouvindo".

Em relação às versões inéditas - ela gravou também The Look of Love, original de Bacharach/David, aqui transformada em O Olhar do Amor -, Paula diz que houve uma total atenção quanto aos versionistas. "Carlos Rennó e Dudu Falcão foram ótimos", elogia. Paula comenta mais algumas faixas: "Marcos `Xuxa' Levy e Walmir Borges fizeram Segunda Via para mim, só depois que o Dudu Falcão colocou a letra. E foi Xuxa quem redescobriu Valerá a Pena (Dorival Caymmi). Quando ele me mostrou, quase passei mal de emoção", exagera.

A cantora não se esquece de comentar sua satisfação em trabalhar com o produtor Guto Graça Mello. "Eu tinha um certo receio, pois não o conhecia pessoalmente, só a sua fama, e pensava como iria me adaptar. Nunca imaginei, por exemplo, que iria fazer arranjos com Lincoln Olivetti, o que foi uma sugestão dele. Guto teve um papel fundamental no trabalho, acreditou em meu potencial, tanto que acho que esta parceria é para o resto de minha vida! ", conta. A contribuição de Guto é notável especialmente nos arranjos de sintetizadores e sopros, que ganharam um sabor retrô, bem ao estilo funk/r'n'b dos anos 80. A reverência à dupla Olivetti/Robson Jorge - considerada por alguns como sinônimo de "pasteurização" via teclados - se concretiza na regravação de Estou Livre e Foi Para o Seu Bem, aqui transformados em legítimos exemplares de soul brasileiríssimo.

Apesar de reconhecer o débito com Graça Mello, Paula não deixa de afirmar também sua independência. "Na época do primeiro disco, eu estava totalmente dirigida pelo Bernardo (Vilhena, diretor da Regata) e pelo Max de Castro (produtor de É Isso Aí!). Quer dizer, mesmo com meu tempo de estrada ao longo dos anos 90, ainda não me sentia a vontade pra tomar todas as decisões", narra a cantora. "Mas agora, principalmente depois da minha primeira turnê solo, fiquei muito mais escolada. Montei minha própria banda e me sinto muito mais segura até em relação a minha interpretação."